Se fez um silêncio entre os dois homens. Já acostumados, se esqueceram de prestar atenção ao ribombar profundo que vinha de fora; agora as luzes iam e vinham como uma maré, ora iluminando o topo do chapéu de Lúcio, ora jogando o rosto de Fren nas sombras. A fumaça dos cigarros subia devagar, acompanhando os movimentos despreocupados das bocas. Logo o assunto retornava:
- Lembro dos policiais batendo na porta de casa nos dias de golpes - disse Lúcio - Eles vinham atrás do meu pai, um velho militante nortista. Era quase engraçado vê-lo esperando, de valise na mão, para ser levado pelos policiais. Passava uma noite na cadeia e era solto na manhã seguinte, com apenas algumas marcas roxas no rosto. Isto se tornou uma tradição após um certo tempo. Já se sabia que iam levar o velho quando anunciavam ataques às cidades no velho rádio. Minha mãe se preocupava demais e chorava, mas meu pai apenas estendia a palma da mão e se sentava na cadeira surrada, com a inegável valise preta ao lado.
segunda-feira, dezembro 11, 2006
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2 comentários:
q du mal! pobresinhu!
muito bom! continue!
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