sábado, junho 30, 2007

Olhai a água e guardai as lástimas. Porque o fim se aproxima.


Giovanni tirou mais um balde de água do pequeno barco, e sentiu que o afundar era inevitável. Não importava quanto tentasse, nunca esvaziaria o barquinho - não quando um oceano inteiro forçava sua entrada e molhava seus pés.
O gato ao seu lado miou preocupado. Era o mesmo gato que estivera acompanhando o jovem herói antes, mas depois do naufrágio todos se perderam e se separaram - além do mais, Giovanni não era um dos acreditavam que animais falavam, por isso o gato apenas miou preocupado, sem adicionar mais nenhum comentário em fala humana.
O balde ia e vinha com rapidez. Estava exausto, mas continuava a jogar água para fora. O oceano a sua volta preenchia o mundo.

Na noite do sétimo dia chegaram a uma pequena ilha. O gato sumiu entre os coqueiros logo que o barquinho atolou na areia da praia. O mar estava iluminado por uma luz assombrada, de lua quase cheia. Giovanni quis cair exausto ali mesmo, mas puxou o barco para a praia e se forçou a um trabalho extra de pegar frutas nas árvores. A maçã tinha um gosto ácido demais, inculto. Caiu na areia mesmo, e dormiu por um dia inteiro.
Passou a semana seguinte na ilha, esperando ser resgatado, e descobriu muitas coisas interessantes, que o ajudariam em sua busca.

Algumas semanas depois, quando Giovanni estava na Piazza della Veritá em Roma, ouviu sair da boca de pedra a voz que ouvira na ilha. Foi assim: estava inclinado para beber a água clara que saía da fonte no lado norte da praça quando a boca - de onde jorrava o líquido puro - falou com uma voz serena e grave, pedindo que Giovanni continuasse sua busca.
Enquanto estivera na ilha, escutou uma noite essa mesma voz chamá-lo tirando-o de seu sono. A voz cantava, serena e grave, pedindo que fosse até a nascente do pequeno rio. Giovanni andou pela floresta escura, em uma noite quase assombrada de lua cheia, pisando em galhos e folhas caídas (perdera seus sapatos no naufrágio) e chegou até a água fresca que saía de uma rocha.
A voz disse:
- Procure a estrela do norte. Ela está lá.
Giovanni quase caiu de joelhos. Ergueu as mãos e agradeceu o céu pelo milagre. Esteve procurando por tanto tempo que mal podia acreditar que ela, que Jasmine! estava... Seria possível? Muito obrigado meu Deus! Na estrela do norte, não foi isso que ouvi? Um milagre!... Mas, e se tudo não passou de uma ilusão? Estou nessa ilha há tanto tempo, vivo com fome e cansado. Seria...? Não, não posso pensar assim. Jasmine me espera, eu prometi. Obrigado ó céu pelo milagre.
A resposta foi a silêncio da noite, acompanhado de um miado tímido do gato que estivera sumido.
E, depois, de volta ä Roma, Giovanni ouvira de novo, saindo da boca da fonte da Verdade.
- Procure a estrela do norte. Ela está lá.
Para Deus tudo era possível, todo lugar um só.
A bem da verdade, depois de resgatado da ilha Giovanni tentou não pensar no assunto. Podia-se dizer que desistira. Afinal, como faria para chegar tão longe quanto a estrela do norte?
Ficou deitado no meio da praça. A voz voltara a avisá-lo e ele tentava não dar ouvidos. Onde ficara seu amor por Jasmine?
Lamentou. Lamentou profundamente a água que jorrava da fonte, a água que descia da nascente do rio.
Tudo girou ao seu redor, sem demonstrar nenhum interesse. Giovanni chorou pelo seu destino e lastimou a escolha, o naufrágio e o retorno.
Para quem não deseja, o destino se mostra ingrato.