sábado, junho 30, 2007

Olhai a água e guardai as lástimas. Porque o fim se aproxima.


Giovanni tirou mais um balde de água do pequeno barco, e sentiu que o afundar era inevitável. Não importava quanto tentasse, nunca esvaziaria o barquinho - não quando um oceano inteiro forçava sua entrada e molhava seus pés.
O gato ao seu lado miou preocupado. Era o mesmo gato que estivera acompanhando o jovem herói antes, mas depois do naufrágio todos se perderam e se separaram - além do mais, Giovanni não era um dos acreditavam que animais falavam, por isso o gato apenas miou preocupado, sem adicionar mais nenhum comentário em fala humana.
O balde ia e vinha com rapidez. Estava exausto, mas continuava a jogar água para fora. O oceano a sua volta preenchia o mundo.

Na noite do sétimo dia chegaram a uma pequena ilha. O gato sumiu entre os coqueiros logo que o barquinho atolou na areia da praia. O mar estava iluminado por uma luz assombrada, de lua quase cheia. Giovanni quis cair exausto ali mesmo, mas puxou o barco para a praia e se forçou a um trabalho extra de pegar frutas nas árvores. A maçã tinha um gosto ácido demais, inculto. Caiu na areia mesmo, e dormiu por um dia inteiro.
Passou a semana seguinte na ilha, esperando ser resgatado, e descobriu muitas coisas interessantes, que o ajudariam em sua busca.

Algumas semanas depois, quando Giovanni estava na Piazza della Veritá em Roma, ouviu sair da boca de pedra a voz que ouvira na ilha. Foi assim: estava inclinado para beber a água clara que saía da fonte no lado norte da praça quando a boca - de onde jorrava o líquido puro - falou com uma voz serena e grave, pedindo que Giovanni continuasse sua busca.
Enquanto estivera na ilha, escutou uma noite essa mesma voz chamá-lo tirando-o de seu sono. A voz cantava, serena e grave, pedindo que fosse até a nascente do pequeno rio. Giovanni andou pela floresta escura, em uma noite quase assombrada de lua cheia, pisando em galhos e folhas caídas (perdera seus sapatos no naufrágio) e chegou até a água fresca que saía de uma rocha.
A voz disse:
- Procure a estrela do norte. Ela está lá.
Giovanni quase caiu de joelhos. Ergueu as mãos e agradeceu o céu pelo milagre. Esteve procurando por tanto tempo que mal podia acreditar que ela, que Jasmine! estava... Seria possível? Muito obrigado meu Deus! Na estrela do norte, não foi isso que ouvi? Um milagre!... Mas, e se tudo não passou de uma ilusão? Estou nessa ilha há tanto tempo, vivo com fome e cansado. Seria...? Não, não posso pensar assim. Jasmine me espera, eu prometi. Obrigado ó céu pelo milagre.
A resposta foi a silêncio da noite, acompanhado de um miado tímido do gato que estivera sumido.
E, depois, de volta ä Roma, Giovanni ouvira de novo, saindo da boca da fonte da Verdade.
- Procure a estrela do norte. Ela está lá.
Para Deus tudo era possível, todo lugar um só.
A bem da verdade, depois de resgatado da ilha Giovanni tentou não pensar no assunto. Podia-se dizer que desistira. Afinal, como faria para chegar tão longe quanto a estrela do norte?
Ficou deitado no meio da praça. A voz voltara a avisá-lo e ele tentava não dar ouvidos. Onde ficara seu amor por Jasmine?
Lamentou. Lamentou profundamente a água que jorrava da fonte, a água que descia da nascente do rio.
Tudo girou ao seu redor, sem demonstrar nenhum interesse. Giovanni chorou pelo seu destino e lastimou a escolha, o naufrágio e o retorno.
Para quem não deseja, o destino se mostra ingrato.

Muitas Lástimas para sofrer


- Se você quiser terminar as sete provas ainda tem muito o que sofrer. Você tem certeza de que é isso que quer? Já te disse, é muito difícil. Só cinco heróis conseguiram.
- Eu quero - resmungou o jovem herói, com o cabelo raspado e um braço enfaixado - Eu quero com certeza.
- A próxima prova é matar alguém. Você quer saber como funciona?
- Não.
- Ela funciona do seguinte modo: você deve matar a pessoa que mandamos você matar. Ela está em algum lugar e é sua missão encontrá-la e dar-lhe um fim.
- Achei que matar fosse errado - perguntou o papagaio, virando a cabeça.
- Nãp se preocupe. Nós só pediremos que ele mate uma pessoa má. - explicou o Gerente de Provas.
O cão latiu, porque consentia; o papagaio continuou em dúvida e o gato pequeno se enrolou em um canto, silencioso, porque não gostara nada da idéia.
- Então me diga logo quem é - pediu o jovem herói, muito impaciento. O cachorro também já queria pular no pescoço de outro homem e ofegava agitado.
- Atenção, que só vou dizer uma vez.
O herói gesticulou para que o Gerente de Provas continuasse.
- Ela se chama Fá Sol, e ensina músicas.
O cachorro desanimou. "Uma mulher!, Não haviam dito nada disso nas instruções. Acho melhor..."
- Não. Eu vou fazer. - confirmou o jovem herói.
O gato disse: "Com certeza não vamos fazê-lo. Nada disso."
Mas o cachorro pensou melhor e latiu: "O gerente disse que ela seria má, então não tem nada de errado."
O papagaio inclunou a cabeça, mas não disse nada. Ele tinha muito medo de heróis.
- Nós vamos - repetiu o herói, para se dar coragem.
O Gerente de Provas concordou com a cabeça e anotou em seu caderno, com uma letra cuidadosa: Fá Sol, - jovem herói.
O herói saiu da sala junto de seus animais acompanhantes e foi procurar a mulher. Enquanto isso, o Gerente suspirava:
- Muitas lástimas para sofrer ainda... Ah sim, muitas lástimas.

quarta-feira, junho 27, 2007

Uma carta antiga e sem data que encontrei por acaso nos arquivos do computador.

