segunda-feira, outubro 05, 2009

A Estrada de Sangue - A História

Achada raspou suas máos ásperas em seu pescoco. Saboreou com os dedos sua pele. Sentiu devagarzinho as rugas e dobras e várias ondulacóes que a idade lhe trouxe. Vestia apenas colares e pulseiras.
Cantou a cancáo antiga, sentindo-se louca.
Estaria? So podia ser, náo é mesmo? Digo, ela deveria estar louca. Dancando ali, no meio da floresta, longe e mais longe de qualquer pessoa. Vocé viu também, os seus olhos, quando Achada pegou a cabaca e passou devagarzinho o seu dedo enrugado naquele liquido vermelho e viscoso. O dedo pingava do liquido vermelho! Os olhos dela cresceram e enlouqueceram. Ela ouvia coisas que nós náo ouviamos!
Vocé disse que deviamos achar uma outra pessoa para lhe fazer companhia. Um outro que cuidasse da velha Achada e lhe desse de comer, de dormir e de cantar. Mas e quem teria vontade de sair da clareira naquele momento? Todos queriam ver o que a velha ia fazer. Ninguém se moveu, ninguém foi chamar uma pessoa nos vilarejos distantes.
Ela já náo tinha nem forcas para cantar. Aspirava o ar cansada. E foi assustador quando achada comecou a cobrir seu corpo com o sangue da cabaca.
Sangue, sangue, sangue.
Achada enlouquecida. As pessoas eram enlouquecidas.
E nós, os mortos, os anti-pessoas, só podiamos olhar fascinados ao que ia acontecer.
Tudo dentro da cabeca dela, voce se lembra? Quase podiamos ver sua loucura, que crescia como fumaca. Essa fumaca escura tornava as árvores viscosas, cobrindo-as com um óleo repugnante. A floresta comecou a perspirar cera. Os insetos morriam nos troncos das árvores, as patinhas ainda estendidas para cima, paralisados pela loucura que escorria do céu.
A estrada de sangue se abriu no corpo da velha. Era uma linha vermelha e comprida que ela desenhara em sua pele e que seguia e seguia ao longo dos seus membros. Depois de desenhar a estrada ela dancou. A danca abriu o caminho e Achada comecou a percorre-lo dentro de si.
Nós viamos. Ela ia na direcao do enorme buraco escuro que temos dentro de nós. É o buraco onde nós terminamos e ao qual todos estamos combinados. Achada se jogaria em todo-mundo, na parte de si que era a mesma em todas as pessoas, no abismo que liga os homens e mulheres do mundo e sobre o qual eles náo podem pensar...
Em sua loucura ela era uma miniatura de si-mesma, andando em sua pele, subindo e descendo suas coxas, perseguindo a trilha vermelha.
E a estrada de sangue a levou até

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