quinta-feira, dezembro 18, 2008

Os dias conjugados do Bebê e de sua Mãe

- O que o vizir do Reino dos Gatos fazia aqui? Será que ele soube do nosso contratempo marítimo e veio ver se a missão seria cumprida em ordem?
- Mas então por que ele se esgueirou daquele jeito? - Rufus perguntou.
- Quem sabe ele soube que Percival e Pigmaleão estavam aqui - disse Lancelot - E veio investigar por conta própria. Não encontrando ninguém ele fugiu, com medo de ser visto por olhos inimigos.
Rufus balançou a cabeça.
- Não sei se devo sugerir que nós encontremos com ele...
- Mas temos que avisá-lo que estamos aqui! - disse o gato.
- Mas você não disse que o Peregrino Noturno era alguém de dentro, alguém com grande informação sobre o tesouro dos gatos e acesso a ele? Você não acha... Um pouco suspeito que o vizir se encontre sem aviso aqui, nesta cidade, onde ocorrerá a troca?
Lancelot pensou durante muito tempo. Ele fora treinado dentro do Projeto Elizabeth para nunca desconfiar de seu líder e sempre fora leal aos princípios felinos. Por isso mesmo ele e Percival foram os escolhidos para realizarem esta missão: porque era absolutamente confiáveis. Depois de um longo tempo meditando, o gato anunciou:
- Estou cansado. Vamos procurar um lugar para cochilar.
Já amanhecia quando entraram no quintal da estalagem, os dois com muito sono e cansados.
Deitaram-se na soleira da porta e cochilaram juntos enquanto esperavam o lugar abrir. Amanhecido o dia, a porta se abriu. Era Florentina, a gorda e amorosa florentina, que saía para buscar o leite. Seu rosto se arredondou em surpresa ao ver os dois hóspedes que cochilavam na soleira.
Rufus se levantou devagar, esfregando os olhos e pediu um quarto para dormir. A moça sorriu e lhes apontou para dentro. Convidativa, fez com que se sentissem em casa e ofereceu um pouco de bolo e leite para comerem como desjejum. Lancelot, preocupado ainda, recusou a comida.
- Mas você é um gato muito bonito - ela falou, sem o tom de voz enjoativo que os humanos costumam empregar. Lancelot inclusive agradeceu com a cabeça - Se parece muito com um outro gato que veio aqui, alguns dias atrás. Só que ele era todo branco, e você é todo preto.
As orelhas do felino saltaram atentas. Então as informações estavam certas, Percival estivera aqui!
- Isso é uma coincidência incrível - sorriu Rufus - Pois estávamos jusatamente procurando por este gato branco! Será que ele está por aqui ainda?
- Não sinto muito - disse Florentina - Ele desapareceu outra noite. Acho que é assim - ela disse, dando de ombros e sorrindo muito tristemente, de um modo que fazia com que Rufus desejasse abraçá-la e consolá-la - Os gatos são tão independentes. Precisam de você só por alguns momentos.
E um choro começou no quarto. Florentina se desculpou e correu para onde estava o seu bebê. Rufus e Lancelot foram até o seu quarto e deitaram-se na cama.
Antes de dormir ainda escutaram os sons do dia começando. Algumas panelas faziam ruído na cozinho, os primeiros clientes apressados já chegavam, o marido de Florentina boçejava. E a mãe cantava para seu bebê.
O quarto apenas meio escuro, com as cortinas tentando afastar a luz. Rufus e Lancelot deitados na cama, escorregando pouco a pouco para o sono.
Florentina ninava seu bebê e, sem saber, ninava também os dois viajantes.
- Quer ouvir a história do Natal? - ela perguntava e a criancinha interrompia o choro para escutar.
- Há muitos anos, há muito tempo atrás, uma criança nasceu. Sua família estava viajando e não tinha nenhum lugar para descansar...
E então dormiram.

Nenhum comentário: