Outro dia, a tanto tanto tempo, havia brigado com minha irmã e meu primo. Nós três estávamos ainda meio irritados, esperando o barco chegar em um cais pintadinho de branco, com um quiosque e um condomínio ao lado. Andava de um lado a outro pelo quiosque, tentando fazer sumir a irritação tola, quando ouvi um som vindo de dentro da área hezagonal murada onde, de noite, se cozinhavam crepes. Olhei por cima da bancada e vi um passarinho. Um delicado passarinho que piava sozinho lá dentro. Tão bonito, tão docinho. Acho que ele não estava conseguindo sair, estava cansado ou tinha um ninho escondido por perto. Meu primeiro impulso foi mostrá-lo aos outros, chamar pela minha irmã, por alguém, dividir aquela delicada existência com outra pessoa.
Não, parei. Estávamos ainda meio irritados, meio ressentidos. Não iriam vir. Mas e agora, eles não vão ver o passarinho? Não vão ver, só eu? Eles teriam me mostrado algo assim?
Não preciso mostrar a eles. Pela primeira vez em minha vida eu pensei: Não preciso contar tudo para as pessoas. Foi o dia em que os segredos começaram, as experiências nunca compartilhadas passaram a existir. Não preciso contar tudo às pessoas, elas não precisam saber de tudo o que acontece. Assim, aquele dia, o passarinho foi só meu. Só eu ouvi seu pio.
Logo depois o barco chegou e fomos embora. E acabou-se segredo dentro do quiosque, acabou-se uma experiência nunca dividida.
Estranhamente, nunca contei essa história à ninguém. Afinal, essa é sua moral: não preciso contar tudo para as pessoas. Mas então, por que o faço agora? Por que existe dentro de mim essa vontade enorme de contar sobre o passarinho? Mais que todas as outras, essa era a história que eu queria contar. A história que me ensinava a não contar histórias.
Acho que é, no fundo, um pouco de medo. Medo de que os outros já tenham aprendido isso e solidificado a lição mais do que eu o fiz. Medo de que eu tenha perdido alguma experiência porque alguém sabia que não precisava me mostrar aquilo.
terça-feira, outubro 10, 2006
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8 comentários:
Ah é mesmo Charles??
Acho que eu gostaria de ter visto o passarinho....
Mesmo já sabendo ou conhecendo uma experiência sempre se aprende com ela e... Se as pessoas guardassem elas para si mesmas pensando que de nada seriam úteis as outras pessoas o mundo seria um lugar bem mais triste e não imaginativo.
é verdade, é verdade!
mas nem sempre as pessoas querem saber, né... *sigh*
na verdade o complexo disso é que às vezes as pessoas realmente querem saber...
Bom, charles, cada um é cada um! Você não precisa ser que nem as outras pessoas. Você conta histórias! Você é O contador de histórias. São sempre interessantes e legais, ou pelomenos engraçdas ou bobas o bastante para rirmos de sua cara. Quer dizer, você não precisa se espelhar no mundo para saber quem é você. Você "estava"(ja diria a Claudia) alguém, agora você está outra pessoa. Agora, você não precisa mudar só porque você reparou que você era diferente..! Ninguém é igual a ninguém. Todo mundo é diferente...
Agora, segredos são coisas tão boas! voce podia guardar alguns segredos com algumas pessoas, é engraçado, divertido, da uma sensação boa.
bom... estou com saudades de você também... preciso ver vocês...
abraço! até!
qm relação ao seu about!
Isso é mentiraaaaa!!!
EU LI TUDO Q VC ESCREVEU POR PURA E ESPONTANE VONTADE DE LER E NÃO PQ EU QRIA RIR DE UMA PIADINHA BOBA PQ N SÃO NEM ESSES OS TEXTOS Q EU MAIS GOSTO....
Acho q eu entro aqui pra conhecer vc melhor.... pra admirar o seu trabalho =p (pq eu adimiro muito vc e tudo q vc faz ^^) então para de flar q agente soh eh entereçado nas piadas!
Apoiado! Apoiado! Não desmereça seus leitores, Charles, pode parecer incrível mas nós realmente procuramos ler o que você escreve porque... ... ... péraí, por que eu estou fazendo isso? ¬¬''
Deixe de ser chato, Cham. As piadas são o menos valoroso do seu blog. Eu venho aqui pra ler os textos sobre o mundo, a vida, história, amigos, você, sua família etc. Que bicho te mordeu, hem?
esse é o seu problema, Charles: você não conta as coisas. Pena.
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