segunda-feira, julho 06, 2009

A farsa

Dois viajantes se encontram na cabana de um porqueiro. A chuva é forte do lado de fora e o porqueiro os refugia debaixo das madeiras tortas.
- Qualquer homem na minha casa é bem vindo, diz o porqueiro, estas palavras voando da cerca de seus dentes. Mesmo que eu seja um escravo de condição inferior, não permitirei que meus hóspedes passem mal. As coisas estão ruins no reino, não há necessidade de prolongar o sofrimento em minha cabana.
Um dos viajantes, que acaba de chegar de terras distantes, resolve perguntar sobre o lugar em que está, enquanto come um pedaço de carne oferecido.
- Fazem anos que meu mestre desapareceu - diz o porqueiro lamentando-se - Agora seu palácio está tomado por outros homens, sua safra é desperdiçada na boca de estrangeiros e seu filho não tem quem o guie.
O outro viajanta fica em silêncio, sua cabeça parece perdida em profundas contemplações. Este segundo viajante é o filho do mestre desaparecido. Ele pensa em seu pai. Morreu no mar? Morreu na guerra? Quem têm notícias de um homem valoroso?
O segundo viajante continua a escutar o porqueiro.
- Sou escravo da família desde que era criança. E sempre me trataram bem. Não são como esses homens que hoje ocupam seu palácio, comem sua plantação, exploram seus camponeses e cortejam sua mulher.
- Então há quem espera ele voltar? - pergunta o viajante.
- Esperamos e somos muitos. Mas há aquelas criadas que pensaram ser mais fácil deitarem-se com os novos patrões do que lhes resistir. A esposa porém, permanece leal e firme.
Este viajante olha para o jovem que entreouve a conversa distraído. Intui que ele tem alguma relação com o rei desaparecido. Intui que o conheceu a muito tempo, que não se lembra de suas feições com perfeição. Do mesmo modo sua esposa, que conheceu o marido por alguns dias apenas antes dele partir para a guerra.
Ele veio de Creta. Já contou todo o tipo de histórias no caminho. Já foi um escravo capturado no Egito, um lanceiro fugitivo, um soldade buscando a Trácia, um frígio, um pretendente e um vendedor de cavalos que naufragara. Ganhara um barco na última cidade que visitara, contanto histórias de monstros e feiticeiras como se fossem reais.
Seria simples, ele intuiu, inventar uma outra história agora. Algumas cicatrizes, algumas transformações atribuidas a Atenas, bastava muito pouco.
Quando a chuva parou, um dos viajantes se transformara em um rei na cabana do porqueiro.

Um comentário:

Bruno K disse...

fui ver o show dos beatles num céu de diamantes, como havias recomendado um tempo atrás. bem bom o show realmente. muito boas as harmonias e etc e tal pras músicas. ficaram boas e diferentes.