O Festival de São Bartolomeu será daqui a três semanas. Senhora Cassandra já me pediu para juntar as bandeirolas que as mulheres costuram e espalhá-las pela cidade. Ela diz que assim as pessoas terão uma chance de me conhcer melhor e, quem sabe, pararão de suspeitar da estrangeira misteriosa. Não quero montar as bandeiras, porque não sei onde colocar tudo isso e tenho vergonha de sair por aí pondo coisas nas casas dos outros. Mesmo que aquela garota filha da vizinha me ajude, não acho que isso irá melhorar o modo como as pessoas me encaram ou fazer minha aflição e medo de estar sendo vigiada ir embora.
Nada disso vai embora. Acho que isso é para sempre então. Devo me acostumar com a pequena cidade, mesmo que ela nunca se acostume comigo.
(Aliás, tenho medo de que o velho que sempre carrega uma vassoura esteja na verdade me espiando. Não duvido que se ele subesse quem sou me entregaria sem hesitar para os homens da Torre Negra. Detesto aquele velho ranzinza, assim como detesto não saber o que vai me acontecer. )
É por isso que vou para a lagoa olhar os patos. Já são meus amigos e conversam comigo. Todo fim de tarde - ou Crepúsculo - saem da água e caminhamos juntos pela grama enquanto ainda se pode ver. Acho lindo ficar vendo as coisas perderem sua nitidez e as sombras se esticarem espreguiçosas. Por isso acompanho os patos caminhando no quase escuro em seu quase-desengonçado passo, vendo o céu se tingindo de explosão para depois cair em escuridão azul e preta. Quando caminho pela relva nessa hora do dia, meu coração hesita em resistir, pensando em cada coisa pequena e bonita que existe no mundo; sonho em sobreviver somente no Crepúsculo, e dormir o resto do dia. Só assim eu pararia de chorar toda noite por não ser não ser não ser.
Mas o festival está tão perto. E a iminência do dia de São Bartolomeu me deixa mais contente por ver em todos os rostos a alegria de uma criança.
Busquei a água no poço novamente e conversei com as crianças que brincavam ali perto. Elas me disseram que brincavam de "Pássaro Negro", um jogo cheio de corrida e esconder. Sem pensar, achei que estava vivendo aquele jogo; por um instante minha vida se tornou o desafio do pequeno pássaro negro, de escapar e não ser visto.
Chorei debaixo de Sem-Nome pensando nisso. Pensando em como poderia ser livre, em qual abandonar me levaria à liberdade? qual impulso de escolha eu teria que seguir para chegar ao lugar onde terminam todas as coisas?, em como queria abrir minhas asas e sair dali, para - quem sabe, por que não? - conhecer o mar que eu só havia imaginado.
Um melro tinha seu ninho na árvore Sem-Nome. Eu podia vê-lo depois que os coelhos iam dormir, pois era essa hora que ele cantava. Eu caminhava com os patos pela relva e voltava para a árvore para ouvi-lo cantar. Corria então até a casa de senhora Cassandra e chegava cansada no momento em que o jantar era servido. Adoro a sensação da roupa chacoalhar e voar equanto corremos. Adoro passar correndo pela grama e levantar insetos assustados, com a música do melro preto ainda na cabeça e lembrando de como os patos suportavam o clima frio. Eles migram para longe, sabia? Voam em bandos para os outros hemisférios e conhecem partes do mundo banhadas em sonho e magia. O cheiro da noite era complexo e múltiplo, e me fazia querer correr mais ainda, para tentar alcançar as estrelas.
Dentro de casa o cheiro era outro: as mulheres tentavam esconder o odor da comida para não provocar mais fome do que já tínhamos. A guerra deixava pouca coisa em nossas mesas e não era raro jantarmos e almoçarmos apenas pão, comendo os nacos que nos cabiam com avidez. Estranhamente talvez, não me sentia triste ou injustiçada, já que acabara de alimentar os coelhos, caminhar com os patos e escutar o melro cantar, e me considerava satisfeita. No dia seguinte faria o mesmo, e assim por diante até que fosse feliz. Minha nova vida em meio à natureza me dava sempre alma nova para sorver e as palavras me enchiam de vontades no crepúsculo; se tudo continuasse assim, eu seria muito grata ao mundo por poder me colocar em um lugar onde podia ter sempre novas sensações de estar inteira.
