He comes transversal, the son of lie
A dip in the puddle, some blood in his thigh
So is the jackal preparing to die.
In the desert's morning, he comes hither.
No river to quench: the thirst is hidden
Bravely and foolishly. He turns inward:
Remember that night, fresh and starry?
The steps come near the injuréd quarry
In memory the jackal the gunner is staring.
terça-feira, junho 29, 2010
sexta-feira, junho 25, 2010
quarta-feira, junho 09, 2010
O Rei Paciente
Arathorn aprendeu um dia que seria rei. Entre as ervas queimando e a fumaça que produziam ele ouviu da boca do velho a profecia:
"Das trevas a luz há de vir...
... E o sem coroa há de reinar."
Agora que tudo terminou, é fácil contar uma história e dizer o que houve. Mas para Arathorn, naqueles dias, longos e cinzentos, o futuro era incerto e nunca se demonstrava com a precisão que ele queria.
Ele acordava muito cedo, muitas vezes nem dormia. Prestava uma atenção febria ao que seu pai lhe ensinava. Queria aprender o nome de todas as plantas, queria saber assoviar como todos os pássaros. Preciso aprender isso, pensava, para caso um dia venha a precisar. Aprendeu a calcular o calendário, e com isso aprendeu o tamanho de sua espera. Em dias que se intercalavam e formavam semanas. E semanas que, incompletas, formavam meses. E os meses, sempre doze, faziam anos. Arathorn andava atrás do pai e ouvia com máxima atenção os nomes. Às vezes, quando andava sozinho pelas florestas do norte, a cada passo que dava se punha o desafio de dizer um nome; e seu caminhar se tornou enciclopédico, enumerador, apontador do que via ao redor. Em pouco tempo conhecia tudo debaixo do céu.
Seu pai lhe deu uma espada um dia, em um gesto que somento muito mais tarde entenderia. Os filhos só compreendem os pais quando é tarde demais. A espada, quebrada, e ele suspeitou que algo no pai também. Este deu à Arathorn o resto da profecia, que às vezes recitava para si mesmo, quando a noite era escura, ou quando não parecia pensar em nada.
"Das trevas a luz há de vir...
...E o sem coroa há de reinar".
Essas duas linhas provocavam toda sorte de sentimentos em Arathorn. Às vezes era alegria, de uma espécia eufórica e confiante, sentida principalmente na época em que seu pai parou de levá-lo aos lugares, ele passou a explorar as terras ermas sozinho. Às vezes elas lhe davam melancolia, e ele pensava que havia ouvido baladas élifcas demais; comparava as grandes histórias de amor com sua vida, e sentia desespero.
Nada pareceu no lugar, por muito tempo.
Entre as ervas e os animais, dos quais conhecia todos os nomes, Arathorn esperou pela revelação, pelo dia em que pegaria a espada quebrada (e o lugar onde a escondera estava sempre voltando à sua memória; mais vezes a tinha visitado em sonho do que acordado), pelo dia em que teria que assumir um outro nome, um nome antigo, um nome ansiado, um nome que ele desejava dar às pessoas. Os vagabundos e viajantes daquela terra lhe inspiravam grande compaixão. Sentia sempre compaixão pelos homens, como se este fosse seu instinto natural. Não demorou muito para se apaixonar, e escolheu a mais bela mulher que encontrou, a que parecia mais digna de um grande destino. Ela, por sua vez, se encantou com algo indefinível em seu modo de andar. Ela nunca compreendeu o que era, ou porque aquilo beirava tanto o orgulho.
Seu filho nasceu. Deu a ele o nome de Aragorn. E pela primeira vez pensou, com uma certa estranheza, como se seu pensamente fosse incompleto, o que aconteceria com o bebê depois das grandes mudanças. Nunca pensou que não veria as grandes mudanças.
Agora é muito fácil dizer que ele esperou em vão. Mas em sua vida, Arathorn foi bravo e valente. Serviu aos homens e aos animais. Triste foi o dia em que percebeu que teria que passar a espada a seu filho. Pela primeira vez pensou que poderia não ser ele, como não havia sido seu pai, e que tudo o que poderia fazer era rezar que seu filho o fosse.