Oi.

Não sabia para quem escrever. Digo, sabia que tinha que escrever, mas não sei para quem. Claro, aí pensei em você, que gosta de me escutar (ou sabe fingir isso muito bem).
No fundo, nessa pressa de querer escrever eu percebo que não sei do que falar. Coisas bonitas eu penso, como uma garota segurando uma flor. E colinas. É a chuva que calma cai no mato. Mas nada disso tem a ver com você. Isso é o problema de se prender a um ouvinte. Tem certas coisas que não se pode dizer para todos. Ou que não fazem sentido. Seria como conversar de ações e mercado com a Clara: Não tem nada a ver. (pronto, já me decidi que Você não será a Clara, sem querer e por impulso. Sim, eu não sei quem é Você. Estou te construindo na minha cabeça aos poucos. Vamos ver se eu acerto?)
Você me limita. Me corta assuntos apenas sendo mera possibilidade. Que carta complicada, que chuva estranha, que liberdade tolhida.
...Liberdade. Uma estrela no céu?

Escuta, você acha que é impossível ser livre? Eu? Eu não sei. Ah, nem me pergunte. (viu, Você já tem sentimentos. Pode ser curiosa. Ou curioso. Charles, não limite o seu interlocutor!) Mas será que é mesmo possível que alguém seja livre e feliz ao mesmo tempo? No momento não parece contraditório, mas... não sei. Parece que para ser livre é preciso conhecer (é preciso conhecer?), mas quando conhecemos a verdade, não acho que podemos ser felizes. Ou podemos? Será que ser livre não é ser feliz? , mas feliz mesmo, de verdade.
Se a felicidade é luz, a liberdade é sombra, o homem vive no cinza? (agora sei por que você não é a Clara. Eu e ela já discutimos isso...)

Myshba é basicamente o guerreiro da felicidade. E das colinas. A Campina-que-brilha-reluzente-em-um-dia-de-outono-alegre-sem-fim. Ele é a Luz e a criança.
E Sark é a dor. A tristeza que carregamos pesadamente conosco. Sark é a responsablidade adulta e a busca pela Redenção. Todos queremos um Paraíso. (mas ele é possível?)

Liberdade e felicidade. Os dois buscam. Todos buscamos.
Será que perdidos no canto mais esquecido do mundo, sem saber que o próprio mundo existe, sem pensar (só seguindo sabendo que... [que o quê? diria Macabéia.] que existimos): será que assim não seríamos felizes? Ou, mais ainda, livres? Se nos reduzirmos ao essencial, ao estúpido, ao último, seremos mais livres? Eu acho que não. Digo, eu espero que não. Mas isso também não faz sentido Lorena, então não importa.
(Você é a Lorena? acho que não, mas valeu a tentativa)


Ela correu determinada pelas ruas achando que poderia fugir do seu corpo e de sua mente, largar seu espírito no chão e voar. A morte é libertadora. A vida é dura.
Não acho que devemos buscar a morte. Que devemos correr ao seu encontro. Apesar da vida ser dura, Yuri, desistir é negá-la. É dizer não ao bonito que já foi. Ah, mas isso não.

Quem sabe o que podemos tentar? O que nos limita, a não ser nós mesmos? Temos tanto a perder que perdemos toda hora. Porque é assim. É como é sua casa, Muriel, é perder de novo o que está lá.
Fantasmas. Ah, é realmente ruim. Não.

Podemos pensar de outra maneira. De novo voltamos à chuva. E à Myshba sentado na beirada de um muro destruído; ele oferece à Sark uma maçã. A maçã é mordida. O homem olha para o fundo. Lá na beira onde tudo se escorrega. Acho que você entende o que eu quero dizer, Mali. Sabe aquele abismo escuro? Sark resolve acompanhar o garoto para dentro do poço escorregadio.
A maçã tem um gosto ácido e revigorante

O Mistério da Máscara Javanesa - Parte 4

Desmond avançou quase triunfalmente pela sala de jogos. Estava prestes a interrogar seu suspeito favorito:
Como sempre, o mordomo.
- James Ford, profissão "ajudante pessoal de Lord Hugo". Atuais investimentos: quem sabe o assassinato de um ricaço e a fuga com sua grana?
- Você está ameaçando o cara errado - respondeu James.
- E quem disse que estava ameaçando alguém? - indagou Desmond, fingindo inocência - Estava só tentando confirmar uma hipótese.
- Pois pode ir esquecendo, cowboy. Você não me engana com seus truques e vozes.
James Ford tinha algo de esquisito. Não se parecia em nada com um mordomo comum. Era irritado, irônico e não tinha delicadeza natural nenhuma. Ah sim, e era americano.
- Há quanto tempo você trabalha para Lord Hugo?
- Três dias - sorriu Ford. O seu sorriso irritou Desmond: era espertinho. De acordo com sua visão de mundo, ele era o único que podia ter sorrisos espertinhos.
- Pouco tempo, não acha?
James deu de ombros.
- Deve ser então uma coincidência que o seu patrão morreu três dias depois.
- Sem dúvida - respondeu James, com um toque ameaçador na voz - Eu não tenho anda a ver com isso.
Desmond encarou-o. Ford era mais esperto do que havia pensado a princípio.
- Vou ser sincero - disse o investigador - Eu acho que há algo de errado com o senhor. Não sei o que é, mas pode ter certeza de que eu vou descobrir e que a polícia adorará ter uma conversa com o senhor, meu caro Ford; Pode ser que não tenha nada a ver com o assassinato brutal, mas vou descobrir o que você fazia nesta casa.
- Hurley era... desculpe, Lord Hugo era meu conhecido. Quando soube que eu estava na Inglaterra e sem dinheiro nenhum me ofereceu este emprego.
- Isso deve ter sido humilhante.
James Ford olhou-o fixamente.
- Um pouco, sim - admitiu. - Mas desde que ganhasse uma boa grana.
- Sem contar o que você tirou de fora...
- Vamos ver se o senhor investigador sente falta de algo nessa casa - sorriu Ford. Com aquele sorriso espertinho especial.