Mas à noite pensava. E todo o esforço em busca da felicidade que tive durante o dia sumia como pó. Pensava e pensava em tudo o que não era cheio, em tudo o que me faltava e concluia que sentia que precisava de uma vida. Uma vida nova com menos dores de não querer mais estar aqui, menos querer coisas que sempre estão além. Mas quem disse que as mulheres ganham novas vidas?. A dor voltava sempre, e não deixava de pensar que falhei em ser esposa e escolhida, em ser uma cidadã ativa e uma pensadora; no final das contas nunca existia uma Penélope, era sempre um não-alguma-coisa que sobrava. Será que o tempo cura mesmo nossas dores? Sentia tanta falta de Sark quanto no primeiro dia. Os nossos cortes internos podem ser remendados e curados? Quando será que poderei ser sem-dor de novo? Algo dentro de mim me diz que nunca superarei as feridas enquanto ainda esperar. Se Henry fosse morto, seria mais fácil, mas como em algum momento espero que ele volte, eu crio expectativas que são sempre destruídas, e isso irá continuar acontecendo até o final de minha vida, se eu não perder a esperança, essa coisa estúpida, que me faz continuar querer, quando na verdade tenho que viver nessa cidade e matar meus sentimentos para não sentir mais dor.
-
"Quando você vai parar de subir à colina e chegar atrasada para o jantar?" me perguntou senhor Marco um dia, enquanto cuidava do balcão. Ele achava que estava perdendo grandes oportunidades de me envolver com as pessoas da região e fazer amigos.
Cidade idiota. Não quero nenhum amigo. Quanto menos souberem de mim, melhor. Pois aí nunca saberão quem sou. Isto é... se eu for mesmo a Escolh- . Quero dizer, o que foi que eu fiz nesse sentido? Além de trabalhar no armazém do senhor Marco e subir na colina verde para olhar o lago não fazia mais nada em minha vida. Quem era eu? Ótima pergunta, pena que não havia nenhuma ótima resposta para os céus me darem.
"Gasto meu tempo lendo todos os livros que o senhor me emprestou", eu menti. Lia os livros durante as noites febris de insônia, que não eram poucas. Mas sabia que se o senhor Marco achasse que estava lendo livros ele me permitiria ficar sozinha.
Já a senhora Cassandra entendeu que eu precisava de um tempo calmo para mim mesma. Só que a solução que inventou foi a pior possível: pensando que o tempo que eu passava sozinha era tempo desperdiçado em reflexões tristes que só me deprimiam, me colocou para costurar junto com as outras moças. Pelo contrário! Se ela me ocupasse as noites lhe seria eternamente grata, mas tirar de mim os passeios até a colina e o lago dos patos era terrível. Teria que passar quatro tardes da semana costurando roupinhas de bebês e lençóis para os recém-casados. Àquela altura, já não aguentava mais ver a vida na cidadezinha se repetir: era sempre alguém que se casava ou tinha filhos ou o filho de alguém se casava ou algum casal era filho de alguém que se casou. As fofocas que contavam as velhas moças eram sempre as mesmas. A odiosa dona Hortênsia sabia que eu não tinha habilidade para costura e logo me deu um trabalho difícil para me ver falhar e poder repreender-me com sua voz nasal. Meu Deus! Há algo maior do que isso?! Tem de haver uma vida mais interessante e cheia de cor no universo em que vivemos! Por que ninguém vem me resgatar? Onde você está Sark?! Por favor, por favor, por favor, me salve.
À noite senhora Cassandra pôs minhas mãos na água quente para ver se melhoravam dos machucados. Senhor Marco foi gentil e me deu uma pasta que tirara do prórpio armazém. Os dois tentaram me econrajar e disseram que eu acabaria sendo melhor. "Você ainda tem muito tempo livre, pode praticar sua costura quando quiser" me disse Cassandra com bondade. Expliquei para eles que o queria era justamente poder experimentar a natureza que morava na colina e passar o tempo sozinha, comigo mesma. Não era um tempo de tristeza, contei ao senhor Marco, pelo contrário, era minha parte favorita do dia: vê-lo sumir aos poquinhos e respirar seu cheiro quando virava noite.
