terça-feira, julho 31, 2007

Então vamos

- Não faz muito sentido para mim.
- He he, você que não entendeu nada...

quinta-feira, julho 19, 2007

Pás e mós

A névoa não a deixava ver a casa escura. O som do moinho funcionando era ininterrupto e ocupava toda a noite.
E, claro, aquele som de vento escuro.
Testrel andou bem devagarzinho, com medo de acordar os espíritos assustadores que saíam de noite. Ela sabia de cor todos os demônios: gigantes, lobos, fantasmas, duendes, kremlins, vampiros, mortos-vivos, bruxas, trolls. Tinha medo de todos eles.
A mó girando dentro do moinho quase parecia cantar uma canção assustadora, que fazia Testrel se agarrar mais ainda ao seu casaco pensando no que poderia atacá-la a qualquer momento.
- Por que saí de casa?, se questionou. Não tenho que ajudá-lo, posso muito bem voltar para minha cama e dormir quente e segura.
Mas de novo ela se lembrava do sonho.
Era muito, muito escuro enquanto ela sonhava, o que talvez fosse um reflexo do lugar cinzento e assustador em que ela morava. A charneca de Saltzen não era colorida, e muito menos agradável: todos os seus moradores conheciam a sobriedade da paisagem e atribuíam seu silência a ela. Eles, inclusive Testrel, quase não falavam nada durante o dia. Cozinhavam, plantavam, colhiam e coziam e total silêncio.
Só o moinho girando, girando e o vento escuro que varria as encostas de Saltzen.
Ocasionalmente em sua caminhada noturna, a jovem Testrel escutava um rangido de madeira vindo das casas da vila. Poderia ser alguém se movendo? Um espírito maldoso espreitando? A medida que ela se afastava de sua casa o som da respiração de seus pais dormindo ia desaparecendo e o som de uma certa casa rangendo ia tomando conta de seus ouvidos.
Pssou o caminho central, margeado por todas as casas da vila. Passou as árvores sem folhas, de onde se dizia que os corvos sonoros vigiavam as pessoas. Passou o moinho em seu rangido constante. E, por fim, passou o portão velho e quase oculto pela névoa que a levava direto para a casa escura. Logo o feiticeiro empoeirada estaria audível, em seu gemido doloroso e febril.
Testrel subiu os degraus escondidos pela sombra e empurrou a porta pesada. Apesar de se esforçar bastante, não conseguiu conter um altíssimo rangido das dobradiças.
Imediatamente escutou a voz do bruxo recitando seus elementos magicos.
- Mercúrio e Platina. Ouro e prata. Terra, fogo, água e ar. Os antigos sabiam, o conhecimento foi banido e o triângulo perfeito perdido. Mas sim, eles sabiam.
- Bruxo?, perguntou bem baixinho Testrel antes de entrar no aposento que funcionava como quarto da casa escura. Sou eu, Testrel. Posso entrar?
- Quem está aí? É a garota? Santo Deus dos bruxos, magos e alquimistas, como você demorou!
- Não estava conseguindo encontrar, respondeu baixinho, com vergonha do olhar zangado vindo do velho. A roupa dele estava mais suja do que nunca, cehia de poeira e marcas de tinta; Testrel nunca soube como ele se sujava tanto naquela casa abandonada, parecia que quando ela virava as costas ele se jogava no chão e rolava no tapete puído.
- Me dê, me dê, pediu o bruxo, de olhar ávido, estendendo suas mãos com unhas compridíssimas para a garota.
Testrel tirou do bolso uma pedrinha pequena e colocou-a nas palmas impacientes do velho.
- Tem certeza de que é está? ele perguntou. Procurou direitinho, como eu pedi?
- Sim, eu fiz o que você me pediu, palavra por palavra. Essa foi a que eu achei mais interessante.
- Seguiu direitinho minhas instruções?
- No começo achava que... disse Testrel intimidada pela curiosidade séria do bruxo. Achava que seria impossível, que era bobagem. Mas quando encontrei essa pedrinha eu entendi o que você quis dizer. Eu usei a intuição.
