"O príncipe exilado Salaricäa soube que o homem que procurava estava no topo do monte. Ele estava com pressa para terminar logo sua busca. Assim que ouviu as palavras da boca de um velho camponês, as palavras que continham o paradeiro do homem que procurava!, esporeou seu cavalo e galopou na direção do monte escuro que deixava toda a paisagem sinistra.
- Estou chegando, estou chegando! ele gritava e balançava em frêmito. Atravessava a terra desolada com suas casas abandonadas de telhas destruídas e aranhas onde as janelas perderam os vidros.
Difícil de acreditar no que o velho dissera. Que aquele homem - aquele homem! - estava lá em cima, no topo da rocha nua do monte.
Mas tinha de ser verdade, como era verdade tudo o que se dizia a respeito dele e todos os sinais que o indicavam. Salaricäa buscava-o a tempo suficiente para saber disso. Sabia que "um homem que viera do mar e era diferente de todos os outros" era ele, e que se via na porta da alguma taberna suja o símbolo de uma estrela, aquilo se tratava sem dúvida de uma pista ou de um sinal, que o príncipe deveria imediatamente decifrar e seguir.
E agora, o monte sinistro, onde o fim se daria. Ou assim ele esperava."
A história de Salaricäa é a história de um jovem príncipe. Seu reino abole a monarquia e ele é exilado. Passa a vagar pelas terras desoladas que não pertencem a país nenhum e assume uma estranha mania: perseguir o homem. Tudo são evidências de sua passagem, tudo são sinais de sua direção. Salaricäa persegue-o sem cansar-se. Talvez porque já intua que sua salvação depende disso.
Um velho ministro que, apesar do fim da monarquia ainda insiste no antigo cargo de aconselhar o jovem príncipe, avisa-o da verdadeira natureza de sua jornada. Salaricäa está mais interessado no relato de um velho camponês que diz ter visto o homem no alto de um rochedo sinistro e já esporeia o cavalo enquanto o ministro grita ao longe:
O homem que ele busca é um espelho. É um homem que ele gostaria de ser mas ainda não é.
"Vi a casa da minha infância transformada em terra de fantasmas. Eu mesmo era um lobo perdido, transformado inevitavelmente em estrangeiro diante da casa vazia.
Corri para longe, para fugir da terra desolada.
Eu era um lobo negro, fugindo.
Depois de um tempo cheguei à terra dos pássaros. Eles me acolheram bem, apesar de não me reconhecerem. Trataram-me o tempo todo como se eu fosse um lobo. Voamos, e eles me ensinaram a ler o vento.
Agradeci aos pássaros e continuei pelo vale dos fantasmas, desviando dos espíritos que me espreitavam. Atravessei a terra dos seres sem alma até chegar no Portão Escuro.
E corri, corri pela escuridão, corri no meio do vazio negro, corri sem ver por onde corria. No final da sombra, estava uma floresta de vaga-lumes e o Homem das Calças Brilhantes.
Olhei no espelho e tinha a imagem de uma criança. Trabalhei para o Homem de Calças Brilhantes, que tocava seu violino e me fazia lavar pratos. Eu era uma criança sem ser um infante."
Eu preciso encontrar Salaricäa!
Preciso achar o príncipe que persegue o homem que queremos ser.
Somos três em perseguição - será possível nos encontrarmos?
Preciso encontrar Salaricäa e com isso encontrar a pista do homem que ele busca e chegar a este homem primeiro. Preciso encontrá-lo, devorá-lo e tornar-me ele, para com isso dar a volta e encontrar Salaricäa.
"O homem era medonho. Parecia a Salaricäa que via algo de outro universo. Algo que estava proibido de ver. Contorceu-se no chão e pressentiu outra das metamorfoses chegando. Desta vez teve medo porque pensou que seria esta a transformação final que o deixaria igual ao homem.
Contorceu-se mais de frustração do que de raiva ou pavor. Como as outras, não podia evitar esta.
Ainda olhava o rosto do homem.
Ainda olhava para o terrível futuro do que seria ele mesmo."
domingo, maio 31, 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
como se pronuncia o nome do título?
Postar um comentário