Cassandra me permitiu subir à colina quando quissesse. Mas teria que costurar algo, mesmo se fosse lá em cima, já que o festival de São Bartolomeu se aproximava (eu me perguntava se este seria o grande evento social dali) e as velhas damas estavam sobrecarregadas e precisando de ajuda. Coube a mim costurar a fantasia de minotauro, feita de couro simples e um pouco tosco. Era claro que nunca seria a fantasia mais bonita: era esse o modo de dona Hortência fazer com que eu continuasse desapercebida, costurando uma fantasia insossa e inútil. A inveja dela me deixou mais tranqüila: o que não queria mesmo era ter a atenção da cidade, embora, por outro lado, eu secretamente desejei costurar a fantasia de Arlequim, dourada e brilhante.
Cassandra me ensinou bastante, e eu realmente pude aprender praticando sob a árvore, enquanto alimentava os coelhos com cenouras roubadas da despensa.
O melro, o belo pássaro negro que cantava para anunciar a noite, apareceu com dois ovos no ninho. E assim tudo continuava sem mudar. Minha vida parecia ser feita de intensas interrupções e longos períodos de calmaria: grandes baques como conhecer Sark, ser feita Esc- pelos deuses e fugir da casa de Estafansa eram sempre seguidos por períodos de vazio e de uma calma inquieta.
Por quanto tempo continuaria isso? Queria poder ler o futuro e saber se durariam anos ou semanas. Me atormentava pensando que Sark poderia estar, agora mesmo, ali na cidade, procurando por mim.
Me doía imaginar certas coisas: que ele nunca iria voltar; que ele veio e nos desencontramos; que cartas suas foram barradas ou extraviadas; que os peixes de minha antiga casa estavam agora todos mortos, já que ninguém os alimentava havia meses; que as escadarias do Panteão em Estafansa- lugar onde gostava de tomar sol quando menina - estavam sendo tomadas pelos exércitos da Torre Negra; que aquele homem terrível que comandava toda essa guerra assustadora e que aparecera um dia no portão lá de casa sabia onde eu estava..
Nada disso vai embora. Acho que isso é para sempre então. Devo me acostumar com a pequena cidade, mesmo que ela nunca se acostume comigo.
(Aliás, tenho medo de que o velho que sempre carrega uma vassoura esteja na verdade me espiando. Não duvido que se ele subesse quem sou me entregaria sem hesitar para os homens da Torre Negra. Detesto aquele velho ranzinza, assim como detesto não saber o que vai me acontecer. )
É por isso que vou para a lagoa olhar os patos. Já são meus amigos e conversam comigo. Todo fim de tarde - ou Crepúsculo - saem da água e caminhamos juntos pela grama enquanto ainda se pode ver. Acho lindo ficar vendo as coisas perderem sua nitidez e as sombras se esticarem espreguiçosas. Por isso acompanho os patos caminhando no quase escuro em seu quase-desengonçado passo, vendo o céu se tingindo de explosão para depois cair em escuridão azul e preta. Quando caminho pela relva nessa hora do dia, meu coração hesita em resistir, pensando em cada coisa pequena e bonita que existe no mundo; sonho em sobreviver somente no Crepúsculo, e dormir o resto do dia. Só assim eu pararia de chorar toda noite por não ser não ser não ser.
Mas o festival está tão perto. E a iminência do dia de São Bartolomeu me deixa mais contente por ver em todos os rostos a alegria de uma criança.
Busquei a água no poço novamente e conversei com as crianças que brincavam ali perto. Elas me disseram que brincavam de "Pássaro Negro", um jogo cheio de corrida e esconder. Sem pensar, achei que estava vivendo aquele jogo; por um instante minha vida se tornou o desafio do pequeno pássaro negro, de escapar e não ser visto.