- Acha que era bobagem? zangou-se o velho. Pois saiba que este confiabilíssimo método foi estudado vezes e vezes na Academia Arcadiana e eu mesmo li os perdidos pergaminhos que relatavam o experimento Alântico quando eu era jovem. Me lembro de cada palavra e foi fielmente que reproduzi as instruções para você. Agora me diga, quero ter certeza: essa foi a pedra que você escolheu, que a sua intuição indicou com toda a força. Pois me diga se você tem certeza.
- Tenho sim senhor. Acho que é essa a pedra.
- Acho?! Pois não pode achar! O que foi que eu falei?! Tenha certeza, cer-te-za! É essa a pedra?
Testrel permaneceu parada, sem saber o que responder.
- Arriscaria a sua vida por essa pedra? perguntou novamente o bruxo.
O som do moinho moendo durou todo o tempo que Testrel levou pensando.
- Sim, ela disse por fim, Eu acredito que essa é a pedra certa e acredito que não me enganei.
O bruxo olhou-a desconfiado e guardou a pedra na palma da mão.
- Agora o feitiço está completo, ele sorriu, mostrando dentes terríveis.
Testrel esperou enquanto o velho falava sozinho e se levantava da cama quente. Esperou enquanto ele saía de cabeça baixa, com muito medo de que tivesse esquecido da promessa.
No meio dos resmungos o bruxo virou-se para ela e disse:
- Ah sim, nosso acordo.
- Eu gostaria que você trouxesse o Keter de volta, pediu Testrel.
O bruxo torceu a cara.
- Então está certo. Vamos até o velho moinho se é isso que você quer - E, com surpreendente agilidade para seu corpo velho e fraco, ele saiu pela porta e entrou na noite fria, balançando sua roupa agitado.
Testrel seguiu-o com um pouco de medo. Entraram no moinho rangente e passaram pelo moleiro, um velho que os encarou por pouco tempo e continuou em silêncio, como se nada tivesse acontecido.
O bruxo parou diante da mó e jogou pó de feitiço pelo chão. Disse as palavras mágicas que começavam todos os feitiços, em um língua desconhecida e melodiosa. Testrel teve muito medo quando ouviu seu nome entre as palavras, além do nome de Keter, se amigo.
A mó começou a emitir um rangido diferente, agudo e medonho.
Testrel começou a rezar, como sua mãe havia ensinado para afastar os fantasmas e maus espíritos. Talvez não tivesse sido uma boa idéia.
O bruxo esfregou a pedrinha nas mangas e nos equipamentos. O velho moleiro parecia ter desaparecido de lá, para não presenciar o sortilégio escuro.
Então, o moinho inteiro se encheu de uma fumaça colorida e de cheiro forte de ervas. O velho bruxo parou seu feitiço e agarrou a pedrinha em suas mãos, enquanto seu rosto empalidecia até ficar mais branco que cera de vela.
Diante de Testrel, a fumaça se transformou em uma linda e altiva mulher. Apontando seus dedos compridos para o bruxo ela proclamou em uma voz que demandava obediência:
- O que pensa que está fazendo velho paspalho?
O bruxo caiu de quatro no chão, desfiando desculpas. Testrel observou a Feiticeira com assombro e um misto agudo de admiração e medo.
- Não se preocupe querida - a mulher disse para ela - Esse tonto não irá fazer mais nada de ruim. Agora, porque você não me mostra onde arranjou esta pedrinha tão bonita?
Sua voz era tão agradável e tão deliciosa que Testrel não conseguiu conter um sorriso e segurou a mão da Feiticeira. As duas saíram para a noite escura, diante do olhar aterrorizado do bruxo. Era o olhar daqueles que se sentem injustiçados, mas que sabem-se fracos demais para reclamar para si.
O moinho estava silêncioso. Tão silencioso quanto o resto da vila, envolta na fria névoa do fim de março.

