segunda-feira, maio 21, 2007

O Juramento

Haccu afastou o pó da cabeça e balançou os braços para o ar. Ele respirava devagar, em grandes lufadas, tentando se afastar das pedras que caíram do teto.
- A caverna entrou em colapso! - gritou desesperado - Não é seguro ficarmos aqui, precisamos sair. Onde é a saída? Onde? - ele gritava, movendo os braços agitado.
Gamma chorava em um canto.
- Fui eu quem fez isso - ela disse, agarrada aos joelhos - eu derrubei tudo, eu te machuquei.
- Não. Eu estou bem. Vê, eu posso... eu posso me levantar - Haccu gemeu e abaixou-se de novo, fraco demais para se mover tão rápido.
Gamma olhou-o se sentar sobre as pedras novamente e perdeu as esperanças:
- Eu não vou conseguir - anunciou. Continuar a viver parecia impossível, um esforço tremendo e inútil.
- Temos que encontrar os outros, temos que achar todos.
Haccu se levantou, preocupado com o que podia ter acontecido no resto da caverna. Desde que caíram lá embaixo não havia visto mais ninguém. Pensamentos terríveis percorreram sua mente.
- Eles podem estar mal, podem estar machucados, sozinhos ou mesmo... - abaixou a cabeça e resolver correr. Precisava se mexer, gesticular, fazer qualquer coisa! Apalpou a rocha no escuro, buscando uma saída; cirulou pelos escombros gemendo por causa dos machucados no corpo - Nós nos separamos! Temos que achar todos, ver se estão bem. Não podemos ficar separados, de jeito nenhum; tem que haver algum lugar onde possamos nos reunir de novo.
Encontrou uma passagem na rocha e ia sair correndo para longe quando Gamma segurou sua mão.
- Não me deixe aqui. Por favor Haccu, não quero ficar sozinha; eu não consigo sozinha!
- Eu preciso... Você pode esperar aqui, eu prometo que eu volto. Aí a gente te ajuda, eles saberão o que fazer, eles também foram escolhidos. Eu prometo que volto.
- Não. Por favor, não. Eu não quero ficar sozinha.
Haccu olhou para a escuridão e quis. Um impulso ordenou ao seu corpo que fosse, que abandonasse, que corresse.
Por mais um instante ficou, e ouviu ela falar.
- Me faça um juramento. - pediu Gamma - Você era meu amigo quando éramos crianças, eu sei que posso confiar em você. Eu sei! E não há mais nada aqui; não tem mais ninguém que pode me ajudar assim. Estamos completamente sozinhos nesse buraco, e eu tenho tanto medo! Todos eles confiam em você; por favor, fique para me ajudar.
Haccu se abaixou. Ele estava preocupado, sem saber o que fazer, com urgência de correr para todas as direções; mas esperou que ela terminasse.
- Jure. Que enquanto eu precisar, como escolhida, você vai ficar do meu lado. Literalmente, ouviu. Eu quero que você não saia de perto de mim, que onde eu for você vai também - Gamma proclamou, com raiva de sua condição de necessidade. Seu antigo amigo era o único que podia ajudá-la.
Haccu abaixou a cabeça, um pouco contrariado. Era ela quem, costumeiramente, fugia e o deixava sozinho para trás. Mas precisava de ajuda. Estavam tão perdidos os dois! E onde ele precisava ir, será que ela iria também? Teriam que se seguir constantemente?
- Eu juro. Prometo que vou ficar... literalmente... do seu lado.
- Você está chateado com isso?
- Não, eu só... Não é nada.
- Fala! É sério, você jurou cara. Agora pode dizer tudo. O que você queria sair correndo procurando nesta escuridão?
- Eu queria encontrar Neyleen. Desde que caímos aqui em baixo... Eu não sei onde estão os outros, eu preciso muito encontrar todo mundo, e juntá-los de novo.
- E você está tão interessado assim na garota que te deixou e se casou com outro?
- Isso não é da sua conta.
- Sabe que você não precisa ser o herói o tempo todo. Tem que deixar as coisas acontecer; essas cavernas são fundas demais para que qualquer pessoa possa sair por aí andando. Você iria se perder.
- Eu fiz o seu juramento. O que você quer agora?
Gamma olhou pensativa para o chão - Normalmente eu sou a primeira a quebrar promessas e juramentos... Mas obrigada por ficar, por... Você sabe, por jurar de verdade.
- Eu falei sério. De verdade mesmo. Não vou sair de perto de você.
- Valeu Haccu. Por ser o único amigo que eu tenho.
- No mundo inteiro? - ele perguntou ironicamente.
- No mundo inteiro.
- E Myshba?
- O que tem Myshba?
- Ele é seu amigo também. E Mizudinie. Desde que salvamos aquele pirata no Forte ela vem gostando de você.
- Talvez eles gostem de mim. O problema é que eu não me importo. Eu... olha, não diz o que eu vou dizer para mais ninguém, ouviu?, mas; Eu às vezes prefiro quando as pessoas não gostam de mim, quando elas não querem saber nem de falar comigo.
- Isso deve ser muito solitário.
- Eu gosto de ficar sozinha.
- Ninguém gosta de ficar sozinho desse jeito.
- Escuta, estou começando a me arrepender do juramento. Você não precisa ficar tão perto assim, ouviu? Quem sabe só a uns cinco metros de distância.
Haccu sorriu no meio dos escombros. Gamma deu risada.
- Amigos então?
- Você jurou, hein. Nada de desistir agora.
- Não vou desistir. Porque você não pode acreditar nas pessoas?
- Que bonito. E piegas. É muito difícil acreditar nas pessoas: elas são todas mentirosas.
- Não doeria ter um pouco de esperança...
- Não doeria termos um pouco de comida, isso sim. Você não tem nada guardado aí, com você?
- Não. Karyn estava com a maior parte dos alimentos.
- Então você tem razão: temos que achar os outros! Quem sabe podemos procurar primeiro a sua... querida.. Neyleen.
- Eu gostaria que você não contasse isso para ela. Por favor.
- Claro. E eu também gostaria que você guardasse essa coisa de escolhida dentro da boca. Não precisamos dizer o tempo todo e para todo mundo.
- É claro que precisamos!
- Mas e se eu não quiser? Até onde entendi era eu quem decidia as coisas por aqui.
- Parece que vai demorar para sairmos dessa caverna...
- O que disse?
- Hm? Nada. Não era importante.

2 comentários:

Ozzer Seimsisk disse...

Eu gosto da Gamma...

Hm? A Neyleen casou com outro?

Pioux's disse...

me sinto um pouco gamma e acho que isso não eh tão bom XD