terça-feira, junho 30, 2009

Últimas Tentativas...

Atravessava paredes de água;
Tudo o mais era vulgar, incoerente.
Nisso existia um por quê. Existia uma sabedoria realizada.
Era a pessoa que atravessava paredes de água, uma após a outra, sem respirar, com muito prazer, com uma delicadeza artística. Parede


As Duas Cavas
Contornaram a estátua do grande deus pela direita, porque lhes pareceu mais auspicioso.
Estavam andando a muito tempo, mas quanto tempo seria? Dias talvez, mas como precisar sua quantidade?
Sentavam-se em pedras para descansar e deitavam sob elas para dormir. Tinham fome constantemente mas nunca nada para comer. Exceto alguns lagartos, que cozinhavam em um fogo tímido e doentio.




- O que eu sinto é uma náusea enorme Haccu. Eu não consigo continuar! Eu não consigo, eu não consigo. Pensar em tudo é horrível, qualquer coisa me deixa enjoada. E a tristeza é enorme. É possível viver com essa tristeza?
- Eu te ajudo a continuar.
- Não dá
- Eu te carrego até o fim.
- O fim é aqui. Eu prefiro morrer.



Mas ele era vaidoso. Não podia enxergar sua ruína porque tinha certeza de que superaria-a no futuro. Estava tão envolvido com os projetos que faria que não percebia que não realizava nenhum deles. Porque quando se olhava no espelho dizia "Eu vou, eu vou".
Dito isso, como fazê-los gostarem de mim?



Rosualdo voltou para casa depois de ter sido devorado pelo dragão e ficou parado diante da varanda.
Seu primo olhou para ele com suspeita. O herói estava... diferente.
- Não há por que temer o dragão! - ele falou - Vocês todos devem vir e fazer o mesmo que eu, vocês todos devem morrer também.
- Ele está louco - falou sua irmã, as mãos desesperadas alcançando o rosto.


Era uma vez.

Então ela disse:
- Eu vou embora
- Para sempre? - ele peguntou e o que ela mais gostaria era de responder que sim.
Seus olhos eram terríveis. Evitavam-na.


Através da névoa me pedem a voz.
Sobre o que deveria falar? Sobre os heróis, o que aprenderam, como venceram, por que lutaram?
Ou sobre o gosto que tem a manga. Os insetos que cantam nos arbustos quando a tarde é fresca. Sobre quando eu era criança. Os carneiros que andam na pastagem. As roupas macias que raspam no corpo dos viajantes, as longas botas marrons que pisam por sobre a lama da estrada.
Cai a chuva e vem o sol.
A luz é clara e tudo o que ela toca se torna visível. Como antes das tempestades, quando o céu se ilumina verdadeiramente.


Falkwer emerge e não há nada lá.

segunda-feira, junho 29, 2009

Sobre a Greve

Retirado dos Analectos, compilação da filosofia de Confúcio (500 a.C.):

17.8 - O Mestre disse: "Zilu, já ouviste falar das seis qualidades e suas seis perversões?" - "Não." - "Senta-te, eu te contarei. O amor pela humanidade sem o amor pela aprendizagem degenera em tolice. O amor pela inteligência sem o amor pela aprendizagem degenera em frivolidade. O amor pelo cavalheirismo sem o amor pela aprendizagem degenera em banditismo. O amor pela franqueza sem o amor pela aprendizagem degenera em brutalidade. O amor pela coragem sem o amor pela aprendizagem degenera em violência. O amor pela força sem o amor pela aprendizagem degenera em anarquia.

Comentário do tradutor Simon Leys:
17.8 - O amor pela humanidade sem o amor pela aprendizagem degenera em tolice: quem duvida da permanente relevância desta observação deve observar as atuais momices da grande variedade de ativismos bem-intencionados mas ignorantes, tão em voga! A gentileza desinformada pode causar mais estragos do que a maldade deliberada. Por uma estranha lógica, porém, supões-se muito freqüentemente que a gentileza deva por si só implicar uma desobrigação automática de inteligência - considerando que estas duas qualidades estão de fato relacionadas. "A gentileza natural é rara, somente a inteligência pode gerar gentileza" escreveu Jules Renard (Journal, entrada de 5 de abril de 1903); a mesma idéia foi reiteradamente desenvolvida por Proust. E Unamuno repreendeu Cervantes por ter escrito que Sancho "era um bom homem, mas não tinha cérebro" - como se a gentileza e a estupidez fossem compatíveis: "Não se pode ser tolo e bom." (Miguel de Unamuno: Vida de Don Quijote y Sancho, I,7)


Não consigo apoiar um movimento social que comece parando com as aulas.