quinta-feira, julho 05, 2007

Penélope fala sobre Deus

Outro dia estava andando de trem, no último vagão, com aquela linda janela na parte de trás para ver a paisagem se afastando.
Na minha frente estava um pedaço de vidro, quadrangular e transparente. Não sei para que servia, mas estava entre o meu banco e a porta; devia ser para conter, ou separar.
Como era começo de tarde, os raios de sol iluminavam todo o interior do trem e fizeram do vidro uma superfície espelhada, onde se reuiniam visõs diferentes e sobrepostas.
Percebi que podia enxergar o que havia atrás de nós - árvores, pessoas, cidade passando pela janela - junto ao que podia ver dentro do trem - gente em pé ou sentada nos bancos brancos. Deste modo, um homem de paletó conversava no meio da rua, enquanto carros o atravessavam e uma mulher de roxo o apontava ao apontar uma porta. A tudo isso misturou-se a visão dos lugares para onde íamos, pela janela da frente do trem, vista através do curioso pedaço de vidro.
Pedestres cruzando a linha e bancos brancos embaralhados. A rua se dirigiam para a frente no mesmo lugar em que voltava. Pensei em Deus, que era ir e vir ao mesmo tempo, e que podia estar em diferentes lugares estando em um só. Em meu espelho se misturavam casas e prédios, construções incabadas sobrepostas a velhotes. Uma mulher estava dentro do trem e fora na rua. Percebi que além das três visões podia enxergar também a superfície riscada do meu vidro e meu próprio reflexo, a olhar entre carros e crianças.
Havia uma mulher - dentro e fora - que olhava para o lugar onde estava uma árvore, mas não a via, por mais que tivesse os olhos abertos e atentos. Porque a imagem da árvore só era visível pelo espelho, como se este fosse meu próprio Olho de Deus.
A mulher não via a árvore. Estava olhando para ela, mas não a via. É muito difícil conceber, em cada ponto do universo, todos os pontos do universo, sem a ajuda de um pedaço de vidro iluminado pelo sol.
Penso que todos os lugares que olhamos contém, invisíveis, casas, senhores, cachorros...

quarta-feira, julho 04, 2007

Profiles

I
Eu sou um pirata sonhador que quer escrever o Krystalian. E se eu fosse uma árvore eu seria uma Acácia. Meus superpoderes consistem em criar HQ insanas com personagens malucos e quase nunca terminá-las. Meu maior desejo: A Paz Mundial. Mas se alguém já tiver pedido isso eu queria uma namorada. Tenho 18 anos e estudo História para entender melhor o mundo e saber por que diabos os turcos invadiram Constantinopla. Defeitos: não sei cantar uma música com a palavra Ludmila e minhas piadas são ruins.

II
Eu sou um pirata interessado em descobrir segredos históricos e mundos novos além do mar. Estou mudando este profile porque a minha amiga Clara falou que sempre olha aqui pra ver se mudou. Como nunca muda ela fica meio com cara de idiota pelo trabalho todo de reler. Então, pra ela ficar feliz, eu escrevi tudo isso. . . Ah, e se eu fosse um animal eu seria um guaxinim.

III
Oi Claraaaa!!!! Eu sou o Charles e ontem eu descobri um segredo sensacional! Há um buraco debaixo da minha pia que leva até a China, direto ao palácio imperial, onde mora a princesa Xianping e o rei Shaoshao (acho que era um buraco temporal, já que eu fui parar no ano de 567 d.c., no meio da dinastia Han!!). Bom, agora eu tenho que ir, porque eu prometi à Xianping que ensinaria ela a subir em árvores e pular cercas com verdureiros loucos nos perseguindo. Só espero não encontrar nenhum dragão desta vez...

IV
Estou escrevendo qualquer coisa aqui... mas não importa!! Sabem por que?? Porque a Clara vai ler isso, não importa o que eu escreva!!! Clara boba... Clara louca... É isso o que o Charles é: uma coisa qualquer escrita, que a Clara vai ler. Nossa, nunca tive a minha vida definida em função de outra pessoa antes... É uma sensação legal. Claaaraaaa! (menção especial para uma certa Rainha do Gelo: Oiii Miiilaaaaa!!!!Yuhuuu!!! Olha eu aqui!)