- O fim de semana durou três dias - informou o Inspetor. Agora estavam os dois, ele e Desmond - Por assim dizer, começou na sexta-feira à tarde e Lord Hugo foi encontrado morto ás 5 horas do domingo. No primeiro dia ficaram em casa e jogaram baralho para se conhecerem.
- Achei que alguns já se conheciam - comentou o detetive.
- Alguns sim, mas nem todos eram amigos - disse o Inspetor - Então, às 9 horas chega Charlie Pace, atrasado e sem ser convidado. Há uma cena na porta da frente, em que ele insiste que largou o vício e pede abrigo para o amigo. Depois, todos jantam e vão dormir. No sábado tem um passeio de manhã e torneios de tênis à tarde. Lord Hugo apenas assistiu e se divertiu. O vencedor foi... o Dr.Jack, quem diria.
Desmond consentiu, analisando os testemunhos.
- O jantar do sábado foi animado e acordaram todos tarde no domingo. Não saíram nesse dia. Acharam o corpo de Hugo ali mesmo, na biblioteca, com a cabeça desfeita e a máscara no rosto.
- Era uma máscara de sua coleção pessoal, não é mesmo?
- Isso. O problema é que a máscara que cobria Lord Hugo era parte do enfeite da sala de música. Alguém tirou-a de lá, levou para a biblioteca e usou-a para cobrir o cadáver.
- Isso é curioso. Mas quem foi o primeiro a achar o corpo e a chamar a polícia?
- John Locke achou o corpo e chamou os outros. Dr.Jack ligou para a polícia - informou o Inspetor - Existem registros.
- Temos a linha temporal - disse Desmond - Falta conferir se é verdadeira. Vamos ver quem mentiu e quem escondeu informação. Quero saber de cada um o que aconteceu no fim de semana. Enquanto isso, preste atenção, temos que vigiar os suspeitos, sem que eles saibam. Ainda não achamos a arma do crime e esse pode ser o momento que o assassino está esperando para livrar-se dela. Inspetor, preciso que preste atenção a todos eles, sem exceção. E peça aos policiais que terminem de examinar a biblioteca: se houverem impressões digitais na máscara será de grande ajuda.
- Não se preocupe Desmond, a polícia fará seu trabalho.

segunda-feira, junho 25, 2007

Não dá, não me é compreensível.

Por mais que me convençam, não consigo acreditar que "bispo" em espanhol seja "obispo".
Obispo é algo tão difícil de se dizer. Sempre me parece errado.

Da próxima vez postarei algo mais interessante.

O Mistério da Máscara Javanesa - (?)

Desmond pulou com êxtase em cima da mesa e gritou, de modo que toda a mansão de Lord Hugo pôde ouvir:
- Na verdade o assassino sou eu! Sim, eu sei que enganei vocês todos, que fingi ser um detetive e investigar meu próprio assassinato. Sou tãão esperto!!!
Todos soltaram um "oh!" impressionados.
- Pois é, e só estou revelando tudo isso porque decidi que a razão do crime era somente o reconhecimento. Então podem admitir: sou um baita assassino, não sou? Agora que vocês já sabem de tudo, morreremos todos.
Dizendo isso, Desmond pegou o tubo de explosivos convenientemente localizado à sua direita e acabou com toda a farsa maníaca. Meia hora depois, quando os bombeiros chegaram, quase nada sobrou da mansão onde crimes hediondos foram cometidos.

FIM


Isso não tem nada a ver!!!
Foi uma mentira, tá. Prometo que vou terminar de escrever a Máscara Javanesa, e do jeito certo.
Só queria soltar um pouco a tensão que é arquitetar um caso misterioso e fazer pistas e fazer pistas falsas e torcer para os leitores acreditarem em certas coisas...
Por falar nisso, já repararam qu... (não vou terminar isso ainda. Ia contar minha teoria sobre quem é o assassino nos livros da Agatha Christie, mas achei que ia revelar o assassino da minha história [que NÂO é o Desmond] então vou deixar para depois. Prometo que é uma teoria interessante.)

sábado, junho 23, 2007

The Wind That Shakes The Barley

Quando Penélope desejou que não acabasse, o universo não escutou e o tempo continuou a rodar.
Por pouco tempo mais a música duraria; e sua bondade, a virtude que mais prezava, a impedia de odiar quem quer que fosse, de querer mal a alguém que lhe quisera mal, de fazer com que o mundo sumisse só porque a sombra dissera palavras amargas.
A colina dançava no vento escuro da noite. A colina que ficava no centro do universo.

quinta-feira, junho 21, 2007

Meu Animal Interior



Ele não é uma gracinha?
E bem desenhado, é claro.

Sabem, quando eu era criança eu adorava guaxinins(ou raccoon, se vocês preferirem). Eu os desenhava em todo lugar, pelo caderno, pela lição, nos livros. Pois é, podia-se dizer que eu era um viciado em guaxinins. Eles apareciam em todas as histórias, desenhos e brincadeiras que eu fazia. Cara, por todo o lado! Eu até fiz um poema sobre eles.
Acho que até hoje, se eu tivesse que escolher algum animal para ser... é, seria um guaxinim. Eles são fofinhos e espertos. E um pouco enganadores.
Haha, ser um guaxinim deve ser tão divertido.

quarta-feira, junho 20, 2007

Poucas lástimas



Não hesite!, gritou Faklam, e não teve tempo de se arrepender quando todo o seu mundo conhecido voôu pelos ares.

* * *

Aí a história começou em outro lugar. Passava pouco do começo do inverno.

