Sark viu morrerem todos aqueles a quem queria bem. Por último, deitou-se ao lado de seu avô e sumiu do mundo dos vivos. Ficou dentro da tumba escavada na rocha completamente imóvel, até que a sua pele adquirisse uma brancura pálida e o coração não mais doesse de tanto ódio. Só não conseguiu, em sua mímica de falecimento, compreender os segredos d'Aquele Outro Lado, e seu avô em nenhum momento se levantou para o levar para longe de onde, na súperfície, ele fora já esquecido e tido como mais uma vítma da Guerra sem fim.
Enquanto isso, em Estafansa, nascia uma pequena garotinha chamada Penélope, com toda a gritaria e choradeira que convém a um recém-nascido.
Seus pais imediatamente se apaixonaram e a enrolaram em panos macios, oferecendo aos deuses um delicioso pote de mel no santuário local. De fato, ao crescer, Penélope seria uma consumidora ávida desta iguaria rara do norte e, fora isso, basta dizermos sobre sua infância que ela já escrevia os diários aos 7 anos.
Uma noite, quando os astros estavam de humor afiado, a nossa garota saiu de dentro da casa abafada para respirar as estrelas. Penélope contava treze anos e estava sentada em uma cerca, olhando o vazio da estrada se alongando na noite quente. Eis que um homem aparece e lhe pede indicações sobre o caminho até a Torre de Uruguthár.
Esse homem, esse viajante, era o próprio Henry Sark, agora aprendiz do exímio espadachim Haramis Mictian, em busca de um emprego na nova torre que estavam construíndo no Império de Olstomé.
Penélope inclinou a cabeça e pensou em quem seria o desgastado caminhante. Era mais jovem do que parecia, ela reparou.
A garota lembrou-se de um campo de girassóis que havia por perto e, sem saber qual seria a direção da Torre, mas sem querer desapontar a Sark, apontou-lhe a direção das flores, esperando que ele melhorasse de humor ao vê-las. E foi essa decisão que atrasou a chegada de Sark a sala escura em Uruguthár, e que uniu, pela primeira vez, mas certamente não a última, a vida dos dois jovens.
Vendo Sark desaparecer na noite quente, Penélope não podia imaginar que estaria anos mais tarde escrevendo furiosamente sobre ele, buscando aplacar um sentimento forte demais. E também não poderia imaginar que seria por sua causa, pela menção de seu nome esquecido, que H. Sark iria cruzar as montanhas até o Oeste, em busca de algo oculto, mas igualmente forte.