terça-feira, março 13, 2007

A pegada de Penélope

Vi-o e, com isso, compreendi o fim da cidade. Foi uma visão tão lúcida, tão real, que quase chorei por tudo o que ainda não havia acontecido.
Ele subia a colina mancando, de passos tortos e tristes. Seu cabelo parecia diferente, cortado ao estilo militar usado na Torre. Seus olhos fundos traíam cansaço infinito. Sua alma inteira me gritava algo que ainda não podia caber em palavras.
Ele não havia me visto, por isso permaneci petrificada onde estava e senti a presença invisível atrás de mim que sabia ser da antevisão do fogo que queimaria as casas e devoraria as árvores. A chegada do viajante parecia confirmar o fim. As tochas de São Bartolomeu dançavam tontas, imunes aos presságios que parecia se encaminhar para a realização.
- Sark! consegui gritar por entre os obstáculos de minha própria garganta fechada.
Ele me olhou com medo. Sua sombra me falou a palavra amor e a miha devolveu com a palavra esperança; percebi neste instante que não havia perdido a capacidade de entender a linguagem das sombras e sorri, porque neste mesmo instante o universo era aberto e eu estava em seu centro. Nos braços afoitos de Sark eu estaria sempre no centro, vendo coroarem as idéias e voarem os pássaros migratórios.
- Vamos - ele falou. Estão vindo logo atrás de mim, temos que fugir mais uma vez.
- Você parece mais velho... e mais sábio também Henry Sark.
Ele suspirou a seu modo, como fazia quando me reprovava uma atitude fútil. De minha parte, eu sabia que não estava perdendo tempo, porque sabia simplesmente que não havia tempo algum. Eu havia visto o Juízo Final e sabia que de nada nos servia correr agora, principalmente porque...
- Eu tenho que avisar senhora Cassandra - falei - E o senhor Marco. É bom que eles fujam também.
- Não há tempo meu amor, eles sabem de tudo e vem atrás de você! Eles descobriram, vamos fugir!
- Agora, mais do que nunca, sinto-me aberta. Você não entenderia isso; não passou esse tempo todo esperando.
- Eu esperava também! Esperava por um tempo em que pudéssemos viver juntos. Você não tem idéia do que fiz para enganar Ganz e todos da Torre! Não me diga que foi fácil para mim só porque estava na estrada. Era escuro e cansativo andar pelo mundo sabendo que nenhum dos caminhos era você.
- Eu sei que agora eles sabem quem sou. E que estão vindo. Eu vi.
Ele me olhou profundo. Me disse que nunca havia tirado da cabeça uma mulher chamada Penélope e que morreria por ela agora que tudo estava descoberto.
- Antes eu teria dito que queria poder ficar aqui com vcoê para sempre - contei-lhe - Mas agora quero ser o que finalmente tenho liberdade de ser: a missão de uma escolhida é salvar os outros, quero salvar Cassandra e Marco, e quem mais puder.
- As máquinas de destruição estão vindo aí. Ninguém vai sobreviver.
- Qual fim buscamos?
- Buscamos um final feliz.
- Eu busco um final livre. E, afinal, ser livre é ser feliz? Ou a liberdade nos tira a possibilidade de felicidade?
- Se sobrevivermos a essa noite seremos os dois. Já sou considerado um traidor e expulso da Torre. Você é uma inimiga a ser destruída. Não temos mais lugar nenhum para pertencer.
- Isso não é ser livre.
- Também não é morrer desonradamente. Podemos ir embora agora?
A colina suspirava noite; os ecos da festa que acabaria em tragédia soando no fundo.
- Se temos que fugir não estou fazendo o que escolhi. Então, só para vencê-los, quero fazer o que eu escolho fazer: quero salvar as pessoas da aldeia.
O rugido das máquinas gigantescas começou a soar no horizonte. A qualquer momento, a qualquer instante. . .

3 comentários:

Pioux's disse...

Eu ansiava tanto por essa parte e ela foi tudo q eu esperava que fosse!
Por favor..... mais!

Utak disse...

Eu não entendi a Clara...
A história não tem muito o que acontecer...

VocÊ tá postando apenas pedaços dela...
Como que ela ansiava por esse pedaço?

Bom, a história realmente é intrigante...
Conte-nos o resto dela!

Anônimo disse...

om o reencontro ugo seu bobo -_-"