O relógio de pêndulo acabou de assoviar seis horas, e cada objeto nesta sala parece reverberar em concordância. A professorinha de piano junta todas as folhas e se recolhe para o vestíbulo. Com muito cuidado, prende o cabelo e ajusta a saia. Iria, não iria? Quem sabe?
Ela espia o busto severo, esculpido com a cara de seu avô, que colocara entre uma preteleira e outra do armário. Sorri com a graça daquilo e indaga suavemente o rosto mineral de seu avô sobre o seu destino.
Abre a porta da frente e põe a bolsa sobre o ombro. Vira-se, tranca sua casa com cuidado (era uma pequena casinha branca na rua Elm, muito parecida com suas vizinhas, todas conjugadas) e desce os degraus assoviando. Resolve soltar o cabelo. Resolve esperar para fazê-lo depois. Ah, deixe; tanto faz.
Passa o verdureiro - será que choveria mais tarde? - sobe na calçada, dá um olá para o rapaz da livraria, segura mais firme as partiuras em sua mão esquerda.
Ela espera o ônibus e vai conversar com o Rei. Pede uma audiência.
A professorinha de piano queria uma música.

terça-feira, junho 19, 2007

Coisas

Não existem muitas coisas que se equiparem a andar em um ônibus com uma grande janela atrás. Me irrito que coloquem propagandas lá: é o lugar perfeito para admirar a vista da cidade. Assim, enquando ela vai se afastado e se transformando em um conjunto de início meio e fim, temos a adorável impressão de poder conter São Paulo em um pensamento, de entender a cidade como um todo único.


* * *

Vários novos posts. Por favor, eu sei que isso é chato, mas vocês poderiam comentar? Não precisa dizer nada além de Eu li, é só o que eu peço, a confirmação de uma leitura.
Divirtam-se página abaixo.

segunda-feira, junho 18, 2007

Desejo

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Não precisamos de mais nada.

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domingo, junho 17, 2007

O Palácio Oceânico conta uma história só.

- Não hesite! - ordenou Flakam, e Haccu pulou por sobre a cerca, correu ao redor do canteiro de lírios e entrou na casa. A espada estava em sua mão e Flakam, o guia, o mentor, o primeiro que viu a criação dos elementos, conversou com os deuses e ensinou os escolhidos, estava lá fora, preso por E. Será que os anjos venceram? Não era uma guerra, não tinha placar. Flakam entendia, Haccu precisava viver. Essa era a lição: viva e saberá.
Mizudinie se debruçou ao lado de Penélope e deu-lhe a mão.
- Vamos, - ela pediu - venha comigo, Sark precisa de você viva.
Penélope olhou-a com os olhos mais tristes do mundo. Presa à corrente negra.

Mas então Neyleen cantou. Orfeu não tinha conseguido? Pois ela cantaria, pela sexta vez, a música da floresta.
A água azul-escura reverberou e o triste e infeliz Lúcifer olhou para cima, assustado.
- Vocês não podem - ele disse - Essa é a missão que Ele me deu. Por favor, não façam isso. Não queremos que Ele fique bravo conosco.
Mizudinie ordenou que Neyleen continuasse a cantar, que fosse em frente e, também como Orfeu, não olhasse para trás.
Não olhem para trás, diz Mellock, lembrem-se! A história nos ensinou isso por uma razão, temos que nos lembrar.
Mas é claro que vamos nos esforçar,diz Hoshy. Vamos sair daqui agora, a Luz que nos guie!
Lúcifer olhou os mortos saírem.
Mizudinie segurou Penélope bem firme. Um grito soou em algum canto do Inferno.
Não olhem!, diz Falkwer é uma armadilha! Sabe-se lá qual truque irão usar para nos reter aqui. - E eles foram em frente.
Penélope saiu da caverna escura e atrás dela foram outros mortos (que não olharam para trás) e Lúcifer, o guardião.
Não existe mais escuridão, nem tristeza sem fim!
Uma idéia muito perigosa começou a brotar, como capim, no coração mais infeliz do mundo.

Lá fora o impermeável Guardador.
- Vocês não podem levá-la.
- Porque?, todos
- Porque ela não existe mais, ou nunca existiu.
- Existiu, sark


- Existiu.


Temos registros, temos sua história, hoshy
Sabemos que é verdade, Mizudinie.


.... Você os arruma pela cor da lombada.. Que idiota.

- Fujam, que tudo desmoronará!
A começar pelo grande. Porque o simples e comum vai sempre sobreviver. Nós devemos nossas vidas às pequenas coisas, aos prazeres tolos, os crimes minúsculos e os objetos do cotidiano. Por mais que o poder seja metamorfose, nossas vidas e historias serão eternas.
Pena que nunca saberemos disso.
As pequenas coisas sempre escapam de nossa percepção.

Qual é o problema da humanidade? Pessoas demais morreram por motivos terríveis.

Onde estávamos? Ah sim, o Guardador não permitiu que Penélope sobrevivesse, que voltasse do Abismo. É uma pena, mas.
A alma dela não estava mais lá? Era isso?, Gamma.

Haccu ergueu a Sopro de Vida e apontou-a para E. Seria possível que todos os problemas do mundo seriam causados por uma pessoa só? Improvável, mas existem pessoas que ...
Que o quê?, Fren. Que não merecem viver? Quem pode julgar?

Ninguém pode julgar, só os anjos. E quando o fazem é ruim para todos., Karyn. Todos cometemos pecados e temos nossos problemas. Queremos realmente os anjos julgando nosso desempenho? Seríamos condenados.
Nós e E, Karyn

sábado, junho 16, 2007

Gamma funda uma cidade

Passaram os ciprestes e os juncos na beira de um lago. Temeram pelas enganações aquáticas e evitaram o mato abundante dos baixios. Subiram as colinas, onde o chão era sempre seco e menos lamacento que os vales, e continuaram a andar.
A massa verde-escura da floresta se aproximava devagar. Para alguns dos antigos habitantes das cavernas ela era ameaçadora (mas bem menos, admitiam, que o tal céu, coisa terrível!); para outros estava recebendo-os de braços abertos; Hoshy via nela a possibilidade de mistérios e Foxy enxergava o sorriso sedutor de um predador voraz.
Gamma tentava não sentir medo diante dela, e tratava tudo como se fosse uma floresta normal e um mundo normal. Não buscava estranhar os ruídos que saíam dos arbustos ou as sombras que voavam no ar escuro da noite.
"Morcegos" respondeu quando os outros se assustaram. Talvez fossem mesmo, mas talvez... um dar de ombros resolvia tudo.
Acamparam sem saber o que havia ao redor, com um medo profundo que vinha do começo dos tempos, de quando os homens nem eram homens e os monstros viviam sobre a terra.
Montaram vigias e mantiveram as crianças e mulheres a salvo, no centro de uma roda. O acampamento improvisado dos refugiados mal tinha sido montado quando os problemas foram imediatamente encontrados. Faltava água, comida, camas. Por um instante o som de vozes suplantou o silêncio assustado da caravana.
Um dos homens que viera das cavernas achou uma machadinha entre um arbusto, onde ia montar sua barraca. Velha e quase podre, jogada ali por acaso, descartada no mato.
"Então há pessoas" concluiu Fren.
"Com armas" adicionou Foxy.
As fogueiras se acenderam como vaga-lumes, uma atrás da outra. Logo um ar familiar e recolhedor se instalou na noite úmida do pântano. Gamma tentava resolver os problemas (que sempre pareciam suplantar seu atendimento) com um certo bom humor cínico; não sabia de onde tirava frases tão esperançosas, sabendo que dentro de si não existia nenhum tipo de contentamento. Os refugiados encontraram alguma comida nas árvores e trilhas entre os arbustos. Por todo o lado conversavam em voz baixa sobre o estranho "mundo de cima".
Choveu e parou. Choveu e parou.
Aí o silêncio. Os sapos roncando mais do que nunca, os insetos se banqueteando, os ruídos crepitando e sussurrando ali ao lado. Mais um silêncio que Gamma julgou delicioso; como um crepitar aconchegante ou um marejo sussurrante que deu repouso para seus problemas.
No dia seguinte, coordenar todas aquelas pessoas se revelou um desafio maior do que o esperado. O comandante Yirigrul tentava apressar o passo, mas com tanto para carregarem ficavam sempre alguns para trás. Gamma gritava a todo instante, incitando a caravana a andar. Não queriam ser pegos pela noite novamente.
Teobolt não entendia como poderia ajudar: cada vez mais o pântano parecia um labirinto confuso, com vários becos, voltas e rios. A geografia do lugar lhe era desconhecida. Mesmo as plantas surgiam como uma novidade: havia um certo esplendor na fauna que ele nunca encontrou em nenhum outro lugar. Confidenciou a Haccu, quando Gamma não estava olhando, que se sentia absolutamente perdido. Aquele pântano não estava em nenhum mapa e em nenhum lugar do mundo: haviam passado uma espécie de limiar que os levou para um mundo completamente novo e desconhecido, um mundo recente e do qual não havia notícia ou história que não fosse o zumbido dos mosquitos ou os ruídos noturnos.
A névoa úmida guardava o pântano e favorecia o crescimento das espécies mais bizarras da natureza. Myshba encontrou um pássaro roxo e Gamma viu heras que se moviam por conta própria. Seguiram o caminho de cabeça baixa.
E então viraram a curva e encontraram a floresta escura e úmida logo ali. Gamma olhou ao redor, para ter certeza de que era onde queriam chegar. Toda a sensação de perigo havia sumido, como se neste ponto do pântano o ar fosse ingênuo demais e puro demais. "Ali." ela disse, apontando para uma colina seca entre o vale e a floresta escura, grande o bastante para comportar um povoado.
Foi para lá que os refugiados caminharam contentes, e quando chegaram soltaram suas mochilas e pás e utensilhos e deitaram-se por sobre a grama olhando o céu, sempre o céu.
Yirigrul concordou que aquele parecia o lugar perfeito para morarem dali em diante e que poderia sim ser ali o local de sua nova cidade. Agora eram habitantes da superfície e deviam aprender a viver sobre a terra.
"Não será difícil" ensinou Teobolt. "Há um lago de um lado e a floresta de outro, com madeira suficiente para abastecer a pequena vila. Vocês aprenderão rapidamente a fazer tudo o que precisarem."
"O pântano há de provir-nos de subsistência, como a caverna o fez antes." confirmou a velha bruxa sem nome "Só pedimos para que a escolhida funde oficialmente a cidade, e que escolha um nome."
Gamma, mais interessada em olhar o que havia na floresta, foi pega de surpresa. Concordou um tanto distraída e pegou a bandeira feita de trapos marrons e fuligem e começou a subir a colina.
Um ar frio envolveu a multidão que a seguia alegre. Depois de tantos anos decidiram que podiam viver em cima da terra, sem temer a vertigem e a profundeza feroz. Gamma descobriu que em cima da colina não havia aquela neblina pestilenta que perambulava pelo pântano; era agradável e limpo; o lugar recendia a um perfume desconhecido, mas revigorante.
Enquanto desfraldava a bandeira, uma cobra saiu de sua toca e atacou Gamma. Rápida e letal; a escolhida conseguiu desviar do bote na última hora. Os primeiros refugiados que chegavam ao topo da colina, ao verem a cena se assustaram. A serpente ainda sibilava feroz quando Teobolt pegou um pedaço de pau e atirou em sua direção. Os antigos habitantes da caverna, ao verem esse novo monstro atordoado, pegaram paus e pedras e mataram a serpente venenosa, em uma explosão de violência coletiva.
Gamma acalmou a todos, pediu que ficassem quietos, que estava bem.
"Era o espírito desta colina!" gritou a velha bruxa "Nós matamos o espírito dessa colina! Agora ele está junto aos deuses".
Hoshy abriu bem os olhos, prestando atenção ao que a bruxa dizia. Ela sentiu que havia algum mecanismo que começara a funcionar.
"Seremos castigados?" perguntou o garoto Païk, ainda assustado com o aparecimento súbito e a morte de uma serpente. "Não sabíamos que era um monstro sagrado!"
"E se a serpente sagrada se zangar conosco?" perguntou o comandante Yirigrul.
"Não se preocupem" sorriu a velha bruxa "Ela não vai maltratar seus herdeiros. Agora somos nós os habitantes deste lugar, e se formos generosos com sua memória, o Senhor da Colina irá nos ajudar com muitos privilégios. Temos que fazer como fazíamos com os antigos deuses na caverna: se oferecermos, todo ano, comdia do mundo de cima para a serpente sagrada, ela irá interceder a nosso favor entre os deuses. Se cuidarmos de sua colina e vivermos com amor em seu topo, sua morte não terá sido em vão, e ela não irá nos castigar."
"Começou." disse Hoshy, extasiada por ver algo em criação.
Os refugiados começaram a cantar uma canção antiga e assistiram a Gamma, de pé no centro de uma roda, tentando prender a bandeira no chão.
"Precisamos de um nome, antes de mais nada" ela disse enquanto desviava a bandeira empurrada pelo vento de seu rosto.
Surgiram alternativas variadas:
"Nova Suddòp!"
"Barcelona!"
"Adriana!"
"Esperança"
e, por fim:
"Lírio",
que foi a opção mais festejada e aceita. Antes, nas cavernas, a única flor que crescia nas profundezas era o lírio. Como lembrança deste tempo e promessa de um novo começo, os refugiados ganharam uma cidade e a chamaram pelo nome de uma flor.
Gamma, com um certo enfado na voz, disse que seria Lírio então. Mas que deveriam plantar mais dessas flores por aqui, ou o nome seria em vão. Com a distração de quem cumpre tarefas burocráticas com um automatismo desinteressado, Gamma plantou a bandeira suja de fuligem e musgo no centro da colina e desejou boa sorte para os refugiados.
"Tenho que fazer outras coisas agora. Espero que já tenha terminado tudo por aqui. Sei que não precisam de mim; tem florestas e lagos e tudo o mais."
Haccu ajudou-a a colocar o mastro fundo o suficiente na terra macia.
"Acho que só o que falta são organizações político-sociais" disse Hoshy "Mas não parece que precisarão de algo além do que trouxeram consigo de lá debaixo. Sei que vão se virar, espero-lhes toda sorte do mundo."
Yirigrul reuniu o clã dos caçadores e deu as mãos a todos os escolhidos, como despedida. Agradeceu a sorte desejada e desejou, por sua vez, uma boa recepção de parte do resto do pântano.
Gamma se despediu com certa tristeza da velha bruxa e prometeu que encontraria um novo tutor, para aprender mais sobre suas habilidades. Muito feliz por ter ajudado os refugiados a encontrarem um lar muito distante, a escolhida acenou para todos e pensou sorridente no povoado.
A garoa bem fina que acompanhou os viajantes na descida da colina parecia confirmar um futuro para a cidade de Lírio. Mas essa já é outra história.