V
Eu sou o Charles... Dã! Isso parece óbvio, até nos defrontarmos com um obstáculo epistemológico fundamental: Por que os esquilos gostam de nós? Por que é que esses simpáticos animaizinhos teimam em se aproximar de campistas, turistas, passantes e tantos outros? Será que vale a pena correr todo esse risco pela perspectiva esperançosa de receber alimentos? Durante anos os cientistas se indagaram acerca da amigável índole esquilar e cunharam um último veredito: A pergunta deveria ser outra, eles dizem, deveríamos nos voltar mais para o questionamento primevo: Ao invés de porque o esquilo gostar da gente, deveríamos estar nos concentrando no porque do nosso gostar pelo esquilo. É esse amor humano que cria a aproximação ingênua por parte do esquilo. Para outros, os cientistas menos respeitados, a razão é que os elefantes comeram todos os amendoins. Mas não se deixem enganar: eu sou o Charles. E não sou um esquilo.

VI
Eu sou o rei. Sim, acima da torre na montanha, naquele trono esquisito feito de ossos sou eu quem me sento. Até ontem eu era um "simples" cidadão, mas durante a noite - enquanto as pessoas comuns dormiam pesado - minha sociedade secreta, a Gothic Cathedrals, conseguiu terminar o seu trabalho que já durava anos. Matamos enfim as 100 pessoas que me separavam da linhagem direta do Reino Inglês. Sim, nada mais de Rainha Elizabeth, Príncipe Charles, Camilla Parker ou qualquer outro daqueles nojentinhos príncipes e condes que me atrapalhavam. Hoje são apenas caveiras em minha torre, um banquete para os corvos que voam e crocitam alegres a chegada de seu novo monarca. Agora o mundo inteiro ouvirá meu nome e tremerá nas bases com minhas ações. Nada mais será o mesmo, nada mais será como antes, nada mais, nunca mais!! Redam-se e curvem-se perante Charles Bosworth, o seu novo líder. E não se esqueçam: comentem em seu blog, ou senão... Huahuahuahuahua

VII
Hum... Quem sou eu? Acho difícil explicar, mas dá pra dar um exemplo: Outro dia o professor estava falando de Dom Quixote e disse que a cavalaria era uma coisa ridícula. E a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi um protesto veemente do tipo "Nada disso!". Não sei exatamente o que isso quer dizer, mas acho que vocês podem extrair algum sentido disso.

VIII
Eu sou tudo. Sou o espírito do vento que corre pelo gramal, balançando o trigo. Sou o tocador de flauta, no centro da mata escura e verde. Sou o tigre caçador e o coelho dócil. Sou fraco e tolo, mas também já fui pirata e bibliotecário. Não uso máscaras, pois não preciso; tenho vários rostos - Talvez nenhum verdadeiro.
Sou a espuma do rio. Sou historiador e viajante. E um dia eu vou escrever o Krystalian, contando todas as histórias do mundo.

IX
Eu sou um esquilo do mau e te odeio. Cai fora enxerido!

X
Eu não sei bem quem sou. Ao menos não agora. Quer dizer, eu sei exatamente quem eu sou, mas tenho preguiça de explicar e uma leve suspeita de que ninguém me compreenderia se eu tentasse.
Só sei que me encontrei em um desenho, de repente. Você me achou no meio do mar e me trouxe de volta para a superfície com o nome daquele navio. Percebi que você também se lembra de Kebbur, apesar de ter trocado a letra O pela D (o O tem a reta do lado direito). Valeu, eu acho. Eu sou aquilo mesmo. E desisto um pouco de explicar.

XI
Quando eu crescer eu quero ser várias coisas. Aí tá a lista:
Pirata, historiador, escritor, desenhista, condor, detetive, herdeiro da vontade de Ohara, explorador, sonhador, livreiro, vento, maduro, alegre, sábio, cavaleiro errante e o Teobolt

XII
Sou uma pessoa cheia de defeitos... Perco sempre no jogo do dedão, tropeço sem parar e só faço piadas ruins. No entanto, todo mundo diz que eu sou legal e divertido... Acho que o mundo pirou! ~Pipirupiru Pirooou!!~ (viu só do que eu sou capaz??!)

XIII
Eu acredito nos sonhos das pessoas; os desejos vão nos libertar. Acredito no ser humano e na vida. Sou um pirata tolo que vai escrever o Krystalian.

XIV
O Charles voltou! O terror infindável de sua magnífica incapacidade de contar boas piadas está novamente entre nós! Protejam-se! Fujam para as montanhas! Arranjem um nome falso e só saiam de casa usando aquele óculos-com-grandes-sombrancelhas-e-nariz-engraçado para se disfarçarem!! Nada escapará! ra-ra-ra.... Tudo será consumido! ido-ido-ido... Ele está de volta...

XV
Eu eu eu... Chega de falar de mim! vamos falar de vocês. Agora eu vou definir vocês: São pessoas que não tinham nada pra fazer e por isso resolveram bisbilhotar no site do Charles, apesar de nunca terem tempo de lerem aqueles textos tãão grandes, e toda vez esperam que ele tenha publicado uma piadinha curta o suficiente para que os seus cérebrozinhos cansados de tanto... - sei lá o que tanto vocês fazem! - possam entender. Sim, essa é a verdade: vocês entram aqui só pra rirem das bobagens sem sentido e assim fugir da solidão que é o mundinho perdido e vazio da internet. Esses são vocês.

XVI
Eu estou mudando este perfil porque amo meus amigos e adoro quando eles lêem tudo por aqui e comentam. Assim eu não fico tão monolótico e a gente se diverte. Sim, tudo por causa deles.

XVII
Eu sou a sombra do Charles. Quando ele dorme eu vou me esconder por entre as árvores do parque. Sabe aquele parque?, com as grandes lâmpadas brancas espalhando sombras por todos os cantos. Gostamos, eu e minhas companheiras sombras, de passear à noite por ali, e eventualmente assustar algum pedestre desavisado. Mas sem nunca nos revelarmos: o medo vêm da sugestão apenas. Pois é isso que fazemos juntas: não fofocamos sobre nossos humanos (pois isso não é nem interessante nem divertido; Vocês não são tão importantes para o resto do mundo quanto pensam), À noite nós sugerimos. Sussurramos para a noite coisas que gostaríamos que fossem ou caminhos que poderiam ter sido. Espreitamos a existência em seu decorrer cansado. Nós sombras somos mais espertas do que os homens pensam, pois somos feitas de vento e de noite, com um pouco de ilusão e sonho.

XVIII
Eu sou uma pessoa que adora Novembro. Gosto desse mês porque ele é a intersecção de estações, é quente e frio e gostoso ao mesmo tempo. Sem falar que o Vento Sul começa a soprar mais forte durante essa época. Novembro é o momento de se usar a imaginação e de refletir, já que o mundo da realidade se mistura com os sonhos. Por fim, a melhor parte desse mês é que foi nele que nasceu a pessoa mais doce que eu conheço: ...eu mesmo!! Não, brincadeira. Eu estou falando de você Mali, é claro.
Feliz Novembro para todos.

XIX
Pois a lua brilha lá fora, e daqui se vê a força do mar contra as rochas. O diabo que espere! O inferno não é aqui. Vamos seguir em direção aos tiros da pistola e erguer novamente a bandeira: os loucos que ousarem sigam-me! Não há mais nenhum anjo ao lado de vocês, só a caveira negra que ri. Fujam! Fujam! Pois pela manhã seremos livres.

XX
Eu sou um cara alegre... Desculpe, não estou conseguindo pensar em mais nada.

XXI
Era uma vez uma fonte de água que jorrava na grama, e havia essa garota que corria descalça para sentir a água nó pé. Ela sorria como se tudo brilhasse com luz e felicidade, como se o mundo fosse só sentir o frio da água e a grama macia no pé. E quanto mais Myshba olhava para ela, mais ele pensava que sorrir nunca lhe cansava, e que ele podia ficar ali a vida inteira, só olhando a fonte jorrando e escutando as crianças rindo divertidas. O que isso tem a ver comigo? Nada, enganei vocês. Isso é só uma história, não um profile... Agora, de volta ao trabalho!

