sexta-feira, setembro 14, 2007

Floating


Os viajantes desceram do céu, calmamente flutuando sobre um pedaço de terra que, recém-perdidas suas capacidades voadores, paira, seguindo uma lenta linha reta até o chão, suave como uma pluma, mas firme, talvez como um balão.
A vista que se mostra de seu veículo celeste é ampla e incomparável. Miúdos animais se movem lá embaixo, na beira de um vasto rio que daqui de cima é somente um laço abandonado sobre a terra.
- Olhem as manadas, parecem formigas! - Zapper apontava, inclinado perigosamente sobre a borda do pedaço flutuante de terra - Nunca pensei que fosse ver os elefantes pequenos, ou que houvesse uma vista tão bonita assim.
- Dá pra ver até as montanhas do leste - disse Teobolt - Pelo visto, vamos cair mesmo nas Terras Baixas. Estamos flutuando em linha reta para aquele rio.
- Haverão monstros, como nas histórias? - perguntou Myshba, e com razão: as Terras Baixas estavam proibidas para qualquer humano das planícies, por causa de seus animais terríveis, doenças fulminantes, homens selvagens e criaturas nunca antes imaginadas, a não ser em pesadelos.
- Tenho medo do que espera lá embaixo - admitiu Mellock - Será mesmo seguro? Não há como desviar nossa rota?
Alguns negaram com a cabeça, outros olharam em volta. Após a borda da rocha flutuante - ou antes, desflutuante, que caía devagar - estava o abismo, a queda branca por entre as núvens. Os viajantes não tinham coragem de mexer no chão em que pisavam assustados, temendo acelerar a queda ou mesmo quebrá-lo em torrões menores e, esfacelados, caírem, caírem, caírem...
- Bobagem! - riu Zapper - Não há nada disso lá embaixo! As Terras de Manuió são minha casa, não há monstro algum, nem perigos ou criaturas assustadores . Lá só existem rios e planícies, com um mato tão alto que as crianças podem andar sem serem vistas. Na minha aldeia moram caçadores tão bons que podem farejar animais como um abutre ou seguir a trilha de ratos através dos lagos. Meu pai é um deles. E Akane. Será que podemos passar na minha casa? Já que estamos aqui, já que estamos descendo?
Karyn concordou alegre - Não será nenhum problema. É bom ter algum amigo quando se chega em uma terra desconhecida. Mas tenho que lembrar que nós temos uma missão - disse, levantando um dedo e usando sua voz responsável.
- Sim, sim! Eu disse que iria ajudá-los, não disse? Quem sabe o próprio Akane não seja o próximo escolhido que vocês estão procurando? Ele já enfrentou um rinoceronto, cara a cara, sabiam?! E sabe falar a língua dos macacos, pescar com as mãos e ler as estrelas.
- Talvez as Terras Baixas não sejam tão assustadoras quanto pensávamos - disse Neyleen, olhando a savana distante se aproximando - Como você as chamou? Terra de Manuió? As montanhas são lindas, e os animais parecem incríveis. Olhem aquele bando: estão indo até o lago beber. Impressionante podermos ver tudo daqui de cima.
O naco de terra em que flutuavam deu um solavanco e inclinou ligeiramente de lado.
- Fiquem neste lado - disse Hoshy - É mais seguro por aqui.
Um vento soprava do oeste enquanto desciam um pouco mais rápido.
- Acho que a força que o sustentava está se extinguindo de vez - disse Mellcok assustada - Não tem como segurarmos um pouquinho, ir mais devagar?
Karyn balançou a cabeça, de cima para baixo, como se dissesse "sim", mas depois de um lado para o outro enquanto mordia os lábios, como se dissesse "mas será difícil". - Vamos esperar que ele fique mais rápido.
Agora viam a curva do rio para onde estavam flutuando. Um embondeiro imenso esticava seus galhos verdes (era verão!) e sombreava a paisagem.
- Estamos chegando, está cada vez mais perto! - disse Zapper, com mais felicidade do que medo, pois voltava para casa, para a terra marrom que conhecia, para os sons de pássaros familiares e o cheiro que tinha o capim na estação chuvosa.
O vôo começou a se tornar uma queda. Karyn falou uma palavra mágica e segurou o naco de terra. O oeste se cobriu pelas nuvens e o horizonte subia cada vez mais perto.
Como pássaros, os viajantes chegaram do céu. O pedaço de terra flutuante ganhou cada vez mais velocidade apesar do esforço de Karyn, mirou próximo a curva do rio e ao embondeiro e caiu, se esparramando no chão. Com o choque, se quebrou em vários pequenos torrões e sumiu do mundo o pedaço de terra que flutuou desde o céu. Os viajantes voaram e caíram na grama, rolando pela savana amarelada, desnorteados e tontos. Zapper se levantou de pronto, recomposto e feliz, e aspirou o cheiro que sabia desde criança.
- É daqui que eu vim! - exclamou.

4 comentários:

Anônimo disse...

Poxa, charles! Eu nunca venho aqui, e quando venho vc fala que me odeia e me manda embora?!?!

Assim não dá, não leio mais >.<

Ozzer Seimsisk disse...

Quero ler essa história do Zapper (quase falei Chopper ^^;;;)

O que aconteceu, Gato? Por que você me odeia? Posso fazer alguma coisa?

Anônimo disse...

Haha, os dois têm a ver, eu perdôo a confusão.

Não te odeio! Nem sei do que você está falando. O que houve? Foi domingo?

Vivian Tsuzuki disse...

Charles, seu aniversário é dia 16 ou 17 de novembro?