Se afastou dele enquanto ele crescia. Tinha lhe ensinado tudo o que sabia, todos os nomes, que perfuravam dentro de si como agulhas: todos nomes que não usaria nunca. Queria usá-los, queria levar as coisas aos seus lugares. Um certo conforto encontrou ao pensar em seu filho; ele seria o destino dos nomes, ele seria o fruto de uma vida de trabalho.
Arathorn passou seus últimos anos pensativo. Tentava entender o que lhe acontecera. Mais dias cinzentos se passaram, até que ele morreu em silêncio, sem palavras finais, sem despedidas, sem saber se cumprira ou não uma promessa. Sua esposa nunca ousou duvidar da existência de uma promessa. Mandou inscreverem em sua lápide:
"Das trevas a luz há de vir...
E em outra vida, os sem coroas hão de reinar..."
"Das trevas a luz há de vir...
... E o sem coroa há de reinar."
Agora que tudo terminou, é fácil contar uma história e dizer o que houve. Mas para Arathorn, naqueles dias, longos e cinzentos, o futuro era incerto e nunca se demonstrava com a precisão que ele queria.
Ele acordava muito cedo, muitas vezes nem dormia. Prestava uma atenção febria ao que seu pai lhe ensinava. Queria aprender o nome de todas as plantas, queria saber assoviar como todos os pássaros. Preciso aprender isso, pensava, para caso um dia venha a precisar. Aprendeu a calcular o calendário, e com isso aprendeu o tamanho de sua espera. Em dias que se intercalavam e formavam semanas. E semanas que, incompletas, formavam meses. E os meses, sempre doze, faziam anos. Arathorn andava atrás do pai e ouvia com máxima atenção os nomes. Às vezes, quando andava sozinho pelas florestas do norte, a cada passo que dava se punha o desafio de dizer um nome; e seu caminhar se tornou enciclopédico, enumerador, apontador do que via ao redor. Em pouco tempo conhecia tudo debaixo do céu.
Seu pai lhe deu uma espada um dia, em um gesto que somento muito mais tarde entenderia. Os filhos só compreendem os pais quando é tarde demais. A espada, quebrada, e ele suspeitou que algo no pai também. Este deu à Arathorn o resto da profecia, que às vezes recitava para si mesmo, quando a noite era escura, ou quando não parecia pensar em nada.
"Das trevas a luz há de vir...
...E o sem coroa há de reinar".
Essas duas linhas provocavam toda sorte de sentimentos em Arathorn. Às vezes era alegria, de uma espécia eufórica e confiante, sentida principalmente na época em que seu pai parou de levá-lo aos lugares, ele passou a explorar as terras ermas sozinho. Às vezes elas lhe davam melancolia, e ele pensava que havia ouvido baladas élifcas demais; comparava as grandes histórias de amor com sua vida, e sentia desespero.
Nada pareceu no lugar, por muito tempo.
Entre as ervas e os animais, dos quais conhecia todos os nomes, Arathorn esperou pela revelação, pelo dia em que pegaria a espada quebrada (e o lugar onde a escondera estava sempre voltando à sua memória; mais vezes a tinha visitado em sonho do que acordado), pelo dia em que teria que assumir um outro nome, um nome antigo, um nome ansiado, um nome que ele desejava dar às pessoas. Os vagabundos e viajantes daquela terra lhe inspiravam grande compaixão. Sentia sempre compaixão pelos homens, como se este fosse seu instinto natural. Não demorou muito para se apaixonar, e escolheu a mais bela mulher que encontrou, a que parecia mais digna de um grande destino. Ela, por sua vez, se encantou com algo indefinível em seu modo de andar. Ela nunca compreendeu o que era, ou porque aquilo beirava tanto o orgulho.
Seu filho nasceu. Deu a ele o nome de Aragorn. E pela primeira vez pensou, com uma certa estranheza, como se seu pensamente fosse incompleto, o que aconteceria com o bebê depois das grandes mudanças. Nunca pensou que não veria as grandes mudanças.
Agora é muito fácil dizer que ele esperou em vão. Mas em sua vida, Arathorn foi bravo e valente. Serviu aos homens e aos animais. Triste foi o dia em que percebeu que teria que passar a espada a seu filho. Pela primeira vez pensou que poderia não ser ele, como não havia sido seu pai, e que tudo o que poderia fazer era rezar que seu filho o fosse.
