segunda-feira, março 19, 2007

O Silêncio de Penélope

Corri colina abaixo, no centro do escuro. Havia pouco em mim do mundo que abandonava depois de tanto tempo. As lembranças de minha estadia naquela pequena cidade me escapavam velozes: primeiro subiam por minha nuca em um arrepio nostalgico, para deslizarem pela minha cabeça e chegarem aos longos fios de cabelo de onde elas voavam em direção ao céu noturno; meus cabelos balançavam expulsando lembranças enquanto corria, matando um passado ao deixar a colina.
Era como se. . .
Certas coisas foram parando de funcionar. As palavras cresceram tanto e me cobriram como uma selva impenetrável que eu as perdi. Quando vi as máquinas de guerra cercarem a cidade, todas as sombras gritaram ao mesmo tempo. Eram tantas palavras e memória sendo jogadas velozmente de um lado a outro que ficou impossível sequer pensar.
Pouco, tão pouco tempo depois, os foliões que celebravam a Noite de São Bartolomeu perceberam que a guerra chegara às suas casas e que havia um ódio intenso por trás das ações humanas.
Procurei minha voz e tentei dilacerar o medo e a inundação de palavras que nada diziam; atravessei a selva impenetrável com a firme resolução de que estava ali. Epolenep nos viu morrer.
Corri pela rua tentando encontrar algum modo de gritar minha presença, de acender uma chama sinalizadora para indicar a localização de vidas.
"Estamos aqui! Não nos matem, estamos aqui."
Sark reapareceu atrás de mim e abriu com um empurrão a porta da casa de senhorita Cassandra.
Estavam todos ali. Senhor Marco em uma cadeira perto da porta, fumando nervosamente seu cachimbo. As cinco mulheres pálidas semi-ocultas pelas sombras da casa escura lá no fundo.
- Vamos - ordenei-lhes, puxando cuidadosa senhorita Cassandra pelo braço - Temos que sair daqui.
Sark guiou senhor Marco até a porta antes que esse pudesse argumentar ou reclamar.
- Cassandra está grávida - avisei meu amrido - Se pudermos informar os homens que atacam eles a deixariam passar.
Susto. Impossível. Foi o que me disse sua sombra.
"Estamos aqui. Uma mulher e um bebê no mesmo corpo, não nos matem."
- A guerra perdeu sua humanidade há muito tempo - disse Henry - Vão nos amtar a todos, meticulosamente e sem distinção, porque estamos em seu caminho.
Como se. . .
Enfim,
a noite
Alguns cacos de vidro voaram na primeira explosão. Quando uns poucos, que somente
buscavam
Eu busco. Eu, Penélope Noite. Eu escolhida. Eu que deveria salvar a todos, mas os condenei.
Me lembro de uma coisa bem bonita: ao se sentar na carroça que os levaria escondidos para a segurança, a senhorita Cassandra disse Fernanda e todos entendemos que naquele momento ela escolhera o nome de sua filha.
Que haveria de sobreviver e crescer e ser feliz.
Ou foi o que eu vi no centro daquele labirinto selvagem de palavras demais.
As primeiras explosões foram de aviso, como se quisessem nos informar do acontecimento funesto por sobre o pipocar dos fogos-de-artifício da já extinta festa de São Bartolomeu. Mascarados corriam pela rua e o fogo começou.
Começou!
Vi a carroça partir com tristeza. Senhorita Cassandra e senhor Marco foram embora de minha vida naquela noite. Sumindo aos poquinhos na escuridão que cercava a cidadezinha.
Ali, no Coração das Trevas, um buraco se fazia. Ele antes era uma pequena cidade, um lugar onde pessoas tinham expectativas, conversavam, se odiavam, se vangloriavam, não entendiam, namoravam, coziam e observavam coelhos. Agora era só vazio. Todas as palavras que nunca mais seriam usadas voando pelo ar como um brasa brilhante que sobe no ar quente e entupindo meus ouvidos de pensamentos que eu não podia pensar.
E se. . .
E se eu estivesse gastando o meu estoque de palavras que estavam guardadas para eu usar durante toda a minha vida? Me atormentava o silêncio final.
Senti-me ao lado de Sark, no alto da colina.
- Estou exausta. Não vou conseguir fugir.
- Se eu distrair as máquinas de guerra você pode escapar. Ainda tenho minha autoridade da patente da Torre Negra, eles vão me ouvir.
Um som fundo e constante. Era assim que elas funcionavam.
- Não quero que você morra para me salvar. Se você se for eu ficarei sozinha para sempre, porque mais ninguém é como você Henry Sark, capaz de me entender.
(Eu estava certa.)
- Eu prometo que voltaremos a nos encontrar. Você me promete que irá fugir, aconteça o que acontecer, e sobreviver? Se você estiver viva eu irei ao seu encontro, e vou me lembrar para sempre de tudo o que aconteceu entre nós.
(E ele estava errado.)
Mas eu ainda não sabia. Pensei que poderíamos ter ainda outra tentativa, que quando Pátroclo apareceu ainda tínhamos alguma chance.
Sark conversou com Pátroclo rapidamente. Deu-lhe instruções de me levar a algum lugar, de cuidar de mim e de nunca fazer-me mal.
Eu iria, outra vez, ser exilada do mundo.
Mas esta noite era diferente da outra noite, essa noite era a última entre eu e Henry, e a mais apaixonada.
Debaixo da árvore, depois que Pátroclo correu para atrasar as máquinas de guerra, Sark disse que me amava. E isso, apesar de tudo o que aconteceu e acontecerá, era verdade. Eu sabia que era verdade, pois não eram apenas seus lábios que falaram, mas a noite em volta, a árvore, a colina, a família de coelhos, os patos listrados, o corvo solitário e tudo o mais que eu nunca veria novamente.
Nossas palavras se soltaram e cruzamos nossas vidas.
- Meu destino é seu destino.
- Minha dor e alegria é sua dor e alegria.