XXII
Era uma vez um desejo difícil de ser expresso, que sorria com o vento e a música do abismo. Ele havia sido capturado pelo Palácio Oceâncio, mas os antigos subestimaram a sua importância e ele foi esquecido. Até hoje ele urge e dança nos corações jovens, pronto a levá-los ao fim do mundo, ao mistério último. Como a canção de Rebena Te Ra ou a moça que corre pela grama alta e sob o céu que encerra o dia mas ainda não iniciou a noite. Ele era o desejo de mundo, criado talvez pela própria Pedra Vermelha, que reúne em si muitos sentimentos diferentes e vozes desconhecidas. O que já foi esquecido pode retornar em sua voz; o que nunca será encontrado aparece sob sua forma; o que nunca saberemos ri em seus lábios. Enquanto isso, um cão late na noite, uma garotinha dá as mãos à fada e um deus dança nas estrelas que caem. Tudo do mundo, ou a parede onde se reunirá o Krystalian pelas mãos dos homens.
Esse é o peso das vidas que não podemos viver.

XXIII
Quando uma moça se senta no alto da colina para observar o lago, desejando que fosse um mar azul, um corvo voa perto da árvore sem nome afugentando os coelhos alegres que brincavam ali perto. Os patos são os únicos, Penélope, a nos fazer companhia nesse lindo dia iluminado sob a acácia. Que estranho sentir os desejos à flor da pele, prontos para dançarem loucamente. No entanto, essa espera é a sepultura; esse mundo é a cor do vento; essa história é na verdade outra: uma que nunca foi contada e que nunca pôde existir.


XXIV
Eu sou uma vez, aquela núvem macia e redonda que se espreguiçou no céu laranja, aquela criança perdida que seguiu a fada no meio da floresta, o dia em que o vento balançou o gramal e um ratinho do campo assustado fugiu para a toca, a descoberta de uma palavra empoeirada no livro velho e a torre triste que se move pela paisagem sonolenta. Ainda tento encontrar a porta que me servirá para te dizer que não tenho segredos assim, só várias histórias que precisam esperar chegar o tempo de serem contadas.


XXV
-


XXVI
Tenho que contar uma coisa. Acho que é hora de revelar certos esqueletos no meu armário: eu tenho - por favor, escutem até o fim - um esqueleto em meu armário. É sério, literalmente. Ele se chama Mr. Bones e diz ser um cantor; toda vez que quero me vestir tenho que enfrentar suas longas conversas sobre os tempos em que era jovem, navios se enfrentando e maldições terríveis. Ah sim, quando vivo, Mr. Bones era um pirata. Ele insiste em me contar as mesmas histórias várias vezes, para afirmar sua "piratez", o que está começando a ser um pouco enfadonho. Daqui a pouco, quando eu tiver que voltar para lá para vestir mais um casaco, terei que ouvi-lo narrar pela décima terceira vez o seu embate com o crocodilo gigante do Nilo. É por isso que não deixamos queijo no armário: atrai esqueletos cantores.

XXVII
Já viram o navio mais bonito do mundo? Um dia, navegando pelos mares aos pés da muralha verde da Serra do Mar, nós ouvimos um som diferente no vento. Eram vozes, eram lamentos? Os marinheiros ficaram assustados, na expectativa de algo a surgir. O capitão segurou firme o timão e botou os olhos a nordeste. Eis que aparece, quase voando, quase cantando, um navio feito da madeira mais bonita e resistente que já havíamos visto, cortando as águas como se fosse uma anjo nas nuvens. Era chamado de Azul. Suas velas, todas abertas como asas, sorriam para o sol e refletiam as luminescências marinhas; como se todos os brilhos das estrelas tivessem se reuinido ao redor do casco e cantassem para o espírito do mar. Tão rápido como veio, Azul se foi e sumiu no fim do dia. Estávamos todos assustados e contentes: uma das maravilhas humanas acabara de se apresentar para nós, vindo do lugar onde mora o sol.

XXVIII
Eu sou aquela pessoa ali. Sim, atrás de você! Olhe rápido! Muito tarde, já sumi.....

XXIX
Eu vi Donfur, o Rei dos Dragões, dourado-vermelho-azul-escuro-e-verde, voar pela janela e quebrar a sacada de rubi do Palácio do Sol. Ele rugia de satisfação após sua prisão de quase 500 anos e abriu as asas gloriosas por sobre a construção divina. Foi o Último Dia, quando pensávamos poder vencer o mal sem nos perdermos a nós mesmos; foi também o dia em que voamos nas costas dos mais magnífico dragão de todos, seu rei multicolor e furiosamente letal. Estávamos tão contentes! Por favor, não se esqueçam desse dia e perdoem as nossas falhas: somos movidos pela nossa vida, e é ela quem nos guia até o fim. Por isso voamos ao lado do Dragão e gritamos pelos desejos que esse Palácio guarda.

XXX
Tirando-se certos livros de minha estante encontra-se um buraco. Ele está lá desde que nos mudamos; eu só coloquei livros na frente, para disfarçar.
Um dia tive que ver onde dava o tal buraco. Engatinhei pela terra e pela poeira. Foi ficando escuro, escuro. Percebi que o túnel terminava em uma portinha, pequena e delicada. Sem outra opção, abri a portinha e me vi no meio de uma salinha de jantar, com pequenos guaxinins sentados à mesa, comendo sopa. Olhamos uns para os outros, sem saber o que dizer. A mãe guaxinim foi mais rápida e me convidou para entrar. Sentei-me em uma das cadeirinhas e agradeci a hospitalidade. Os guaxinins começaram a me fazer perguntas querendo saber tudo sobre humanos; ia respondendo como podia, achando tudo muito estranho. Logo estávamos todos rindo e contando piadas. Quem diria que dentro do buraco morava uma família de guaxinins? Até hoje vou visitá-los às vezes, e sempre que posso levo alguns vegetais e peixes. Eles adoram histórias engraçadas sobre humanos, por isso sempre que vou lá conto sobre vocês. Os guaxinins morrem de rir com nossas piadas. Tem até um guaxinim chamado Will que é seu fã, Clara. Vive me perguntando o que você fez dessa vez.

XXXI
O som do qual eu mais gosto é o de uma risada no meio de uma ventania noturna, em que se escutam folhas voando e roupas dançando sozinhas. E no meio você, rindo do medo e da lua, junto aos pássaros adormecidos e aos animais da floresta.


XXXII
Eu nunca fui à Esperança

XXXIII
Entrei no Café e sentei-me à mesa. Lá estava eu: de um lado o Pintor, esboçando algum sentimento no rosto humano; do outro o Filósofo, articulando sua fala ao mundo e buscando o projeto do Universo; mais à frente o Poeta, mais desconhecido, mais misterioso, e por infelicidade, a mais adormecida; uma mulher sedutora sentada no sofá baixo aspirava a fumaça; um grupo discutia animado. Este era o Café de Migorãn, capital do Reino de ... . Cores vibrantes em cada parte, panelas, cobres, jogos de chá e espelhos pendiam das paredes. Havia som, havia música e movimento no ar. No meio de tudo, encontrei-me por um segundo; foi uma ilusão perigosa, desapareceu qual fantasma. Ainda hoje procuro-me nas ruínas tristes e abandonadas. Há algo como saudades do que nunca existiu?

XXXIV
Seus olhos se fecharam. Havia visto tudo o que havia para ver.

XXXV
Um dia eu vou morar em um navio. Então aprenderei a navegar com o mar e aprenderei o mundo com as mãos e os pés. Haverá uma bandeira no topo do mastro, e em seu pano negro uma caveira, que é a força capaz de realizar os sonhos. Bons ventos me carregarão. E a todos que quiserem fazer parte deste bando.

XXXVI
Soprou o vento leste. Voaram as folhas de papel com instruções, tabuletas e desenhos que explicavam fielmente a estrutura do mundo e seus arquétipos, agora todas folhas inúteis. O símbolo da Estrela estava em todo lugar pela pequena biblioteca: sobre a porta, pendurado à janela e na capa do grande livro manuscrito que descansava sobre a mesa. O homem cansado sorriu diante do vento bricalhão que espalhava tudo e tirava o cheiro do pó dos livros. Por fim, tudo acabava ali.
Vejamos agora como tudo começou:

XXXVII
Meu lugar é o lugar do vento. Vejam se não é loucura: quero plantar árvores em meu navio e assim fazer uma floresta navegar. As raízes se alimentariam da água do mar e as copas da luz do sol, e poderíamos navegar sem sair de perto das folhas onde, como todo mundo sabe, mora o vento.