quinta-feira, junho 14, 2007

O Mistério da Máscara Javanesa - Parte 3

A pianola tocava uma música antiga - que fora um sucesso estrondoso durante um mês e depois caíra em desuso, servindo só como lembrança cômica hoje em dia.
O médico pessoal de Lord Hugo, Dr. Jack Sheppard, preparava algo no bar sob a supervisão do Inspetor da polícia.
Desmond mal podia esperar para tirar algo a limpo com ele.
- Então doutor, precisando de alguns drinques? - brincou.
Jack sorriu e deu um gole em seu whisky - Acho que estamos todos precisando. Despois de tudo o que aconteceu... - baixou a cabeça e franziu a testa preocupado.
- Claro, com certeza. Não quis, você sabe... - Desmond, disse, gesticulando para o Inspetor que concordou com mais acenos de cabeça, como atores em uma peça - As pessoas são capazes de qualquer coisa quando bebem demais - ele prosseguiu, com o cinismo crescendo - O doutor por exemplo; tem de estar sempre sóbrio e preparado para lidar com emergências. Por isso acho que esse fim-de-semana na casa de Lord Hugo foi uma bênção, você não concorda inspetor?
- Com certeza, agora você não tem que se preocupar com seus pacientes - continuou o Inspetor.
- Isso não, - Jack disse - vocês não querem dizer que...
- Absolutamente não! - concordou Desmond - Só estava perguntando para o doutor se ele bebeu um pouco neste fim-de-semana, só isso.
- Eu não matei Lord Hugo. - disse Jack muito sério - Ele era meu paciente.
- Nós sabemos. - disse o Inspetor em seu modo usual, mexendo no paletó e no bigode cinzento - Na verdade, andamos investigando e descobrimos que Lord Hugo vem dando muito trabalho para todos. Ele parecia ter algumas manias...
- Sim, isso é verdade. Ele tinha muito medo de estar sobre uma maldição, como se coisas ruins acontecessem ao seu redor.
Desmond se lembrou da conversa que tivera com John Locke, que considerou um lunático perfeito. Talvez todos estivessem um pouco loucos. - Como eu ia dizendo, - prosseguiu o detetive - O álcool nos induz a fazer coisas que nem pensávamos sermos capazes de fazer enquanto sóbrios. Parece que recolhemos um testemunho de que o senhor andou bebendo demais doutor Jack... Existe algum caso de alcoolismo na família, algum problema a ser esquecido? Acho que o seu inconsciente fez todo o trabalho para você, se livrou do paciente mais complicado.
Jack estava a ponto de segurar Desmond pelo colarinho e gritar com ele, mas era esperto demais para saber que isso só o incriminaria ainda mais. Ao invés disse, se segurou e falou:
- Eu nunca faria mal para Lord Hugo. Ultimamente ele esteve preocupado com sua sorte, achava que iam acontecer catástrofes nesse fim-de-semana, que íamos morrer porque ele era amaldiçoado. Sim, ele pensou em cancelar o jantar, mas John Locke o convenceu de que seria uma boa idéia se livrar do medo dessa maldição, que ele poderia nos chamar e que nada ia nos acontecer.
- No fim, - disse Desmond - ele estava certo. Lord Hugo tinha tanto medo de que algo acontecesse aos seus convidados que acabou sendo a vítma. Parece que seus medos tinham algum fundamento. Havia alguém instigando-os?
- Eu sempre tentei convencê-lo de que eram bobagens - disse o médico - Superstições sem nenhuma base. Ele achava que o dinheiro trouxe toda a maldição.
O Inspetor sorriu - O dinheiro traz muitas maldições, eu sei disso.
- À propósito dr. Jack - disse Desmond - Me deixou curioso acerca de uma coisa: um pouco antes, quando falava com Miss Kate Austen, o senhor fez algum gesto, alguma advertência para ela, não foi? Estava muito interessado em saber o que era.
Jack abriu um sorriso e balançou a cabeça.
- Não sei do que o senhor está falando. Me desculpe.
- Ah sim, - disse Desmond - Entendo então. Acho que por enquanto é só.