quinta-feira, junho 25, 2009

O Fim

As rochas, as torres, as passarelas de concreto, os túneis, os flancos, os altos muros e as casas espalhadas. O palácio, o castelo, o fortim e os pátios; os quartos, as câmaras, a adega e as arcadas.
Tudo ruía.
Só quinze sobreviveram da queda total. Embarcaram em um barco que já era um destroço e navegaram para longe. Cruzavam com as rochas que caíam do céu, este que era também um teto despedaçando. Caíam as rochas na água morna e pálida, levantando ondas no oceano moribundo.
Os quinze guardavam uma estrela. Um deles a segurava firme contra o peito.
Contra a fumaça branca avançavam.
Depois deste mundo terminar, iriam atrás da Ilha Desconhecida.

terça-feira, junho 23, 2009

A Forma de um Rinoceronte

Andou pela cidade preocupado e sozinho. Remoía na cabeça o que iria dizer quando chegasse em casa. Será que diria que esteve na rua, ou inventaria alguém que lhe fizera companhia?


Tomou café sozinho.
etc.



Era tudo muito difícil.

Para ele, a felicidade tinha a forma de um rinoceronte.

terça-feira, junho 16, 2009

A cidade fecha suas portas.

As brumas cobriram a cidade e a chuva caiu. Ele subia o rio como se atravessasse uma comprida cortina, de tão forte que era a água caindo. Ao redor da canoa, a água estava imóvel onde não caiam gotas, todas as ondulações e correntes desapareciam da superfície.
Olhou para as árvores e desejou se refugiar embaixo de suas copas.
Ainda tentou usar o remo quebrado, mesmo sabendo que era inútil.
Preparou-se para entrar na cidade. Não seria visto por trás das portas fechadas e da neblina úmida.
Sentiu vontade de dizer algo em voz algo, algo verdadeiro e belo.
"Estou cansado. Gostaria que tudo fosse mais fácil mas não é. Estou atravessando a cidade no meio da bruma e da chuva caindo. Não é uma tempestade. Não é a felicidade."

quinta-feira, junho 11, 2009

2009 Brazil's International Kung Fu Championship Tournament

Estou convidando todos vocês a assitirem ao campeonato brasileiro de Kung Fu, que vai acontecer neste fim de semana, sábado e domingo.
Podem ir a hora que quiserem, entre 10:30 da manhã (quando da abertura, com apresentações especiais como a Dança do Leão chinesa) até as 18:00 da tarde. O tempo todo estarão acontecendo apresentações, mas eu sugiro irem no domingo, quando os mais graduados se apresentam.
Eu vou estar trabalhando lá, como árbitro das formas, então venham assistir!
É no ginásio Mauro Pinheiro, rua Abílio Soares 1300, ao lado do Parque Ibirapuera.

quarta-feira, junho 10, 2009

A Viagem de Salvatore

Jean-Claude Carrière

"Num de seus livros, Umberto Eco conta a seguinte história, sobre a qual diz que poderia ter se desenrolado na sua própria cidade natal, no norte da Itália.
Com vinte anos, Salvatore deixou sua pequena cidade, onde jamais acontecia nada, e foi viver na Austrália durante quarenta anos. Com sessenta anos, a vida realizada, ele voltou para casa de trem. Enquanto se aproximava da estação, ele se perguntava, não sem emoção, se reencontraria os amigos, se eles o reconheceriam, se lhe pediriam para que contasse suas aventuras. E aquela moça que...? E o dono do armazém da esquina da rua? E assim por diante.
O trem parou na pequena estação, Salvatore desceu e viu a alguma distância um homem pequeno curvado, um funcionário. Apesar da silhueta arqueada e das rugas, Salvatore o reconheceu: Giovanni, seu antigo colega de classe! Ele acenou, aproximou-se todo emocionado, mostrou o próprio rosto com uma mão trêmula, como para dizer: "Veja, sou eu". Giovanni levantou os olhos, olhou-o por um instante, sem mostrar surpresa, depois o cumprimentou com um pequeno movimento de cabeça e disse-lhe:
- Ora, Salvatore, o que está fazendo aí? Você vai embora?"

segunda-feira, junho 08, 2009

São Paulo

Acho que pela primeira vez eu posso dizer que tenho um segredo para este blog. Antes eu contava tudo aqui, nem que fosse cifradamente, por histórias.
(E o mais engraçado é que eu só percebia que estava falando de algo meu depois de terminar a história)
Mas agora... agora eu tenho um segredo. Um segredo bom, mas que me fez chorar muito. E olha que é muito difícil me fazer chorar.
Bem, eu só estou escrevendo isso para dizer mesmo.
Para dizer que eu realmente precisava de um amigo agora.