segunda-feira, maio 26, 2008

Silêncio e Histórias

Sinto flutuarem por aqui algumas imagens. São o vento, a noite, uma necessidade e uma fruta. São histórias, escondidas. Ou momentos, elementos, partes do que poderia ser uma história completa.
Tudo é feito leve e delicadamente. Aos poucos pousam as imagens e eu fico pensando em como usar as palavras para falar do país distante e da moça de dedos finos.
Espero o momento em que o sol se põe e o mundo começa a esfriar. Chega o céu vermelho e é o momento exato, o instante de falar.
Estrela.

terça-feira, maio 13, 2008

Elementos

Antes que pudesse reagir.
Logo ao amanhecer.
Irracional, iracundo, resilente.
A árvore ficava no centro da cidade.
Uma cidade feita de areia, com um grande pináculo no centro, onde se erguia um gigantesco espelho que mostrava, em sua superfície serena, uma cidade parecida mas não igual à esta na qual transitavam pessoas e roupas similares mas não exatamente estas. Era a porta para uma cidade correspondente, poderíamos dizer. Um espelho não só do contrário, mas muitas vezes do duplo, do outro que nós também somos.
Um mar vermelho e flutuante.
Sempre que a canção soava seu coração se alarmava e as vozes que antes eram calmas ficavam agitadas e ele perdia o próprio som e o controle da voz.
Um povo feito da brisa fria que o gelo traz.
O rugido constante já incomodava seu ouvido, a caverna não abandonava seus pensamentos de modo algum.
Debaixo da árvore, a mulher esguia cantava e sua voz, na noite, era o vento nas copas ou o silêncio que precede o adormecer.
Uma cidade feita de gelo, com um grande monumento no centro, sobre o qual estava pousado um enorme espelho cuja superfície registrava uma cidade parecida, mas não igual à esta. Onde casas e rotas mercantes também estavam, mas as portas abriam para lugares diferentes e as caravanas voltavam de outras regiões. Não o nome invertido, mas trocado, secretamente residindo dentro da voz original.
Um rio de cores.
A pianola registrava os sons ferozes que despertavam das mãos da professorinha de piano. De onde saía tanto bramido?
O homem que a seguia também parou. Por um momento a olhou diretamente antes de erguer o jornal e se esconder atrás das folhas de reportagens.
Afagou o pelo macio e se sentiu afundar no amor por aquele animal tão pequeno.
Como era antes? A música escutada toda noite, os bailes onde se reuniam, o silêncio maior dos lares, as noites mais escuras e sem as eletricidades extravagantes de hoje.
Os patos voavam. Era assim mesmo que parecia, por sobre a superfície da água que refletia o céu. E tinham um jeito tão curioso de voar! Com o corpo retraído e asas fechadas. Dava esperança a um humano, que nunca teve asas e só podia sonhar e fingir que voava sem precisar delas.
O fim do caminho era um bosque assustador.
O fim do caminho era a rosa vermelha em cima da mesa quando voltou.
O fim do caminho foi quando o iogue terminou sua história. Arrumou suas malas, foi para casa e resolveu o temido assunto no teatro público.
Apagaram-se as velas.
Começou um burburinho intenso no palácio.
Dizia o alquimista que o mundo era feito de quatro elementos, mas nós sabemos que são muito mais e que são quase incontáveis e maravilhosas as coisas que o mundo pode produzir.

quarta-feira, maio 07, 2008

O relato de um bardo

- Eu vim do norte, agora mesmo, acabo de chegar, e posso te dizer que a situação lá está terrível, é mesmo de assustar, mas o que se pode fazer, sendo tudo um efeito natural não tem como parar ou deixar de ser, o modo é viver ao seu redor e tentar levar ao máximo nossas vidas sem que isto não nos atrapalhe.
- Os vulcões entraram em erupção?
- Entraram todos, explodiram em urros e jorros e mais fogo e fumaça do que poderíamos imaginar. Começou a estação quente, começou cedo, estão todos já a espumarem e cuspirem seu fogo.
- Preciso perguntar só mais uma coisa: você acredita ser possível para pessoas, que estão agora neste exato momento lá no norte, se salvarem e conseguirem voltar para cá?
- Impossível, meu caro, Migorãn está fechada. Não há modo algum de se passar pela cortina de magma que está se levantando. O melhor a fazer é deixar estes seus conhecidos encontrarem algum abrigo e esperarem enquanto se passa o pior. Talvez em uma semana - duas se a fúria dos vulcões for tão fote quanto foi adiantada este ano - eles possam caminhar para cá, apesar de ser perigoso; como foi que conseguiram ser pegos no olho da tempestade? Todos sabem que devem voltar antes da estação quente. Eu mesmo fui pego desprevenido, por pura preguiça de não ter voltado mais cedo.
Fren e Mellock se entreolharam, procuraram um balão e voaram naquela tarde mesmo.