Chorei debaixo de Sem-Nome pensando nisso. Pensando em como poderia ser livre, em qual abandonar me levaria à liberdade? qual impulso de escolha eu teria que seguir para chegar ao lugar onde terminam todas as coisas?, em como queria abrir minhas asas e sair dali, para - quem sabe, por que não? - conhecer o mar que eu só havia imaginado.
Um melro tinha seu ninho na árvore Sem-Nome. Eu podia vê-lo depois que os coelhos iam dormir, pois era essa hora que ele cantava. Eu caminhava com os patos pela relva e voltava para a árvore para ouvi-lo cantar. Corria então até a casa de senhora Cassandra e chegava cansada no momento em que o jantar era servido. Adoro a sensação da roupa chacoalhar e voar equanto corremos. Adoro passar correndo pela grama e levantar insetos assustados, com a música do melro preto ainda na cabeça e lembrando de como os patos suportavam o clima frio. Eles migram para longe, sabia? Voam em bandos para os outros hemisférios e conhecem partes do mundo banhadas em sonho e magia. O cheiro da noite era complexo e múltiplo, e me fazia querer correr mais ainda, para tentar alcançar as estrelas.
Dentro de casa o cheiro era outro: as mulheres tentavam esconder o odor da comida para não provocar mais fome do que já tínhamos. A guerra deixava pouca coisa em nossas mesas e não era raro jantarmos e almoçarmos apenas pão, comendo os nacos que nos cabiam com avidez. Estranhamente talvez, não me sentia triste ou injustiçada, já que acabara de alimentar os coelhos, caminhar com os patos e escutar o melro cantar, e me considerava satisfeita. No dia seguinte faria o mesmo, e assim por diante até que fosse feliz. Minha nova vida em meio à natureza me dava sempre alma nova para sorver e as palavras me enchiam de vontades no crepúsculo; se tudo continuasse assim, eu seria muito grata ao mundo por poder me colocar em um lugar onde podia ter sempre novas sensações de estar inteira.
Mas à noite pensava. E todo o esforço em busca da felicidade que tive durante o dia sumia como pó. Pensava e pensava em tudo o que não era cheio, em tudo o que me faltava e concluia que sentia que precisava de uma vida. Uma vida nova com menos dores de não querer mais estar aqui, menos querer coisas que sempre estão além. Mas quem disse que as mulheres ganham novas vidas?. A dor voltava sempre, e não deixava de pensar que falhei em ser esposa e escolhida, em ser uma cidadã ativa e uma pensadora; no final das contas nunca existia uma Penélope, era sempre um não-alguma-coisa que sobrava. Será que o tempo cura mesmo nossas dores? Sentia tanta falta de Sark quanto no primeiro dia. Os nossos cortes internos podem ser remendados e curados? Quando será que poderei ser sem-dor de novo? Algo dentro de mim me diz que nunca superarei as feridas enquanto ainda esperar. Se Henry fosse morto, seria mais fácil, mas como em algum momento espero que ele volte, eu crio expectativas que são sempre destruídas, e isso irá continuar acontecendo até o final de minha vida, se eu não perder a esperança, essa coisa estúpida, que me faz continuar querer, quando na verdade tenho que viver nessa cidade e matar meus sentimentos para não sentir mais dor.
-
"Quando você vai parar de subir à colina e chegar atrasada para o jantar?" me perguntou senhor Marco um dia, enquanto cuidava do balcão. Ele achava que estava perdendo grandes oportunidades de me envolver com as pessoas da região e fazer amigos.
Cidade idiota. Não quero nenhum amigo. Quanto menos souberem de mim, melhor. Pois aí nunca saberão quem sou. Isto é... se eu for mesmo a Escolh- . Quero dizer, o que foi que eu fiz nesse sentido? Além de trabalhar no armazém do senhor Marco e subir na colina verde para olhar o lago não fazia mais nada em minha vida. Quem era eu? Ótima pergunta, pena que não havia nenhuma ótima resposta para os céus me darem.
"Gasto meu tempo lendo todos os livros que o senhor me emprestou", eu menti. Lia os livros durante as noites febris de insônia, que não eram poucas. Mas sabia que se o senhor Marco achasse que estava lendo livros ele me permitiria ficar sozinha.
