quinta-feira, novembro 06, 2008

Vinango (voyage by canoe)

Recebem-no com colares. E já pode sentir o sol sumir por trás das montanhas verdes da ilha. É tão curta a duração do dia nestas praias!, ele pensa.
Levam-no para a casa onde morou sua mãe. É aqui, aponta a matriarca, gorda e feliz. Está vendo?, naquele canto, foi ali que você nasceu.
Ele simplesmente acena com a cabeça. De repente sente que não pode mais ficar ali. Sai da casa rapidamente e volta para a praia.
Os remadores, que não o esperavam tão cedo, estão conversando e rindo. Estranham de vê-lo ali, mas fingem uma prontidão, estendendo os remos verticalmente.
Ali na praia ainda está sol, ele pensa. Mas percebemos claramente que são seus últimos raios, logo sumirá também, é uma despedida.
Um pouco distante, as mulheres cantam ao voltarem do campo de abacaxis, sem perceberem a agitação que começa a se formar na praia.
Ele pensa duas vezes antes de subir na canoa novamente.
Olha para a matriarca, que está assustada, para os homens da aldeia, curiosos. E então se despede com um aceno de cabeça.
Me perdoem, diz. Foi um erro ter vindo aqui.
Ainda com o colar florido pendurado no pescoço ele parte na canoa. No mar, o sol ainda está forte.
Porém, percebia-se que o homem havia cruzado sua linha de sombra.

2 comentários:

Pioux's disse...

como funciona essa linha?

Charles Bosworth disse...

É assim: é uma linha que separa a juventude da maturidade. Geralmente próximo a ela somos levados a atos impulsivos e aparentemente sem razão, como abandonar um emprego ou o próprio país.
É como se fosse um limite na vida de algumas pessoas.
E também um romance homônimo do Joseph Conrad.