terça-feira, agosto 19, 2014

De cadernos


Acho que estou deprimido.
Tão estranha esta conclusão. É o que me diz meu namorado, o que me dizem meus pais. E acho que estão certos, tanta apatia devia mesmo ser estranhada, tanta dificuldade em conseguir saber o que quero e lutar pelo que quero não deve ser normal.
Cada vez mais só tenho ânimo para ir para casa, ficar lá, ser esquecido...
A minha vida toda esperei que viessem por mim, e na maioria das vezes essa atitude foi um problema. Está sendo um problema.

Então resolvi buscar ajuda, de alguém que pudesse me levar adiante - qualquer adiante - e me fizesse entender tudo de novo, ganhar perspectiva. Todos têm me ajudado bastante, mas pouco tenho me movido.
Até que lembrei de pedir ajuda para a única pessoa no mundo em quem eu confio absolutamente, a única pessoa que entende quem sou e o que estou passando no momento (porque entender é sempre o mais complicado):
Eu mesmo.
Tenho lido cadernos e diários antigos, e ainda estou chorando, um pouco de alegria. Estou relembrando de coisas que tinha esquecido e que servem exatamente para o momento atual; citações e frases de ordem que eu deveria estar ouvindo gritadas ao meu ouvido para acordar.
Aliás, acordar talvez seja exatamente a palavra. A última anotação em um dos diários, logo antes deu parar de escrever diários, diz: Eu sinto que estive dormindo este tempo todo.
E antes disso, haviam lutas maravilhosas, como as que eu quero lutar agora. Pensamentos, medos, e relatos assustados de pequenas coragens que são exatamente o que preciso no momento (coragens). Estava tudo nos cadernos.
Eu sempre soube quem eu era, o que eu deveria fazer, onde ir, o que escolher. Acho isso estranho agora, como era bem resolvido desde a infância, e planejara tudo. Eu sempre soube porque estava vivo. Todos têm me ajudado bastante, mas foi preciso ouvir os conselhos escritos (e esquecidos) pelos meus próprios punhos para me lembrar disso.
Não sinto, ainda, um ânimo para realizar o que me proponho, mas sei, racionalmente, qual é a escolha a ser feita. Então é isso que decidi fazer, seguir o plano da pessoa que eu fui um dia, sem esperar pelo fim natural do desespero. Acho que é esse o caminho: saber e caminhar. Ser o que quero ser antes de esperar pelo momento adequado, que muita empolgação não tem me servido para nada.