Li um livro de Laura J. Hosossian, pesquisadora chilena da área de Letras. Nele, ela analisa os diários escritos pelos soldados que participaram da Guerra do Pacífico, (entre Chile, Bolívia e Peru) e tenta entender como a experiência da guerra e a noção de nação (que ainda nascia naquele momento) vão se desenvolvendo e tomando forma, a partir das experiências que os soldados viviam.
O que me chamou a atenção foi esse parágrafo, da introdução:
"No capítulo (...) a análise recai sobre um pequeno conto, cuja leitura leva a uma constatação importante: a batalha, o acontecimento em que a violência aparece formulada em todo seu apogeu, é enfrentada diretamente só pela ficção ou pelos livros de História, enquanto que os relatos de testemunho em primeira pessoa evitam-na e a contornam por caminhos oblíquos. A dor diante da ferida e da morte parece não ter cabido no discurso 'em carne viva', somente o distanciamento temporal permite sua elaboração que, na grande maioria das vezes, a incorpora no discurso eufórico do nacionalismo."
que me lembrou muito de uma passagem do último livro das Desventuras em Série. Como disse Lemony Snicket, descrevendo uma tempestade:
" É inútil para mim descrever como Violet, Klaus e Sunny se sentiram horrivelmente mal nas horas que se seguiram. A maioria das pessoas que sobreviveu a uma tempestade no mar fica tão abalada pela experiência que nunca mais quer falar sobre isso; portanto, se um escritor quiser descrever uma tempestade no mar, o único método de pesquisa possível é estar em um grande barco de madeira. Mas eu já estive em um grande barco de madeira com um caderno e uma caneta, pronto para fazer anotações caso uma tempestade me atingisse subitamente, e quando a tempestade passou eu estava tão abalado pela experiência que nunca mais quis falar sobre isso. Por essa razão é inútil para mim descrever a força dos ventos que rasgavam as velas como se fossem de papel e faziam o barco rodopiar como se fosse um patinador no gelo se exibindo..."
E do mesmo modo me lembrei da escritora escocesa que me disse:
"Contar uma história é sobreviver à ela."
Então, só podemos transformar em história aquilo que terminou. Talvez, poderíamos dizer, os que viveram a guerra e a tempestade não sobreviveram a esses acontecimentos, tão trágicos, tão intensos, e não puderam dar um sentido a isso. Ou seja, não puderam prender a experiência com palavras e colocar uma linha de sentido
O que me leva a pensar que a História não se trata de reviver o passado e suas histórias, mas pelo contrário, de enterrá-lo, terminá-lo, e prendê-lo a uma narrativa.
Poderia, claro, juntar outras coisas à essas idéias. Alguma sugestão?
quarta-feira, junho 02, 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário