- Não se mova! - gritou um dos coelhos para Percival, enquanto os outros cinco pulavam sobre o cavalo e distraíam-no.
O coelho que gritara usava um par de óculos de vidros grossos e um cachecol de aviador. Ele se afastou do grupo e apontou para uma parede:
- Por aqui, por aqui, temos que escapar! - ele avisou. E, diante do olhar confuso de Percival e Pigmaleão, ele moveu um tijolo e, que surpresa! Uma passagem secreta se abriu naquele momento.
- Não vou nem pensar dessa vez - gritou Pigmaleão, entrando pela passagem escura. Percival ainda fez menção de olhar para o mercenário, preocupado com os coelhos que pulavam sobre ele e com seu duelo interrompido.
- Eles vão ficar bem! - gritou o coelho de óculos - Ande logo! É uma ordem.
Assim que o gato branco passou, o chefe assobiou e os cinco coelhos que imobilizavam o furioso cavalo marrom, pularam para o chão e sumiram rapidamente parede adentro. Quando o mercenário se recompôs, a passagem já estava fechada e os seus alvos desaparecidos.
Enquanto isso, em um túnel escuro, corriam os animais.
- E eu que achava que seria meu fim! - disse o porco - Achei que fosse virar torresmo, fosse me acabar nesse instante, fosse... sei lá o que eu pensei! Mas vocês nos salvaram.
- Muito obrigado - disse Percival, um tanto quanto lacônicamente.
- Não precisa agradecer - disse o coelho chefe - Meu nome é Da Gama e este é o famoso Esquadrão dos Seis Focinhos. Quando aquele mercenário saiu do Bar da Garça perseguindo vocês, o peru - conhecem o famoso banqueiro de animais? - nos chamou e pediu para salvarmos vocês.
- Não sei se precisava - resmungou Percival, correndo um pouco mais rápido pelo túnel - E onde este lugar vai dar?
- Nos arredores da cidade - disse Da Gama - Nós faremos o que pudermos para ajudar vocês. Afinal, nosso Esquadrão tem só um lema, não é rapazes?
E os outro cinco coelhos repetiram em uníssono:
- "Fazer o máximo de bem possível e o mínimo de mal possível".
- Exatamente! - exultou o chefe - E se vocês são os representantes do Reino dos Gatos, ficaremos mais do que felizes em servir sua missão.
- Então vocês podem saber de nossos problemas: - disse Pigmaleão animado - precisamos encontrar um calendário roubado do Vaticano há muitos anos atrás e que agora foi roubado dos gatos por um espião secreto e...
- O que houve com a nossa missão secreta? - disse Percival carrancudo - Achei que deveríamos guardar segredo!
- Mas estes senhores parecem confiáveis.
- E somos! - disseram os coelhos - Se vocês querem segredo, contem conosco para mantê-lo.
- Entremos por aqui - disse Da Gama, correndo por um túnel lateral - Faremos o que puder para reunir calendários, seremos seus ajudantes nesta missão.
Então Percival se animou.
- Mais do que isso - ele disse - Podem nos ajudar a encontrar meu companheiro? É um gato como eu, só que preto. Ele estava nessa missão consoco mas se perdeu em algum lugar no mar...
- Puxa vida, assim fica difícil! - disse Da Gama - Nós operamos mesmo aqui em Florença, mas se for te ajudar eu posso ativar as linhas comunicatórias coelhísticas. Em pouco tempo teremos todas as lebres daqui até a Pérsia procurando pelo seu amigo.
- Isso seria fantástico! - disse Percival, muito mais animado.
- Um calendário e um gato preto - pensou o coelho chefe - São estas as suas instruções para nosso Esquadrão?
- Sim senhor! - disseram o porco e o gato e Da Gama acenou para um dos coelhos que logo disparou por um túnel auxiliar e desapareceu na escuridão.
- Já nós ficamos aqui - disse o coelho chefe parando. Ele subiu uma pequena escadinha na parede do túnel e chegou à uma portinhola. Assim que a abriu, o ar da noite entrou debaixo da terra, fresco e perfumado - Aquele mercenário nunca vai encontrá-los aqui. Sabem que ele tem uma certa fama entre nós... Por isso quando o viu o senhor peru ficou preocupado. Quando as famílias de espiões foram extintas muitos mercenários desempregados passaram a fazer trabalhos para qualquer um. Entendam que é um pouco perigoso andar por aí hoje em dia.
- Posso imaginar alguém que nos quereria morto - disse Pigmaleão que, sem saber, acertava em cheio - Aquele homem de casaco de ganso adoraria ser o único a procurar o calendário.
Saíram do túnel no topo de uma colina. Ali havia um plantação de uvas adormecida e uma mesa de pedra, além de uma fantástica vista da cidade à noite.
- Por que não descansam um pouco agora que escapamos? - disse Da Gama - Acho que o mais seguro seria que fiquem aqui por um tempo. Até as coisas se acalmarem por ali.
- Mas não podemos deixar de procurar! - disse Percival - Como vamos descansar por alguns dias se o nosso prazo está ficando cada vez mais curto?! Nunca se sabe quando é preciso agir, quando será tarde demais!
- Entendo, entendo - disse o coelho - Mas por favor, se acalmem. Vamos decidir o que fazer primeiro...
E então contaram ao Esquadrão dos Seis Focinhos toda a sua história, tudo o que sabiam, tudo o que esperavam realizar com tão poucas pistas. Um outro coelho foi despachado para avisar os marinheiros que dormiam na estalagem e pedir a eles que se escondessem enquanto seu capitão não retornava.
- O melhor... - disse Percival - Seria se encontrássemos o traidor que roubou o calendário do tesouro dos gatos e descobrir para quem ele trabalha, com quem ele está envolvido e qual é sua relação com o homem do casaco de pena de ganso.
- Mas não sabemos nada sobre ele - Pigmaleão acrescentou desconsolado.
- Sabemos sim! - disse Da Gama, erguendo uma das patas - Ele é um gato. Só pode ser, não é mesmo? E se investigássemos todos os gatos atualmente fora do Reino dos Gatos?
- Não são muitos... - pensou Percival - Raramente obtemos permissão para vir ao mundo dos homens.
- Existem três gatos aqui mesmo em Florença - disse um dos coelhos e os animais se lembraram que haviam visto dois deles no Bar da Garça.
- Vamos atrás deles primeiro! - propôs Percival - Vamos investigar um a um e tentar entender este mistério.
- O traidor certamente é a chave para tudo isso - opinou Pigmaleão.
Da Gama acenou com sua pequena cabeça, enrolada no cachecol e nos óculos de vidro.
- Este é um mistério que me cativou - ele disse sorrindo - E não vou largá-lo enquanto não tivermos chegado ao seu fundo!
segunda-feira, dezembro 15, 2008
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