Quando criança eu tinha muito medo de várias coisas. Lobisomen, Fantasma, Mula Sem Cabeça, Criaturas que saíam do escuro e o pior de todos: Monstro-de-Debaixo-da-Cama. Sim, acreditem, o Monstro-de-Debaixo-da-Cama era o meu pior pesadelo: e tinha ainda que enfrentá-lo todas as noites ao ir dormir. Pensando agora, era curioso como eu podia conviver com o medo, que, como vocês devem saber, é tão forte em uma criança. Eu realmente acreditava que monstros povoavam o mundo. Acreditava em Lobisomens do lado de fora da minha janela e não entendia como os adultos podiam estar tão tranqüilos, ou pior!, como eles poderiam querer que eu dormisse sozinho?!!! Eles não percebiam que eu poderia ser atacado a qualquer momento?
Assim, eu teria que inventar sozinho métodos para afastar o medo.
O pior método(moralmente falando) porém extremamente efetivo, era dormir com mais alguém. Assim, eu pensava, poderia ter uma chance de escapar quando o monstro pegasse a outra pessoa. Sim, eu sei, o que é a amizade ou a família diante do medo profundo de uma criança?
Haviam outros métodos. Bem racionais, eu diria, embora lidassem com criaturas que não costumamos associar à razão. Por exemplo, eu tinha lido em um livro que os lobisomens só apareciam nas noites de sexta-feira com a lua cheia (ah, tem certos livros, pensando agora, que seria melhor não ter lido. Livros muito assustadores, ou com figuras indevidamente macabras. Quem disse que as fábulas e o folclore são infantis?). Assim eu estaria seguro durante boa parte do tempo. O problema? As tais noites de sexta-feira com lua cheia. Porém, eu sacrificava meu sono tranqüilo nessas noites pela crença de que nenhum lobisomen pularia pela janela em todas as outras noites.
Segundo método do qual eu consigo me lembrar, este bem mais emocional do que o anterior: para evitar meu grande nêmesis (aquele que, por qualquer motivo, raptava crianças e as puxava para debaixo da cama, onde seriam forçadas, segundo um certo desenho animado que até hoje eu me arrependo de ter visto, a trabalharem como escravas para os demônios assustadores. Sim, havia um portal de monstros debaixo da minha cama, e eu odiava isso). Para evitar o medo eu costumava colocar meus bichinhos de pelúcia embaixo da cama. De algum modo eu pensava que se algo entrasse por ali eles me protegeriam (por que não, éramos amigos, brincávamos juntos o tempo todo!) ou ao menos dariam o alarme.
Enfim, com o tempo fui começando a perceber que talvez certas coisas não existissem, e que havia uma diferença entre o mundo real e um certo mundo imaginário. Ainda assim, foi com uma teoria que eu venci meu medo de monstros. Era algo assim: muito racionalmente eu pensava que, se monstros existissem, então outras criaturas fantásticas e imaginadas teriam que existir também. Ou seja, se havia um Monstro debaixo de minha cama, haveria também o herói com superpoderes que me salvaria do monstro. Era como se eu percebesse a diferença entre os mundos real e o imaginário, porém ainda não descartara a existência do imaginário com certeza. Havia uma dúvida se existiam ou não criaturas perversas rondando no escuro, mas eu ficava tranqüilo em saber que, se me atacasse, eu poderia ser salvo pelo seu inverso. Ou quem sabe eu mesmo não despertava poderes incríveis.
Acredito que depois disso eu nunca mais perdi uma noite de sono por causa deles. Talvez também seja daí que vem a minha descrença de que o mundo é composto por histórias que agradam à imaginação.
Só sei que hoje não vou olhar debaixo da cama para dormir.
quinta-feira, setembro 25, 2008
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3 comentários:
medo...
meus medos moravam nos meus pesadelos; Eram eles que eu mais temia
Hm... Eu não lembro de ter mêdo.
*pensa pensa*
É... Não lembro. Talvez tenha vindo mesmo quando fiquei mais velha.
Eu sempre acreditei que agente não tem limites... que qualquer um de nós pode sair voando por uma janela se realmente quiser....
Talvez por isso nunca descatei nenhuma possibilidade...
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