- Nossa sombra.



Conversa de Amor
(sem falar)
(porque o mundo acabava ali)
Vínhamos da fronteira final como quem busca um simples

Era azul com um fundo de verdade, nossa casa, esboçado pelo

Onde estavam as palavras, me perguntei? No fundo
de um longo abismo, ele respondeu.

e sorri, porque não podia
Era engraçado, era engraçado mesmo. E foi assim que começou.
Mas por que nós? Se
de noite as aves
- terminavam os encontros, quando os bancos da praça ficavam escuros e tudo em volta ia

Tão simples!

Um talher que brilhava
e eu me lembro de quando caiu
pois todas as




Minha vida
Comecei do começo, de onde me lembro. Por que sou definida pela memória que tenho de mim, do que acho que sou.
só quando vi seus olhos
, burburinho alheio
sua ironia, seu vexame

E quando morreu

Vontade, baboseira
Era como se. . .

e, portanto, perfeito.
Somente com
Tenho certeza apenas nas palavras. Um grande vazio se abateu






fruta



vergonha


"Estamos aqui"


Terminar o seu
galhos das árvores. Cruel e feroz em seus balanços e ondulações. Tudo isso eu
em seus
olhos tenros

"Penélope" ele disse. Soltou o lápis e
cacos e cacos de vidro! Uma chuva de

as lâminas despedaçadas que nunca mais





espelho do meu amor

Ah, Henry Sark, eu. . .


















"Estamos aqui. Não nos matem, estamos aqui."





Essa era









































































Colocamos nossas iniciais no final da carta, como se ainda quiséssemos dizer algo:




P. S.
















7 comentários:

Pioux's disse...

Uou!
=)

Utak disse...

wow mesmo...

Quer dizer...

Você sabe escrever poesia(?) sim...

=D

Pioux's disse...

o.O
ugo bugado

Pioux's disse...

HEYYYY domingo as 4 da tarde pra comer bolo e ver filme na minha casa \o/
ajuda a divulgar!
chama a millaaaaaa

muriel disse...

ah!
Não sei o que dizer. Mesmo. Muito bom.

Ozzer Seimsisk disse...

Que incompreensível... e desesperador... por que a história é sempre triste? nenhum deles nunca foi feliz?

Ozzer Seimsisk disse...

Que incompreensível... e desesperador... por que a história é sempre triste? nenhum deles nunca foi feliz?