O viajante tinha uma roupa colorida e ultrajante. Ao caminhar pela praça com notável segurança, expôs-se ao olhar dos homens e mulheres daquela magnífica cidade, que não permitiam que um estrangeiro demonstrasse mais cores e alegrias que eles mesmos, habitantes que eram da mais fabulosa cidade existente. Amanda era seu nome.
Com pequenas acrobacias e truques de prestidigitação, o viajante reuniu ao seu redor um grupo de curiosos.
- Vocês sabem, - ele perguntava - o segredo do Natal?
E todos sacudiam a cabeça, esperando por uma história.
Os olhos brilhantes do estrangeiro examinaram todos e, com um ou dois pulos, alcançou um detalhe arquitetônico na beirada do vitral da igreja. Ali sentou e moveu as mãos pedindo silêncio.
- Que audácia! - diziam os cidadãos - Pedindo silêncio para a praça mais encantadora da cidade mais magnífica do reino mais majestoso! Essa praça não fará silêncio para um estrangeiro qualquer; como abafar o ruído das conversas, dos vendedores, dos soldados e dos ladrões?
De fato, a praça continuava tão barulhenta quanto antes. Porém, o viajante de capa colorida pareceu satisfeito, como se houvesse acalmada um gigante com apenas um gesto. Pigarreou, olhou para a pequena platéia que o encarava e começou sua história:
"Um dia um senhor muito velho e muito pobre resolveu que, estando muito doente, deveria começar a repartir seus bens entre seus filhos. O mais velho ficou com o moinho, que servira o senhor com muito trigo durante todos esses anos. O do meio ficou com a casa, que tinha o teto firme e aconchegou-os por todo esse tempo. E o mais novo, por fim, sem ter o pai mais o que dar, acabou ficando com o gato preto da família.
Bravo por não ter recebido nada além de um gato, o filho mais novo colocou tudo o que tinha (inclusive o animal) em uma sacola e partiu para ganhar a vida. Quando já estava na metade da estrada sentiu a sacola se mexer e decidiu libertar o pequeno animal. O gato preto pulou para fora e murmurou distintamente: Ufa, ainda bem que saí dali de dentro!
O rapaz caiu no chão de tão assustado. Então é um gato mágico?
- Como assim?, respondeu o gato. Preciso ser mágico para falar?
Diante da confusão do rapaz ele resolveu explicar.
- De onde eu venho, do Reino dos Gatos, é muito comum e normal para os animais falarem, tanto quanto para você é normal escutar os humanos.
Ainda confuso o rapaz esticou um dedo e encostou no animal, para ver se era real.
- Estou aqui e falo muito bem obrigado, ronronou o gato, satisfeito com a confusão causada.
Os dois se sentaram na beira da estrada. Pois mesmo o gato preto agora assumia uma postura humana, e podia ficar de pé ou de joelhos cruzados se quisesse.
- E o que você está fazendo aqui? o filho mais novo perguntou. Por que morou na casa de meu pai esse tempo todo?, como é o Reino dos Gatos?, qual é o seu nome?
- Acalme-se - pediu o gato sorridente, pois os gatos amam que sejamos curiosos sobre eles, mas amam muito mais deixar-nos insatisfeitos com nossas perguntas - Vou explicar tudo em seu devido tempo. Por que agora não nos sentamos debaixo daquela árvore para descansar, você me pesca um peixe e eu te conto minha história?
O rapaz concordou com um aceno. Usou sua camisa como rede e pegou, à muito custo, um suculento peixe. Os dois se acomodaram debaixo da árvore, longe o suficiente da estrada para não serem interrompidos, mas próximos o suficiente para examinarem os viajantes.
O gato preto andava em duas patas e usava as mãos para comer o peixe como um humano - Faz tempo que não me estico - ele disse - Por sinal, respondendo a sua pergunta anterior, meu nome é Lancelot. Agora, se você não se importa, vou te contar minha história.
O filho mais novo - Rufus é o seu nome - agachou-se ao seu lado e olhou para o gato de um modo irresistível, de um modo que demandava uma narrativa interessante. Assim, o animal preto sorriu todo contente e começou:
"No Reino dos Gatos, de onde eu vim, existem pequenos conjuntos de felinos que cumprem missões especiais. Eu fazia parte do mais especial destes batalhões especiais: o Projeto Elizabeth.
Não tenho permissão para compartilhar com um humano informações tão importantes envolvendo a segurança e o mistério do Reino dos Gatos, mas o que posso te dizer é que nossas missões eram tão especiais porque envolviam viagens aos Reinos dos Humanos.
Mas eu não estava sozinho nessas empreitadas. Eu tinha ajuda de meu fiel amigo, o valoroso...
segunda-feira, dezembro 01, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
acaba aqui?!
ahhh!!!
hahahahahhahaa XD
Resolvi começar a ler suas hist'roias, mas, aah! só temos histórias sem fim!
enfim, como você escreve mais rápido do que eu posso ler, vou me esforçar bastante para ler tudo nas férias.
Postar um comentário