quinta-feira, novembro 02, 2006

A Entrada

"Quem é você?" gritou uma voz assustada.
Fren sentiu seu coração bater apressado. Entrara finalmente no Relógio de Gelo! Caído por sobre um tapete úmido, olhou para cima da grande escada de entrada.
Das portas laterais começaram a avançar homens e mulheres atônitas, recém-saídos das salas subterrâneas ou das salas de tecelagem. Surpresos viram, pela primeira vez em muitos e muitos anos, alguém de fora. "Invadiram o Relógio?" gritaram nervosos. "Alguém de fora?" gritavam curiosos. "Estrangeiro?" gritavam apreensivos.
"Quem é você?" perguntou a Fren um dos homens sujo de terra, carregando um punhado de batatas nas mãos.
"Meu nome é Fren Armmadillen, eu sou... eu sou" ele tentou febrilmente dizer, antes que se lembrasse de algo mais importante. "Ainda tem pessoas lá fora, esperando para entrar. Por favor, eles tem que ficar aqui dentro, ou vão morrer de frio. É muito importante para nós estarmos aqui, por favor."
"Ninguém de fora pode entrar aqui!" gritou escandalizada uma mulher.
Fren não sabia o que mais dizer; era de importância capital que entrassem no Relógio, apesar da resistência de seus moradores.
"Mas quem..?" ia dizendo uma voz que no meio da sentença se engoliu em surpresa. Era a esposa de Lúcio que chegava neste momento:
Do alto da escada e velha senhora dona-de-si o encarou. Seu nome era Muriel S., neta do já lendário Brorus Ursobranco, caçador e guerreiro das florestas ocidentais. Naquele exato momento ela percebeu dentro dos olhos assustados de Fren Armmadillen algo que a desarmou por inteira: o Novo. A novidade diferente que entrava no Relógio através do corpo de um certo cientista. Ela não teve medo, mas uma densa curiosidade e percebeu que duas opções de mundo completamente distintas se abriam diante de si.
Não foi muito difícil decidir. Quando falou "Caros companheiros! Estamos lidando com vidas humanas. Devemos garantir a sua proteção imediatamente: vamos trazê-los para dentro." sabia exatamente o que iria acontecer: iriam todos discutir. De fato, várias vozes apreensivas, amargas, sérias, ponderadas, tensas e curiosas soaram através do salão.
Muriel, que sabia precisamente o que fazer, iria garantir aos outros que tivessem a sua amada discussão. Mas, tiranamente decidida a fazer os estrangeiros entrarem, gritou algo que não poderia ser discutido: "Silêncio todos! Não sabemos quem são os forsteiros ou que perigos representam para nós. Mas, sejam eles inimigos ou aliados da Revolução, não podem esperar pelo nosso debate. Sua causa demanda urgência e podemos igualmente discutir a validade de sua intrusão após resgatarmos e salvaguardarmos estes viajantes do frio. Todos de acordo?"
"Sim, sim" disseram os moradores do Relógio.
Sem violar nenhuma lei de comunidade ou de discussão coletiva, ela garantiu que aquele lindo brilho de Novo que vira nos olhos de Fren e pelo qual fora seduzida entrasse no Relógio de Gelo.
Muriel S. decidira perigosamente o destino de todos.
Porque humana.

5 comentários:

Anônimo disse...

Oh! Acabo de descobrir que, etimologicamente, "Cheio" e "Pleno" são a mesma palavra!

Não que isso importe, mas achei interessante...

muriel disse...

Como você demorou para postar a história da Muriel, Charles! Conte-nos mais sobre o Relógio.

Charles Bosworth disse...

Conclusão: qualquer descoberta inútil porém interessante tem o seu lugar Aqui em Hinée! Podem me contar mais coisas..

Sim Muri, eu demorei para fazer nascer essa história. Sabe... Pois é... Ultimamente o Relógio tem parecido tão interessante, então podem contar com mais histórias de Lúcio, Fren, Gwich ou a própria Muriel.

Anônimo disse...

huummm
eu tenhu uma fixação por relógios mas tendo a n gostar do tempo...
E aí? o que eu faço?

Ozzer Seimsisk disse...

desajusta todos os relógios. faz eles rodarem num ritmo diferente ^^