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Imagina só: um dia desses todos resolvem se converter ao budismo (já que essa é a verdadeira doutrina, e digo isso tentando conter ao máximo a ironia). O Dalai Lama fica bem feliz e ensina a todos como esquecerem-se do eu e entrar no vazio. Todas as pessoas do mundo, sem exceção, passam a meditar e a perambular pelo mundo sem posse alguma. Em pouco tempo, sumiriam as fronteiras nacionais e as disputas religiosas. Não só isso como, vejam bem, a humanidade estaria condenada.
Eu imagino que o objetivo do budismo seja que todos alcancem o Nirvana. Todos mesmo. Aposto que o Dalai Lama deseja o bem até para os seus inimigos, ou seja, que todos, através da meditação e das lições de Buda, alcancem o Nirvana. Agora, imaginem se isso realmente acontecesse:
Todas as pessoas do mundo perdem suas identidades e se deixam levar pelo vazio. Pouco a pouco começam a pipocar iluminados por todos os lados. Um aqui, outro ali, vão alcançando o objetivo de todo o Budista: o fim do samsara, do ciclo de reencarnações. Aí, vão começando a acabar as pessoas. Porque, uma vez atingido o Nirvana não se volta mais ao mundo (e não teria como, já que toda a humanidade seria composta de monges celibatários). Sabe o que isso significa? O fim do ser humano. As cidades e coisas vão ser abandonadas, as pessoas vão morrendo e sumindo sem um tipo de... reabastecimento (nossa que expressão ruim!), levando-nos imediatamente ao fim da humanidade. Se o budismo triunfar, nós sumiremos, o que talvez indique uma verdade terrível:
A origem do sofrimento é o ser humano.
É tudo culpa nossa! Se nós sumirmos o mundo vai ser muito melhor. Vai ver esse deve ser o objetivo real do budismo... Mas isso se todos seguirem a doutrina, é claro.
Ainda supondo coisas, imaginem que depois que todos morreram e a Terra virou um tipo de Paraíso 2, só com animais e plantas (sem nos esquecermos das pedras). A natureza vai reclamar as cidades e os espaços antes ocupados pelo homem. Aos poucos tudo vai sendo engolido pela massa verde e habitado somente pelos bichos.
Aí, vem um macaco (vamos chamá-lo de Koko) e entra curiosamente em uma casa abandonada, onde antes morava um budista (a nova palavra para ser humano) e encontra a coisa mais linda do mundo. Só por diversão, digamos que seja um anel.
Um anel brilhante e meio mágico que irá seduzir o pobre Koko. Seu antigo dono o havia abandonado quando se juntou aos monges e deixara o anel em cima de uma mesa e meio jogado. Koko pega o anel e sai feliz da casa, para se encontrar com sua amiga, a Bar. Ele mostra o anel e ela também se apaixona; agora Bar também quer brincar com o Anel, só que Koko se mostra muito possessivo. Os macacos começam a sentir inveja, ciúme, raiva, sentimentos antes desconhecidos.
(Aqui eu vou imaginar que o Artur também viu esse filme e está entendendo o que eu quero dizer. Só que, no filme, eram seres humanos e não macacos. Mas nessa história todos os humanos alcançaram o Nirvana então não temos muitos disponíveis para disputar um belo anel.)
A partir da posse e da disputa desse objeto, os macacos vão começar a trilhar o caminho da civilizacão. Aquele que o possuir, no caso Koko (e, depois que esse for assassinado, Lug) se imaginará superior e desejará mais e mais coisas para si. Começa aí o despotismo dos macacos, que, muitos anos depois levará a um mundo onde os símios tem a conciência e dominam tudo.
O anel e as relações criadas a partir dele levam aos macacos a Consciência.
Muitos e muitos anos no futuro, grandes cidades macacas serão construídas, objetos serão inventados, a ciência dos símios será evoluída e precisa, novas filosofias serão macacamente desenvolvidas, junto com uma extensa linguagem como base.
Voltam à Terra as disputas e conflitos por causa dos diferentes, as separaçãos e divisões. O planeta dos macacos será uma grande civilização intolerante e superior. Os macacos vão dominar o mundo!
... Até que um dia surge um símio chamado Buda...
quarta-feira, setembro 20, 2006
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9 comentários:
Essa foi uma das coisas mais esquisitas que eu já escrevi.
Mas o resumo é: Cuidado com o que você deseja. Seria um terror se as religiões conseguissem o que querem.
Por que eu tinha que ver o filme? Que filme? Ah, agora eu quero ver o filme!
esse Charlie blásfemo...
Charlie, não seria assim, porque enquanto todos os seres humanos vão indo pro Nirvana, outras formas de vida inferiores vão morrendo também e se elevando à condição de humanos (já que só um humano pode chegar ao Nirvana, porque só ele pode meditar e se desprender de posses etc.), de modo que o problema seria outro: para os últimos humanos, já não haveria plantas nem animais, e então talvez eles morressem de fome antes de atingir o Nirvana!
E o despotismo não começa assim, a Cláudia falou! Tem o excedente de produção e o xamã.....
(e 'consciência' tem um 's'....)
Nossa, a Claúdia disse isso mesmo... Que legal, eu queria estar lá para ver... Peraí!!! Eu estava!! Porque você está me dizendo isso Artur?? Acha que eu tirei do nada a palavra depotismo e o fim da sociedade primitiva? Quem você acha que me ensinou tudo o que eu sei sobre História?! Ok, quase tudo, mas só porque eu não gosto muito do Hegel...
(p.s. - obrigado pela correção de consciência)
ei, o budismo não é tão mau assim, tem umas religiões bem piores!
e eu ainda acho que uma sociedade símia seria muito melhor que a nossa.
eu disse isso porque a descrição da origem do despotismo na sua história não coincide com o que a Cláudia falava, oras!
E eu também não concordo muito com Hegel, mas a Cláudia também não, ela dava Hegel marxisticamente (e com um toque heideggeriano)...
Hummmm claramente não aconteceria isso...
E o Nirvana ja seria o paraíso.... Logo seria bom morar lá. As coisas não acabariam alí...
sei la.... não tenho vontade de decidir isso....
Por isso nós agradecemos ao fato de que a Clara não decide nada no Universo...
Isso é o que vc pensa \o/
=p
Bom, já que você decidiu eu acho isso mesmo... XoX
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