Se afastou dele enquanto ele crescia. Tinha lhe ensinado tudo o que sabia, todos os nomes, que perfuravam dentro de si como agulhas: todos nomes que não usaria nunca. Queria usá-los, queria levar as coisas aos seus lugares. Um certo conforto encontrou ao pensar em seu filho; ele seria o destino dos nomes, ele seria o fruto de uma vida de trabalho.
Arathorn passou seus últimos anos pensativo. Tentava entender o que lhe acontecera. Mais dias cinzentos se passaram, até que ele morreu em silêncio, sem palavras finais, sem despedidas, sem saber se cumprira ou não uma promessa. Sua esposa nunca ousou duvidar da existência de uma promessa. Mandou inscreverem em sua lápide:
"Das trevas a luz há de vir...
E em outra vida, os sem coroas hão de reinar..."
quinta-feira, junho 03, 2010
Encontro
Minha avó me deu alguns livros antigos que eram do meu avô. Dentro de um deles encontrei um papel, com um poema. Estava servindo de marcador para a página que falava de Samuel Taylor Coleridge (escritor de Kubla Khan). Pelo aspecto de interminado, e pela letra, parece um poema feito pelo meu avô.
(Ainda bem que uma semana antes eu tive aula de paleografia; ainda tenho dúvidas quanto a algumas palavras, e me pergunto se em algum lugar ele terminou os versos).
A escolha dos temas é surpreendente.
Vamos ver como ele se saiu:
"Under the wide and starry sky
Strike a name, with ashes lie
Glad did I live and sadly die
here he is where he longed to be
Home is the dreamer, home from the sea
[And the hunter home from the kill"
(Ainda bem que uma semana antes eu tive aula de paleografia; ainda tenho dúvidas quanto a algumas palavras, e me pergunto se em algum lugar ele terminou os versos).
A escolha dos temas é surpreendente.
Vamos ver como ele se saiu:
"Under the wide and starry sky
Strike a name, with ashes lie
Glad did I live and sadly die
here he is where he longed to be
Home is the dreamer, home from the sea
[And the hunter home from the kill"
quarta-feira, junho 02, 2010
Junções
Li um livro de Laura J. Hosossian, pesquisadora chilena da área de Letras. Nele, ela analisa os diários escritos pelos soldados que participaram da Guerra do Pacífico, (entre Chile, Bolívia e Peru) e tenta entender como a experiência da guerra e a noção de nação (que ainda nascia naquele momento) vão se desenvolvendo e tomando forma, a partir das experiências que os soldados viviam.
O que me chamou a atenção foi esse parágrafo, da introdução:
"No capítulo (...) a análise recai sobre um pequeno conto, cuja leitura leva a uma constatação importante: a batalha, o acontecimento em que a violência aparece formulada em todo seu apogeu, é enfrentada diretamente só pela ficção ou pelos livros de História, enquanto que os relatos de testemunho em primeira pessoa evitam-na e a contornam por caminhos oblíquos. A dor diante da ferida e da morte parece não ter cabido no discurso 'em carne viva', somente o distanciamento temporal permite sua elaboração que, na grande maioria das vezes, a incorpora no discurso eufórico do nacionalismo."
que me lembrou muito de uma passagem do último livro das Desventuras em Série. Como disse Lemony Snicket, descrevendo uma tempestade:
" É inútil para mim descrever como Violet, Klaus e Sunny se sentiram horrivelmente mal nas horas que se seguiram. A maioria das pessoas que sobreviveu a uma tempestade no mar fica tão abalada pela experiência que nunca mais quer falar sobre isso; portanto, se um escritor quiser descrever uma tempestade no mar, o único método de pesquisa possível é estar em um grande barco de madeira. Mas eu já estive em um grande barco de madeira com um caderno e uma caneta, pronto para fazer anotações caso uma tempestade me atingisse subitamente, e quando a tempestade passou eu estava tão abalado pela experiência que nunca mais quis falar sobre isso. Por essa razão é inútil para mim descrever a força dos ventos que rasgavam as velas como se fossem de papel e faziam o barco rodopiar como se fosse um patinador no gelo se exibindo..."
E do mesmo modo me lembrei da escritora escocesa que me disse:
"Contar uma história é sobreviver à ela."
