segunda-feira, novembro 13, 2006

A tristeza de Angkor Wat


- O que as pedras falaram? - perguntou Mizudinie, sentando-se ao lado da arqueóloga.
- Não sei ainda, não ouvi nenhum sussurro - respondeu Hoshy abaixando o caderno. - Não sei o que há de errado aqui, mas não sinto aquela curiosidade em descobrir o que há por trás. Como se as pedras quisessem ser deixadas sozinhas.
- O passado quer descansar. Vocês historiadores estão sempre tentando acordá-lo e revive-lo - sorriu Mizudinie - O que você acha deste templo?
- Até agora conheci o observatório, onde eles desenharam as constelações no chão, a sala de audiências onde o grando rei Khmer recebia seus convidados e os porões onde eram torturados os prisioneiros. Às vezes a fantasia é melhor que a realidade. Eu gostaria que este templo e o palácio fossem apenas lugares incríveis, sem ter que me lembrar de todas as crueldades e problemas que aconteceram em seus corredores escuros.


Hoshy tenta, ao fim, se lembrar de coisas que não existem mais. O que resta das pedras senão a sua tristeza e vontade de ficarem em silêncio?
O que resta das pedras senão seu nome de pedras? O que antes era tomo, chave, portão, estátua, banco, marca, agora se mistura e fica tudo uma coisa só, com aparência de tempo e noção desconhecida.
As estrelas dos khmer não tem mais seus nomes hoje. O som se perdeu. As coisas se perdem.
Onde estão, neste labirinto de pedras, os sons pronunciados nos cumprimentos de vizinhos, ou nos rituais de encantamento, para que o mundo ficasse de pé.
- Hoje em dia nós não temos rituais para mantermos o mundo de pé - comentou Hoshy - e calmamente suspiramos nossas vozes sem saber que elas também sumirão no tempo, ficarão vazias e cessarão de existir.
O tempo é uma ilusão, disse Buda.
Khmer está aqui hoje, junto à Hoshy e Mizudinie no portão. Charles escreve enquanto a guerra primitiva se desenrola. Ao mesmo tempo o homem descobre o fogo, o garoto descobre o amor e a arqueóloga a câmara subterrânea.
Se estamos todos no mesmo tempo, porque a tristeza no sorriso da estátua?




5 comentários:

muriel disse...

Não sei. Mas isso também se vai com o vento, algum dia...

Eduardo disse...

I.
Suas histórias são legais! ^^

II.
Parabéns, Charles! =)

Utak disse...

Nossa, charles, eu disse que leria suas histórias, mas você escree demais! eu não sei se vou conseguir ler todas essas histórias...

Anônimo disse...

Parabéns, Charlesito!
Como não pude retornar sua ligação antes, nos falemos amanhã...
Muitas felicidades! =**

Anônimo disse...

primeiramente: Que about fofooooooo ^^

segundamente: existe ainda os imortais.... aqueles que ficaram na lembrança de cada um ou cujas palavras não se perderam... Esses nunca serão pedra. u.u