Antes de conversarem com Charlie Pace, o Inspetor puxou Desmond de lado e confidenciou-lhe:
- Este aí foi o tal que chegou atrasado.
- Então o nosso músico não foi convidado, mas veio mesmo assim... Vamos descobrir porque Lord Hugo não queria sua companhia, e porque ele resolveu insistir.
- Mais uma coisa Des... Parece que os vícios do sr.Pace não são tão leves assim: pelo que consta ele abusava da heroína. Dizem que foi por isso que perdeu o emprego na Orquestra.
Desmons sorriu. Aí sim estava um mau exemplo da espécie humana! Algo com que ele se acostumou a lidar esses anos todos. Enfim seria divertido.
- Sr.Pace, posso ter uma palavrinha com o senhor? Meu nome é Desmond Hume, e este é o inspetor da polícia.
- Claro - ele respondeu, com um forte sotaque inglês - Eu, eu..
- Não se incomode, estamos bem. Só queria algumas respostas. Por exemplo, meu caro sr. Pace, porque o senhor veio? Sabemos que Lord Hugo não estendeu o convite ao senhor. Quem sabe você estava interessado na sua coleção de máscaras raras? Soube que seu hobby excêntrico pode ser vendido por uma fortuna nos becos de Londres.
- Não é nada disso! - ameaçou o sr. Pace - Hugo era meu amigo, nunca faria algo com um chapa como ele! Podem acreditar: todos gostavam dele; eu nunca roubaria algo.
- Mas pediria dinheiro emprestado... - experimentou Desmond.
- Eu pedi um pouco sim. Vocês sabem, depois de ganhar na loteria, cheio da grana, eu achei que... - Charlie gesticulava nervosamente, tentando se explicar - Mas ele disse não e, olha só, me pediu para ficar longe... Ao menos até ficar limpo, você sabe.
O Inspetor e Desmond trocaram um olhar que perguntava claramente: "E agora, você está limpo?"
Charlie Pace se fingiu de ofendido e gritou:
- Mas é claro que estou! Pela santa madrugada, eu nunca faria algo de mal ao velho Hugo. Ele sim era um cara bom, um sujeito decente! Quando me pediu para ficar longe eu fiquei completamente na fossa, pensando que era meu fim e tudo o mais. Não conseguia mais chegar perto dos meus amigos e me arrependi de tudo: de ter sido expulso da Orquestra, de experimentar heroína, de... de... Enfim, eu fiquei limpo e resolvi aparecer, mostrar ao meu chapa que eu podia melhorar. Podem checar! Não tenho nada disso no meu corpo. Nunca mais depois daquele dia.
- Então você é muito mais durão do que eu pensei, garoto. - disse Desmond - Quase nenhuma crise de abstinência, estou surpreso que pôde largar o vício assim, com força de vontade meramente. Querendo impressionar Lord Hugo, e disso não duvido, querendo mostrar aos seus amigos que ainda tinha um pingo de respeito. Foi corajoso sim, meu caro sr.Pace, mas não acho que esteja dizendo a verdade.
- Como assim?
- Como assim... Ainda não sei, mas acho que o seu problema é um pouco mais difícil de ser resolvido do que você nos fez achar. Quando Lord Hugo negou um empréstimo, pois sabia o que você iria comprar com o dinheiro, o senhor deve ter ficado irritado. Talvez se sentiu mesmo no fundo do poço. E sabe o que eu acho? Que pessoas no fundo do poço são capazes de tudo, inclusive de roubar de seus melhores amigos.
- Eu nunca...
- Ainda não terminei Sr.Pace. Pode ser que Lord Hugo tenha descoberto, que tenha ficado extremamente decepcionado com o senhor.
- Não sou um assassino!
- Não esteja tão certo quanto a isso. A heroína é uma droga muito particular, você sabe. Se o senhor me permite uma sugestão, eu diria que qualquer objeto roubado desta mansão poderia ser extremamente incriminador se encontrado em determinadas mãos... - enquanto Desmond falava, Charlie Pace empalidecia devagar, sem saber como responder - Mas, se o roubo destes objetos não tiver nada a ver com a morte de Lord Hugo, eu sugiro vir à claro o quanto antes sobre o assunto.
- Qualquer um que os devolva - continuou o inspetor - Não será processado por maiores crimes e ficará livre de muitas suspeitas.
Os dois homens da polícia se inclinaram para a frente e olharam fundo para Charlie Pace. Desmond adorava pôr os suspeitos contra a parede, fingir-se de mal, de bom, de brincar com os sentimentos dos investigados.
O Sr.Pace olhou de volta nervoso.
- Eu não sou nada disso que os senhores estão pensando! Me sinto ofendido, caras, eu não roubei de Hugo, nunca toquei em um só objeto da casa para comprar o que quer que seja..
Extremamente ofendido, o ex-músico encerrou a entrevista. Disse que não poderiam mais conversar com ele, ao menos não antes que ele arranjasse um advogado.
Desmond odiava advogados. Tanto trabalho para pegar o assassino, tanta enrolação e giros sem sair do lugar. Sobrava pouco espaço para as intuições e brincadeiras.

