domingo, março 19, 2006

folclore albanês.

. Ontem eu terminei um livro do Ismail Kadaré. Eu gosto dele; morou na Albânia durante a ditadura comunista e começou a escrever para aliviar a alma dos tormentos e da escuridão que o cercava. . . .

. "Um dia Calvo estava caminhando, até que caiu em um buraco escuro e chegou ao mundo de baixo." conta uma história folclórica albanesa relatada no livro. "Para voltar para cima, para a luz de novo, ele teria que pegar carona nas costas de uma águia; uma águia que se alimentava de carne. Assim, ele passou dias buscando carnes no subterrâneo para alimentar o pássaro durante a viagem. E assim ele foi, voando por sobre abismos enormes e escuros. De quando em quando a águia piava e Calvo dava um pouco de carne a ela. Assim seguiram os dois por sobre a escuridão mortal."
. . . "A viagem se estendeu. A águia voava e voava mas nunca chegava até a luz. O vôo por sobre o abismo durou tempo demais, e a carne de Calvo foi acabando. Os pios da águia se tornaram angustiantes para o homem, que deveria alimentá-la toda vez, ou cairia no abismo escuro embaixo, de onde nunca se levantaria. Os pios continuaram e a viagem negra nunca cessava. Calvo se viu sem carne e com a águia piando. Sem hesitar, com medo do escuro buraco, cortou uma parte de seu braço para alimentar a ave. . . O tempo passou e nada de chegarem, o medo e desespero aumentando. Calvo começou a cortar pedaços de sua perna, até que esta se acabou. Cortou seu tronco, seus braços, ouvindo sempre o comando piado da águia, sem nunca se afastar do abismo assustador. A águia voava e o homem se cortava. Ele, para sobreviver ao buraco, dava partes de si mesmo ao pássaro, que nunca parava de piar por carne. Até que um dia chegaram ao mundo de cima, escapando da escuridão abissal. Mas Calvo dera partes demais de si mesmo para a águia."
. "Por isso, um dia, as pessoas lá de cima viram sair de um buraco uma enorme águia, carregando nas costas, nada mais do que um esqueleto descarnado, sem vida."

. Cada um sabe a dor que traz consigo mesmo.

3 comentários:

Anônimo disse...

q horror o.O

Anônimo disse...

Valeu Clarinha pelo único comentário desse post...(apesar de um pouco conciso).
Será que ninguém quer ler porque é muito grande? Ou porque é chato? Ou vai ver é tão horrível que as pessoas o evitam..
... Ok, ninguém vai ler isto aqui, mas eu queria escrever. Se alguém estiver, me peça pra contar outra história albanesa na próxima vez que nos virmos. Dessa vez uma meio engraçada... Tá, ela é meio trágica também, mas eu culpo os albaneses...

Everton Natividade disse...

Ela e bela. E reflete. E faz refletir.
De que livro do Kadaré você a tirou?