Caminhavam em uma longa fila, logo no amanhecer.
Alguns levavam vassouras, outros pequenas mudas de plantas, flautas e tambores, muita palha chacoalhava à medida que andavam e seus trajes coloridos se destacavam do verde da colina e da neblina branca do começo de cada dia.
Conversavam, riam.
Pequenas gotas de orvalho pingavam de suas roupas.
E, claro, não podíamos deixar de lado as máscaras que usavam e eram exuberantes, engraçadas, amedrontadoras, fantásticas; um grupo inteiro de mascarados avançava alegremente por uma pequena trilha na grama úmida.
Seguiam para onde?
Nesta montanha, neste caminho?
Aos poucos um vale aparece. Nas casas, tão simples, eles já são esperados.
Começam a caminhar cada vez mais rápido e adicionam brincadeiras aos seus passos, pulos, cambalhotas, acrobacias, tudo o que permitem suas fantasias feitas de palha seca. Para que saibam que chegaram, começam a cantar sua canção e à medida que vêem as crianças correrem aceleram os passos.
Os adultos fecham as portas, trancam as janelas.
Não dá certo: eles são fortes e abrem o que foi fechado.
Os máscarados entram na aldeia.
As crianças fogem chorando, mas não podem escapar. Ali uma garota de vestido verde cai no chão e é amparado por um homem de máscara de dragão que a coloca sobre o ombro esperneando e chorando e logo os dois somem na neblina.
O homem da máscara de dragão volta.
E apanha outra criança; logo a confusão se instala na aldeia, pois aqueles que não fugiram ontem à noite não têm mais tempo de fugir e nem para onde ir, é como se os músicos e acrobatas soubessem de todos os esconderijos e fossem muito mais fortes do que qualquer porta de madeira ou de pedra.
A confusão se instala, é palha e cor para todo o lado e uma música terrível e assombrada não pára de tocar, as velhas choram porque já viram aquilo uma vez e sabem que é tudo rápido e estão certas, já se vê que os mascarados começam a sumir.
Desaparecem dentro da neblina.
Junto com as crianças.
Os homens armados de facões e foices ainda tentam recuperar o orgulho perdido, mas vêm que será inútil o esforço desperdiçado e logo desistem e se unem ao choro das mulheres. Em volta, é visível o estado catastrófico da aldeia, pois basta uma olhada rápida para se ver que sumiram quase todas as crianças, duas ou três sobraram apenas.
É tudo rápido e fatal.
E acontecerá de novo na próxima geração.
quinta-feira, novembro 06, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
E pra onde os mascarados velam essas crianças?
Postar um comentário