Conclusões posteriores a um olhar sobre as Cartas - Tentando montar o mundo e ver a Deus


(Ahoy)

Espalhei todas as cartas no chão, tentando uní-las aos símbolos que recortara no papel. Seria esse o quebra-cabeças do mundo? Se montado, eu teria todas as respostas e todos os signos que compõem a totalidade das histórias possíveis?
Parecia difícil que aquelas cartas intercladas com a Árvore da Vida pudessem providenciar o Resultado. Mas tentei não duvidar; aqueles que tinham composto os símbolos tiveram todas as suas histórias retratadas. Os elementos que eu tentava montar tinham servido para eles.
Por outro lado, a Humanidade é tão extensa que imagino que aqueles que morem do outro lado do globo tenham pouca relação com nossos baralhos e nossos espíritos. Talvez eles tenham seus próprios mecanismos de compor destinos, que são, de algum modo misterioso e natural, análogos aos nossos.
Por isso me inclinei sobre a mesa e compûs o Significado, alterando cartas e manifestações do mundo.
Foi só depois que terminei de montar que percebi meu erro: todos os destinos humanos não estavam na forma que acabara de compor. Isso, por si só já era uma (ou mais, dependendo do olhar) história(s). A minha quem sabe?
Os destinos humanos estavam, isso sim, no baralho fechado e misturado. Quando as cartas ainda não foram dadas e se juntam em ordem desconhecida no maço. O prórpio ato de dar cartas e montar um jogo é construtor: as possibilidades residem quando ainda não há, na substância que dorme, na mistura primordial.
E nunca teremos acesso a essa fonte de destinos?
Onde está a tabela que explica o mundo? Montado o quebra-cabeça, resolvido o enigma.
Nesse ponto, todas as cartas e sephirots nos enganam: não se deve confiar em quem não nos permite visitar o misterio ainda embaralhado.
Onde encontrar a resposta? Ou, pensando junto a Douglas Adams, quem sabe antes devemos ter bem resolvido qual é a Pergunta que queremos respondida

sábado, junho 09, 2007

A Teoria do Lado Oposto

Há um tempo eu inventei uma teoria um tanto maluca e um tanto interessante. Esse (o título) é o nome dela.
Vamos supor a seguinte situação:
Estamos andando em uma rua - dentro de um filme ou livro, de preferência - quando de repente ouve-se o ruído de uma imensa explosão e o prédio ao lado irrompe em chamas e destroços. Todas as pessoas estão extasiadas, só podem olhar o vermelho do fogo causado pela bomba, admirados pelo súbito impacto.
Às vezes - e sou o primeiro a admitir que ela não funciona em todos os casos - podemos descobrir quem foi o culpado que colocou a bomba no prédio: basta usarmos a Teoria do Lado Oposto e olharmos para o outro lado. Ao invés de ficarmos observando o fogo devorar o prédio atacado, temos que prestar atenção na multidão que olha impressionada. Esse é o momento em que todos os vilões se sentem seguros, que se traem por não se supreenderem. Logo depois de um assassinato, quando todos estão nos "Ohs"! e "Ahs"!, com olhos unicamente para o cadáver, pode apostar que todo assassino dá um meio-sorriso cínico e divertido. Basta olharmos para o outro lado, onde o mágico não quer que reparemos, onde o truque se desenvolve. É atrás das explosões e purpurinas que os assassinos escondem sua verdadeira natureza.
Em todos os filmes, logo depois de destruírem um prédio com a bomba, os vilões sempre se viram e vão calmamente embora, tentando desaparacer na multidão, escapar da cena do crime. Sempre seguros, eles nunca suspeitarão que alguém não esteja olhando seu espetáculo e se entregam nem que seja por um segundo. Podem apostar na Teoria do Lado Oposto.

Aplicações:
Hoje, no onibus, pude presenciar uma cena engraçada. Quando paramos no farol, eu olhei pela janela e vi um cara sentado ao lado de uma barraquinha. De repente a sua música favorita (eu acho) começou a tocar em um radinho e o cara, grandão e de voz grossa, começou a cantar em voz alta o refrão animado. Logo ele se levantou e passou a dançar também; podem acreditar, foi um espetáculo engraçadíssimo, podíamos ouvir tudo o que ele gritava alegremente. De repente, me lembrei de olhar para o lado oposto e passei a reparar nas pessoas dentro do ônibus. Foi mais engraçado ainda. Elas estavam rindo, mas não queriam demonstrar muito e seguravam a risada. Descobri que isso era muito divertido: olhar pessoas distraídas com algum grande evento.
Até onde a Teoria do Lado Oposto pode determinar, ninguém no ônibus explodiu um prédio.

terça-feira, junho 05, 2007

Tenho um pouco de medo,

Hoje eu queria escrever alguma coisa. Então, entrei no blog e resolvi checar as postagens que eu tinha deixado inacabadas, como rascunhos (não são muitas: eu acho um ótimo conselho dizer que, se você fica emperrado em um texto que não gosta e não consegue escrever direito, o melhor é não guardar, é apagar tudo e tentar outra coisa. Textos que são começados várias vezes e postos no rascunho nunca dão muito certo; sabe aqueles que você escreve uma frase, apaga, escreve outra, continua, acha tudo horrível e apaga, começa de novo etc.? Então, apague este tipo de texto e comece outra coisa, é o melhor não insistir demais diante da tela branca.)
Enfim, divago.
Onde estava? Ah sim, checando alguns rascunhos que deixei no blog. Eram poucos, mas lá estava, definitivamente, uma coisa que eu não tinha escrito:
era uma postagem-rascunho, vazia exceto pelo título:
"A Festa dos Palhaços".
Não, sério, vocês acham que eu escreveria algo com este título? Podem não acreditar, mas eu REALMENTE não me lembro de ter escrito nada disso em lugar nenhum! Afinal, o que diabos é uma festa de palhaços? Eu nem sei que tipo de festas esses caras fazem! Oras, como aquilo foi parar lá?
Será amnésia? Quem sabe eu ia escrever algum post maluco sobre o assunto (assunto?! desde quando isso é um assunto viável?!) e esqueci, guardei no rascunho, sei lá.
Enfim, tenho um pouco de medo de abrir arquivos e encontrar títulos absurdos e coisas malucas lá dentro.
Afinal,
"A Festa dos Palhaços".

domingo, junho 03, 2007

Quem vence?


Confronto de gigantes!






O prêmio? Ser o Rei dos Piratas!