XXXVIII
Escutem!
As vozes de mundos esquecidos começam a falar...

XXXIX
Eu não conheço Sikri. Nunca atravessei suas gigantescas muralhas onde - assim se conta - estão enterrados os corpos dos inimigos do imperador misturados ao cimento. Também não fui ao Palácio da Água banhar-me nas piscinas onde se misturam os maiores perfumes, capazes de amolecer o corpo e retirar de um homem toda sua força. Mas fui aos seus bosques e conheci as árvores de Pagore, as maiores do mundo. E lá, onde Buda se sentou debaixo da figueira, conheci Tempestade, um senhor muito velho de barba muito branca que chamava água do céu. A dança que ele me ensinou naquele dia, a Dança do Trovão e da Fúria, seria a chave para minha entrada nas terras altas do céu. E de lá do céu eu conheceria todas as terras do mundo, inclusive Sikri,com seus Palácios e muralhas, para onde nunca fui.

XL
And the light of a fading star...

XLI
Não estou mais aqui.

XLII
Eu quero ser eu.

Para aqueles que achavam que Quetzalcoatl era um nome difícil.


Eu costumava ter problemas para falar Quetzalcoatl. Todas essas vogais juntas e a estranha letra "tl" que os mesoamericanos adoram usar (quase parece que não existe palavra em náhuatl sem ela).
Mas aí eu descobri: falar Quetzacoatl é fácil.
Não é nada comparado a Xiuhamatl (os anais mexicas), Teoamoxtli (as cosmogonias mesoamericanas), Altepetl ("cidades-estado") ou ainda Ixtlilxochitl (sobrenome de um cronista nativo).
Parecem complicados esses nomes, não? Quase um trava-línguas. Me pergunto se os povos que falavam náhuatl não tinham problemas; talvez eles achassem extremamente difícil dizer Fernando ou Espanha.
Agora, os nomes que eu acabei de citar são complicados em uma primeira visão. Aposto que muitos de vocês, depois de um treino rápido, conseguem falar facilmente Altepetl ou Teoamoxtli.
Mas não termina aí.
Desesperador era ouvir falar de um escritor mesoamericano chamado (veja só, ele queria complicar de propósito): Chimalpahincuahtlehanitzin.

Eu pessoalmente fico com Quetzalcoatl. Já estou até me acostumando com o "tl".

terça-feira, julho 03, 2007

Usando os Poderes

Mizudinie moveu os braços para frente e para trás mas não conseguiu controlar a água na parede.
- Não consigo. Só posso empurrar se a água for líquida, não tenho nenhum controle sobre o gelo.
- Então eu posso te ajudar - disse Foxy, afastando-a com as mãos. Uniu-as e assoprou calor no quadrado de giz marcado na parede.
- Mais uma vez - pediu Mizuidnie, sentindo o líquido escorrer.
Foxy empurrou uma segunda onda de calor contra a parede que amoleceu e sucumbiu. Mizuidnie moveu as mãos para fora, para empurrar aquele pedaço da parede para o outro lado. Estavam no Relógio, onde todas as pareder e superfícies eram feitas de gelo, muito sólido e seguro. Se agora derretiam uma parte do Relógio, era para impedir os homens lá embaixo de o queimarem inteiro, ao colocarem fogo nos muitos feixes de madeira arrancados da floresta de inverno, que estavam sendo enfileirados ao redor da estrutura.
Mizudinie sentiu a água líquida por dentro do gelo. Empurrou e puxou, empurrou e puxou e quebrou a barreira que separava os elementos.
O quadrado da parede se liquefez e caiu. Os quatro se inclinaram na nova janela e viram a água chover sobre a fogueira e apagá-la.
- Deu certo, - comemorou Haccu - Acho que vamos conseguir apagar o fogo!
- Faltam os outros lados - avisou Myshba - Temos que correr se quisermos chegar.



nota: ainda vou terminar. Deixa eu ter saco de escrever.

voz na sombra
A parede inteira se desolidificou e choveu por sobre os tocos de madeira incendiados abaixo, apagando as fogueiras.