Rufus e Lancelot chegam à Florença e passam entusiasmado pelo grande portão principal. Nas ruas cheias de lojas e comerciantes, os dois se deixam levar pelas cores e ruídos, pelos aromas mais incríveis e pelos contadores de história.
Lancelot puxa Rufus para uma rua lateral e os dois conversam:
- Acho melhor guardarmos este casaco. Aqui ele chama muita atenção e pode ser visto por emissários do homem que nos persegue.
Rufus estava um pouco chateado de ter de se despedir do casaco de pena de ganso, afinal, ele havia se afeiçoado bastante a sua nova agilidade e equilíbrio sobre-humano.
- Onde podemos guardá-lo em segurança?
- Ainda não sei. Esta noite, quando a cidade estiver dormindo, irei procurar por um lugar seguro e por alguma pista do Peregrino Noturno. Não sei o que fazer para achar este ladrão de calendário...
- Você acha que os emissários do Vaticano já estão aqui?
- Talvez. Melhor investigar isto também.
Assim que a noite chegou, Lancelot pulou de telhado em telhado, explorando a cidade. Rufus esperava em um pequeno beco, examinando-se no espelho pela última vez.
O gato preto estava preocupado. Ele tinha que impedir o ladrão de fazer a troca com os homens do Vaticano, mas não sabia onde e quando o evento iria ocorrer. Seria ótimo se tivesse ajuda de Percival, embora neste momento, como saber onde o gato branco estava? Sem saber, os dois cruzavam seus caminhos nesta cidade, um desejando que o outro estivesse ali, cada um deles preocupado em avisar o outro de sua sobrevivência.
Tarde da noite Lancelot voltou. Rufus adormecera de leve por sobre umas caixas.
- Encontrei um lugar - disse o gato sorrindo. Guiando o rapaz pelas ruelas, ele chegou a uma portinhola onde se lia - indistingüível para os humanos, mas evidente para os gatos:
"Bar da Garça"
- Por aqui - disse Lancelot, entrenado no já conhecido recinto. Nesta noite, poucos animais se aventuraram fora de casa. Um par de cobras, um macaco, o mesmo colibri e só. Os outros clientes estavam assustados demais com o súbito aparecimento de um famigerado mercenário na noite anterior e não vieram.
- Ali está. Ele é quem pode nos ajudar: - Lancelot falou, apontando para um grande e robusto peru sentado no fundo - Boa noite, estou de volta. Este é o casaco de que lhe falei, queremos guardá-lo.
- Quem é este? - Rufus perguntou.
- Sou um tipo de banqueiro - disse o peru, com um sorriso no olho (pois ele reconhecia o casaco, ele mesmo havia escondido este objeto alguns anos antes. Mas o que houve com o homem chamado Ibsen Stark para ter perdido seu bem precioso?) - Ora, eu posso esconder qualquer coisa nesta cidade e mesmo que você apareça com um exército de tatus e cave por sete anos não encontrará o que eu escondi!
Rufus entregou o objeto com tristeza. Mas ele realmente chamava atenção. Andando pelas ruas esta manhã podia ver os rostos das pessoas se virando a todo momento para examinar o casaco de pena de ganso.
- Serei ligeiro - disse o peru com uma reverência - Esconderei isto muito bem. Podem voltar para pegá-lo a qualquer momento - e, diante do silêncio dos dois, não resistiu e perguntou:
- Mais alguma coisa?
Lancelot negou com a cabeça.
- Nem mesmo um... calendário ou algo assim?
Rufus deixou toda a surpresa transparecer. Lancelot, mais controlado, apenas puxou o florete e mirou o pescoço do peru.
- Ora, nesta época do ano, que diferença faz, morrer mais cedo ou mais tarde? É uma tragédia que você me considere seu inimigo...
- Vá falando: como sabe disso?
- Ora, sabe o que houve? Outro dia mesmo, um certo gato branco veio me perguntar de um gato preto e de um calendário e achei que...
Desta vez Lancelot deixou toda a sua surpresa aflorar.
- Percival! Ele está aqui?!
- Aqui, propriamente aqui, não. Bem, não sei mais. Vai saber para onde o levaram...
- Quem o levou? - gritou o gato, sem querer ameaçando mais ainda o peru com sua espada.
- Não se preocupe, foram amigos. Ele veio aqui ontem e foi atacado por um mercenário, um terrível mercenário, sabem como é... Todos tão felizes perto do natal, não sabem como é sentir-se ameaçado. Mas agora ele sabe, agora ele sentiu todo o terror desta época do ano... E está bem agora! - apressou-se em acrescentar - Eu avisei o Esquadrão dos Seis Focinhos e eles foram salvos.
- Esquadrão? - perguntou Rufus.
- Um grupo de coelhos que age nesta região. Eles estão com os dois.
- Eles?
- Ora, o gato branco e o porco.
- Fico feliz em saber que Pigmaleão sobreviveu também - disse Lancelot, guardando seu florete - Estou mais calmo agora que Percival está na cidade e que o capitão está bem depois de toda a calamidade que trouxemos para seu navio... Agora me diga, onde podemos encontrá-los?
- Um coelho passou aqui outro dia para me informar de tudo - disse o peru, alisando seu gogó - Não creio que eles voltaram para casa, mas ele me disse que eles estavam acomodados em uma estalagem das redondezas. Vale a pena procurar.
Lancelot imediatamente informou-se do endereço e, sabendo que o casaco de pena de ganso estaria seguro e poderia ser retirado a qualquer momento, puxou Rufus pela mão e sairam os dois pela portinhola.
Andaram apressados, esperençosos de reencontrar os amigos.
Pouco antes da estalagem, ainda na esquina da rua tranqüila, os dois pararam.
- Um leiteiro faz sua entrega - disse Lancelot - Vamos esperar que ele termine para podermos avançar. Não quero nada suspeito nos entregando...
Rufus acenou e se escondeu atrás da parede. O gato subiu no telhado e observou o quintal da estalagem.
Próximo à cerca, o leiteiro trabalhava devagar. Entregou um grande número de garrafas para a taberna da estalagem. Devia ser para todos os clientes que consumiam leite logo de manhã. O ar da noite estava muito fresco, muito convidativo para um gato.
Então, Lancelot viu uma sombra cruzar a rua. O leiteiro não vira nada, mas ele tinha certeza. A figura desapareceu tão veloz em uma das ruelas que o gato teve certeza de que nunca seria capaz de seguí-la, apesar de toda a sua vontade.
Pois ele tinha visto a sombra e era um gato ágil e sorrateiro. E ele teve certeza, apesar dos poucos instantes de surpresa que teve para olhar, que aquela figura era o vizir do Reino dos Gatos, o eminente Chacaunac.
terça-feira, dezembro 16, 2008
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