segunda-feira, agosto 07, 2006

Gwich

A xamanisa, puxou o bordado para mais perto. Continuou a mover sua agulha sem pressa, construíndo um desenho estrelado na colcha.
- Que tempestade terrível está acontecendo lá fora, ela falou para a gralha empoleirada próxima à lareira. Parece que o mundo resolveu cair em cima de nós hoje.
A ave escura piou agourenta.
- Quando a neve cai assim não há como sair de casa. Uma pena, queria tanto olhar o céu.
Gwich puxou a colcha molambenta mais para cima e se cobriu com ela.
- Nada de estrelas hoje, Galabura.
A ave olhou para a janela.
- Nada de sair para falar com os ursos também, continuou Gwich. O pico estará fechado para qualquer visitante enquanto a neve continuar.
Galabura, a gralha, começou a piar excitada, movendo rapidamente as asas para cima e para baixo.
A bruxa abriu um olho e espiou os movimentos frenéticos da ave.
- Você tem certeza de que estou errada? ela perguntou sorrindo. Você viu a tempestade lá fora, não viu? Ainda tem certeza de que há gente vindo?
O pássaro começou a voar em círculos pela pequena cabana.
- Se bem que..., começou Gwich. As estrelas estiveram estranhas esses dias. Não me surpreenderia se... Páre Galabura, faça silêncio e deixe-me pensar!
A ave continuava a se mover apressada, piando alto.
Um idéia muito perigosa dominou os pensamentos da bruxa.
- Não pode ser!, gritou Gwich. Estive assim tão distraída? Maldita tempestade, será que a hora já chegou?
Com um pulo Gwich, a xamanisa, conhecida também como Cailleach Poliahu, saltou de sua cadeira derrubando a colcha no chão. Partiu para a porta e a abriu com um puxão enérgico. O frio perfurante invadiu a pequena cabana, trazendo flocos de neve consigo.
Galabura imediatamente voou para fora e sumiu na escuridão gelada.
No chão, bem na soleira de sua porta, Gwich encontrou um homem.
Caído, com frio e tremendo, estava um senhor idoso, de óculos tortos e olhar vazio.
- É você? perguntou clamamente Gwich. Aquele que eu estava esperando?
- Meu nome... é Fren Armmad-
- Agora não., sussurrou a xamanisa, puxando-o para dentro. Colocou o homem em sua poltrona próxima ao fogo e a colcha por cima.
- Meus amigos... eles ainda... estão lá - ele apontou para fora.
- Eu sei, eu sei... ela suspirou, vestindo uma enorme pele de urso para se aquecer. Vou buscá-los, por isso fique aqui.
- Obrigado... mesmo, eu-
Gwich já saíra, sorrindo.
Achara o seu escolhido do Gelo.

Teobolt estava encolhido por cima dos garotos, tentando protegê-los do vento. À muito não sentia mais suas costas ou dedos e torceu para que Fren não demorasse.
De súbito um ruído de mau agouro cortou o barulho da nevasca. Uma grande gralha cinzenta pousou ao seu lado.
- Vá embora.. murmurou Teobolt, tão baixo que ele mesmo não se ouviu.
A ave piou.
"Isso é morrer? É essa a imagem da morte. Ela veio nos buscar."
Com determinação, ele puxou Neyleen e Myshba para mais perto de si. Não deixaria que ela os levasse.
Mizudinie pôs a mão em sua bochecha, como um sinal tranqüilizador. Depois, apontou para a direção em que Fren sumira na noite escura.
Uma enorme figura se movia devagar na neve. Parecia um grande urso peludo que se arrastava contra o vendaval, indo na direção dos viajantes.
- Fren... ele conseguiu... murmurou Mizudinie. ...Ajuda..
A gralha piou mais uma vez e a enorme figura pôs uma pata por sobre Teobolt
- Vamos, vamos... É só mais um pouco à frente. Vocês podem conseguir - dizia uma voz sobrenatural que parecia mais adequada à um espectro do que à grenade figura peluda.
- Quem é você? perguntou Foxy. Seus olhos estavam apagados e seu corpo dormente, mas ainda assim ele não confiaria em sombras misteriosas.
A figura peluda riu como uma bruxa.
- Vamos agora. Sejam bem-vindos às Terras Frias, reino de Gwich.
- É uma feiticeira... sussurrou Neyleen, sem forças.
Uma mão saiu de dentro da massa peluda e pousou no rosto da garota. Sou sim, ela disse, e fechou os olhos de Neyleen devagar. Agora durma, disse Gwich, todos vocês.. Estarão em segurança logo...
Uma canção primitiva invadiu os ouvidos de Teobolt. Um ritual de algum tipo se iniciava... O vento silenciou, o sono cresceu e uma voz cantou.
Teimando em ver se todos estavam em segurança, Teobolt lutou contra a vontade de dormir e contra a sensação de ter seu corpo sendo carregado por forças invisíveis. Sentia sempre a grande gralha do seu lado, piando baixinho. A aurora brilhava no céu. As estrelas piscavam entre a nevasca. Uma mão conduzia-os para onde não era frio.
Sem força alguma para resistir, Teobolt adormeceu.

12 comentários:

Charles Bosworth disse...

Tem a sua resposta agora, Marina?
Ou melhor... Acho que não.
Não era isso que eles procuravam na nevasca, mas foi isso que eles acharam (post, estou feliz, sabia?). Às vezes o que se acha é mais importante do que o que se procura.

Anônimo disse...

olha eu li uma história!
por acaso elas tem começo meio e fim?
Que divertido!
char, você escreve bem!

Charles Bosworth disse...

*Ugo começando a entrar no universo de histórias do Charles*

Pioux's disse...

ele ta tentando se redimir =p


fiquei curiosa para saber mais sobre a feiticeira!
e sempre o q agente encontra eh melhor do que o que agente procura...

Charles Bosworth disse...

Eu coloco ainda um outro texto sobre a Gwich, pode deixar... quem sabe um sobre o Lúcio também.. Uh!

Pioux's disse...

lúcio?

Ozzer Seimsisk disse...

de fato, quem é lúcio?

Charles Bosworth disse...

Boa pergunta... Ele mora em um relógio de gelo, junto com outras trezentas pessoas, mas acho que isso não explica muito bem. Para explicar Lúcio eu tenho que contar a história de Fren e a história de Gwich. Eles três têm uma história em comum, envolvendo o tal relógio de gelo. Mas ela é looonga e eu ainda não sei bem qual é.

Artur disse...

Essa Gwich me lembrou um pouco a Yubaba... eu gosto da Yubaba...

Charles Bosworth disse...

Yubaba... Yubaba...
Que nome legal!!!
*pisk pisk*
Ahhhh!!

Ozzer Seimsisk disse...

hehe me lembra a irmã da Yubaba na vdd... ^^

atenção para o "ela é looonga e eu ainda não sei bem qual é"... Só o Charles mesmo...

mas acho que a Gwich sempre vai me lembrar a Dra. Kureha. É indissociável, sabe?

Charles Bosworth disse...

Eu sei, também penso a mesma coisa.

Ei marina, pare de zombar de mim! Esse é meu blog! Aqui eu zombo dos outros. De você, principalmente. ^.^ hihihihi! (ou devo dizer *rrrr*...)