Santo Antão, toda noite, abria seu livro de orações e rezava. Mas naquela noite a janela se abriu primeiro e três criaturas feitas de garras retorcidas e terrores o atacaram e submeteram.
Foi levado pela noite sem lua até a côrte do rei dos monstros. Os demônios o carregavam às gargalhadas de causar frio na espinha.
Chegando lá, os répteis de lustrosas armaduras abriram o portão na paliçada e Santo Antão se viu no centro de uma fortaleza onde circulavam seres criados pela mais tortuosa fantasia, que misturara a esmo partes de animais com partes vagamente reconhecíveis de pesadelos.
Levado ao trono soberbo do rei dos monstros, nada pôde dizer.
- Estás agora no reino dos meio-dragões, das criaturas distorcidas e engendradas pelo Doutor. O que pensa de nós?
Ao redor, o santo viu um cavalo coberto de fogo negro, um homem cuja parte superior do rosto parecia ter sido retirada e substituída pela parte superior de outro rosto, pássaros com pernas de antílopes, ursos com rostos humanos, prontos para devorar e uma criatura que causou repulsa extrema em Santo Antão por ele não ter conseguido adivinhar em suas adjacências nada parecido com mãos, patas, pinças ou antenas.
- São horríveis!, gritou o santo. Faltam-lhes partes ou as têm demais!
- É por este problema teológico que o trouxemos aqui - disse o rei - O que faz de um homem um homem?
- Seu corpo inteiro e bem formado, é isso que faz dele algo que não um monstro abominável.
- Então, se tirarmos suas pernas e braços você se tornaria um de nós?
E Santo Antão, assustado com uma sirena que batia suas pinças muito próxima, pôde ponderar os dois lados da questão - Não, mesmo se retirassem meu corpo, ainda assim teria minha alma e minha mente para fazer de mim quem sou.
- E se o enloquecêssemos para que perdesse a razão? - continuou o rei - E se quebrássemos sua alma com mil pesadelos e torturas, aí seria um de nós?
- Não enquanto houver alguma boa alma para cuidar de meu corpo abandonado. Se eu ainda fôsse capaz de inspirar sentimentos humanos em outras pessoas e estas me tratassem com humanidade, assim conservariam minha boa condição.
- Então qual é a resposta? - urrou o rei dos monstros furioso - Não é o corpo e nem o que o corpo guarda. Onde está em você a humanidade que nos foi cruelmente negada? Devemos começar a experimentar: vamos retirar uma por uma suas partes e pensamentos, para quanto tivermos enfim arrancado-o de sua condição, saberemos qual é o membro ou a combinação que faz de ti um não-monstro.
Santo Antão, acuado pelos demônios, abaixou-se e rezou. Garras e tentáculos grotescos o procuraram sob os gritos de Somos homens, somos homens também!.
Dizem os livros sagrados que o santo pulou e vôou pelo céu escuro em uma redoma de luz. Afastou-se ca côrte, afastou-se a paliçada guardada por répteis faminos e afastou-se a fortaleza terrível.
Depois das trevas, estava de novo em casa, a janela aberta e o livro de orações sobre a mesa.
terça-feira, julho 01, 2008
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Um comentário:
gostei das aberrações e monstros; coisas grotescas assim não costumam fazer parte dos seus textos...
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