Antes que pudesse reagir.
Logo ao amanhecer.
Irracional, iracundo, resilente.
A árvore ficava no centro da cidade.
Uma cidade feita de areia, com um grande pináculo no centro, onde se erguia um gigantesco espelho que mostrava, em sua superfície serena, uma cidade parecida mas não igual à esta na qual transitavam pessoas e roupas similares mas não exatamente estas. Era a porta para uma cidade correspondente, poderíamos dizer. Um espelho não só do contrário, mas muitas vezes do duplo, do outro que nós também somos.
Um mar vermelho e flutuante.
Sempre que a canção soava seu coração se alarmava e as vozes que antes eram calmas ficavam agitadas e ele perdia o próprio som e o controle da voz.
Um povo feito da brisa fria que o gelo traz.
O rugido constante já incomodava seu ouvido, a caverna não abandonava seus pensamentos de modo algum.
Debaixo da árvore, a mulher esguia cantava e sua voz, na noite, era o vento nas copas ou o silêncio que precede o adormecer.
Uma cidade feita de gelo, com um grande monumento no centro, sobre o qual estava pousado um enorme espelho cuja superfície registrava uma cidade parecida, mas não igual à esta. Onde casas e rotas mercantes também estavam, mas as portas abriam para lugares diferentes e as caravanas voltavam de outras regiões. Não o nome invertido, mas trocado, secretamente residindo dentro da voz original.
Um rio de cores.
A pianola registrava os sons ferozes que despertavam das mãos da professorinha de piano. De onde saía tanto bramido?
O homem que a seguia também parou. Por um momento a olhou diretamente antes de erguer o jornal e se esconder atrás das folhas de reportagens.
Afagou o pelo macio e se sentiu afundar no amor por aquele animal tão pequeno.
Como era antes? A música escutada toda noite, os bailes onde se reuniam, o silêncio maior dos lares, as noites mais escuras e sem as eletricidades extravagantes de hoje.
Os patos voavam. Era assim mesmo que parecia, por sobre a superfície da água que refletia o céu. E tinham um jeito tão curioso de voar! Com o corpo retraído e asas fechadas. Dava esperança a um humano, que nunca teve asas e só podia sonhar e fingir que voava sem precisar delas.
O fim do caminho era um bosque assustador.
O fim do caminho era a rosa vermelha em cima da mesa quando voltou.
O fim do caminho foi quando o iogue terminou sua história. Arrumou suas malas, foi para casa e resolveu o temido assunto no teatro público.
Apagaram-se as velas.
Começou um burburinho intenso no palácio.
Dizia o alquimista que o mundo era feito de quatro elementos, mas nós sabemos que são muito mais e que são quase incontáveis e maravilhosas as coisas que o mundo pode produzir.
terça-feira, maio 13, 2008
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Um comentário:
será que é mesmo o mundo que produz?
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