Já a senhora Cassandra entendeu que eu precisava de um tempo calmo para mim mesma. Só que a solução que inventou foi a pior possível: pensando que o tempo que eu passava sozinha era tempo desperdiçado em reflexões tristes que só me deprimiam, me colocou para costurar junto com as outras moças. Pelo contrário! Se ela me ocupasse as noites lhe seria eternamente grata, mas tirar de mim os passeios até a colina e o lago dos patos era terrível. Teria que passar quatro tardes da semana costurando roupinhas de bebês e lençóis para os recém-casados. Àquela altura, já não aguentava mais ver a vida na cidadezinha se repetir: era sempre alguém que se casava ou tinha filhos ou o filho de alguém se casava ou algum casal era filho de alguém que se casou. As fofocas que contavam as velhas moças eram sempre as mesmas. A odiosa dona Hortênsia sabia que eu não tinha habilidade para costura e logo me deu um trabalho difícil para me ver falhar e poder repreender-me com sua voz nasal. Meu Deus! Há algo maior do que isso?! Tem de haver uma vida mais interessante e cheia de cor no universo em que vivemos! Por que ninguém vem me resgatar? Onde você está Sark?! Por favor, por favor, por favor, me salve.
À noite senhora Cassandra pôs minhas mãos na água quente para ver se melhoravam dos machucados. Senhor Marco foi gentil e me deu uma pasta que tirara do prórpio armazém. Os dois tentaram me econrajar e disseram que eu acabaria sendo melhor. "Você ainda tem muito tempo livre, pode praticar sua costura quando quiser" me disse Cassandra com bondade. Expliquei para eles que o queria era justamente poder experimentar a natureza que morava na colina e passar o tempo sozinha, comigo mesma. Não era um tempo de tristeza, contei ao senhor Marco, pelo contrário, era minha parte favorita do dia: vê-lo sumir aos poquinhos e respirar seu cheiro quando virava noite.
Cassandra me permitiu subir à colina quando quissesse. Mas teria que costurar algo, mesmo se fosse lá em cima, já que o festival de São Bartolomeu se aproximava (eu me perguntava se este seria o grande evento social dali) e as velhas damas estavam sobrecarregadas e precisando de ajuda. Coube a mim costurar a fantasia de minotauro, feita de couro simples e um pouco tosco. Era claro que nunca seria a fantasia mais bonita: era esse o modo de dona Hortência fazer com que eu continuasse desapercebida, costurando uma fantasia insossa e inútil. A inveja dela me deixou mais tranqüila: o que não queria mesmo era ter a atenção da cidade, embora, por outro lado, eu secretamente desejei costurar a fantasia de Arlequim, dourada e brilhante.
Cassandra me ensinou bastante, e eu realmente pude aprender praticando sob a árvore, enquanto alimentava os coelhos com cenouras roubadas da despensa.
O melro, o belo pássaro negro que cantava para anunciar a noite, apareceu com dois ovos no ninho. E assim tudo continuava sem mudar. Minha vida parecia ser feita de intensas interrupções e longos períodos de calmaria: grandes baques como conhecer Sark, ser feita Esc- pelos deuses e fugir da casa de Estafansa eram sempre seguidos por períodos de vazio e de uma calma inquieta.
Por quanto tempo continuaria isso? Queria poder ler o futuro e saber se durariam anos ou semanas. Me atormentava pensando que Sark poderia estar, agora mesmo, ali na cidade, procurando por mim.
Me doía imaginar certas coisas: que ele nunca iria voltar; que ele veio e nos desencontramos; que cartas suas foram barradas ou extraviadas; que os peixes de minha antiga casa estavam agora todos mortos, já que ninguém os alimentava havia meses; que as escadarias do Panteão em Estafansa- lugar onde gostava de tomar sol quando menina - estavam sendo tomadas pelos exércitos da Torre Negra; que aquele homem terrível que comandava toda essa guerra assustadora e que aparecera um dia no portão lá de casa sabia onde eu estava..
Um comentário:
ai ai ai XD ela n sabe tadinha...
Postar um comentário