Então, só podemos transformar em história aquilo que terminou. Talvez, poderíamos dizer, os que viveram a guerra e a tempestade não sobreviveram a esses acontecimentos, tão trágicos, tão intensos, e não puderam dar um sentido a isso. Ou seja, não puderam prender a experiência com palavras e colocar uma linha de sentido
O que me leva a pensar que a História não se trata de reviver o passado e suas histórias, mas pelo contrário, de enterrá-lo, terminá-lo, e prendê-lo a uma narrativa.
Poderia, claro, juntar outras coisas à essas idéias. Alguma sugestão?
O que me chamou a atenção foi esse parágrafo, da introdução:
"No capítulo (...) a análise recai sobre um pequeno conto, cuja leitura leva a uma constatação importante: a batalha, o acontecimento em que a violência aparece formulada em todo seu apogeu, é enfrentada diretamente só pela ficção ou pelos livros de História, enquanto que os relatos de testemunho em primeira pessoa evitam-na e a contornam por caminhos oblíquos. A dor diante da ferida e da morte parece não ter cabido no discurso 'em carne viva', somente o distanciamento temporal permite sua elaboração que, na grande maioria das vezes, a incorpora no discurso eufórico do nacionalismo."
que me lembrou muito de uma passagem do último livro das Desventuras em Série. Como disse Lemony Snicket, descrevendo uma tempestade:
" É inútil para mim descrever como Violet, Klaus e Sunny se sentiram horrivelmente mal nas horas que se seguiram. A maioria das pessoas que sobreviveu a uma tempestade no mar fica tão abalada pela experiência que nunca mais quer falar sobre isso; portanto, se um escritor quiser descrever uma tempestade no mar, o único método de pesquisa possível é estar em um grande barco de madeira. Mas eu já estive em um grande barco de madeira com um caderno e uma caneta, pronto para fazer anotações caso uma tempestade me atingisse subitamente, e quando a tempestade passou eu estava tão abalado pela experiência que nunca mais quis falar sobre isso. Por essa razão é inútil para mim descrever a força dos ventos que rasgavam as velas como se fossem de papel e faziam o barco rodopiar como se fosse um patinador no gelo se exibindo..."
E do mesmo modo me lembrei da escritora escocesa que me disse:
"Contar uma história é sobreviver à ela."
Então, só podemos transformar em história aquilo que terminou. Talvez, poderíamos dizer, os que viveram a guerra e a tempestade não sobreviveram a esses acontecimentos, tão trágicos, tão intensos, e não puderam dar um sentido a isso. Ou seja, não puderam prender a experiência com palavras e colocar uma linha de sentido
O que me leva a pensar que a História não se trata de reviver o passado e suas histórias, mas pelo contrário, de enterrá-lo, terminá-lo, e prendê-lo a uma narrativa.
Poderia, claro, juntar outras coisas à essas idéias. Alguma sugestão?
Frases
Shakespeare: "Não é preciso ser honesto, basta parecer."
Maquiavel: "Não basta ser honesto, é preciso parecer."
A primeira vista, a frase de Maquiavel parece ser a mais óbvia. Relutei um pouco em deixá-la por último. Mas, pensando bem, girando ela um pouco na cabeça, ela acaba aparecendo como a menos óbvia, a menos compreensível, a mais trágica.
Maquiavel: "Não basta ser honesto, é preciso parecer."
A primeira vista, a frase de Maquiavel parece ser a mais óbvia. Relutei um pouco em deixá-la por último. Mas, pensando bem, girando ela um pouco na cabeça, ela acaba aparecendo como a menos óbvia, a menos compreensível, a mais trágica.
Trocadilho 1
Acabei de ver uma charge muito bem bolada sobre a Guerra do Paraguay. Conta sobre como um soldado chamado Chico Diabo (supostamente) matou o ditador Francisco Solano López em Cerro Corá (sim! pelo visto essa é a origem do nome da rua).
A figura era um soldado, com uma lança, perfurando o "ditador malvado". O genial era a legenda que o pintor bolou:
"O Cabo Chico Diabo do Diabo Chico Dando Cabo."
Ha!
A figura era um soldado, com uma lança, perfurando o "ditador malvado". O genial era a legenda que o pintor bolou:
"O Cabo Chico Diabo do Diabo Chico Dando Cabo."
Ha!
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