quinta-feira, julho 05, 2007

Penélope fala sobre Deus

Outro dia estava andando de trem, no último vagão, com aquela linda janela na parte de trás para ver a paisagem se afastando.
Na minha frente estava um pedaço de vidro, quadrangular e transparente. Não sei para que servia, mas estava entre o meu banco e a porta; devia ser para conter, ou separar.
Como era começo de tarde, os raios de sol iluminavam todo o interior do trem e fizeram do vidro uma superfície espelhada, onde se reuiniam visõs diferentes e sobrepostas.
Percebi que podia enxergar o que havia atrás de nós - árvores, pessoas, cidade passando pela janela - junto ao que podia ver dentro do trem - gente em pé ou sentada nos bancos brancos. Deste modo, um homem de paletó conversava no meio da rua, enquanto carros o atravessavam e uma mulher de roxo o apontava ao apontar uma porta. A tudo isso misturou-se a visão dos lugares para onde íamos, pela janela da frente do trem, vista através do curioso pedaço de vidro.
Pedestres cruzando a linha e bancos brancos embaralhados. A rua se dirigiam para a frente no mesmo lugar em que voltava. Pensei em Deus, que era ir e vir ao mesmo tempo, e que podia estar em diferentes lugares estando em um só. Em meu espelho se misturavam casas e prédios, construções incabadas sobrepostas a velhotes. Uma mulher estava dentro do trem e fora na rua. Percebi que além das três visões podia enxergar também a superfície riscada do meu vidro e meu próprio reflexo, a olhar entre carros e crianças.
Havia uma mulher - dentro e fora - que olhava para o lugar onde estava uma árvore, mas não a via, por mais que tivesse os olhos abertos e atentos. Porque a imagem da árvore só era visível pelo espelho, como se este fosse meu próprio Olho de Deus.
A mulher não via a árvore. Estava olhando para ela, mas não a via. É muito difícil conceber, em cada ponto do universo, todos os pontos do universo, sem a ajuda de um pedaço de vidro iluminado pelo sol.
Penso que todos os lugares que olhamos contém, invisíveis, casas, senhores, cachorros...

4 comentários:

Charles Bosworth disse...

Este texto é claramente apócrifo. Todos sabem que não existe sol em Kyzywky.


Pessoas, estou saindo de férias. Feliz julho para vocês, divirtam-se!

Vivian Tsuzuki disse...

Er, Charles, eu fiz um blog

(?)

Feliz férias =]~

muriel disse...

que bonito.

Pioux's disse...

por isso deus eh tão hardcore!
haushuas